segunda-feira, 13 de setembro de 2004

Mão que nos guia?

Por acaso, no domingo encontrei este poema de Fernando Pessoa em um caderno meu antigo quando estava procurando alguma outra coisa. Gosto dele. Acho perfeitas as imagens que ele provoca, coisa que Fernandinho faz bem que é uma beleza. Enjoy it.


Súbita mão de algum fantasma oculto

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sono
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão noturna que me guia

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

Do livro Mensagem

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