terça-feira, 26 de junho de 2007

Aviso!

Eita, que esse país está pegando fogo!
Forte abraço.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Blogagem coletiva

Hoje, sexta-feira, 13 (que medo!), Dia Internacional da Imprensa, está rolando uma espécie de blogagem coletiva com o tema: Limpeza Pública. Quem quiser saber mais, vai lá no texto de 05 de abril ou aqui para saber quais outros blogs estão participando. Pois bem... aqui vai minha contribuição.


WALDIR, O MANSO

Senta que lá vem história. Se existe uma coisa muito fácil, facílimo até, de se identificar neste país, é político que leva o adjetivo de corrupto. Não é por acaso. Até porque os escândalos recorrentes e os personagens protagonistas fizeram com que o fato de se chamar político de corrupto se tornasse uma expressão redundante. Vamos combinar: eles são desacreditados perante a sociedade e a impressão geral é que legislam em causa própria. Sempre. Reajustam o próprio salário a taxas impensadas pelo trabalhador ou empregador brasileiro, aumentam privilégios a título de compensação pelo “duro esforço” que dedicam aos mandatos, dão-se garantias perpétuas. Mas não é só isso. A cada dia que passa, o brasileiro, esse cordial, sente-se impotente quando à luz dos fatos, políticos são absolvidos, quando não pelos próprios pares - eles protegem-se uns aos outros - pela Justiça. Escondem-se feito ratos por detrás da imunidade que o cargo disponibiliza. E a vida continua.

Cada cidade, cada estado tem o seu político consagrado. São pessoas que dominam a arte de enganar e manter-se eternamente no poder. São profissionais. Nesse sentido, o Brasil conhece bastante o mais famoso político baiano, chamado carinhosamente de cabeça branca ou painho. Tanto faz. Porém, apesar da obviedade, ele não é o meu escolhido. Mas, sim, seu maior adversário: Waldir Pires, O manso. Não, minha gente, ele não é um político corrupto. Mas, infelizmente, será o meu escolhido para este dia.

- Não se preocupem. Estamos nas mãos de Deus

Na verdade, Waldir Pires é um injustiçado. Por isso, o que trago à tona não é sua figura política, mas sua atuação na crise do “apagão aéreo”. Ele está sendo uma figura importantíssima para Lula, que tem a característica reconhecida de deixar aliados no famoso banho-maria, queimando, queimando em público. Depois, livra-se das peças fulminadas e sai ileso das crises. Bárbaro o nosso presidente, não? Recentemente, disse Lula: “O problema dos controladores não pode ser debitado exclusivamente na conta do Waldir. Ele é um homem de 80 anos, com importantes serviços prestados ao País". É verdade!

Quem, além de Waldir, o manso, seria capaz de sustentar uma crise por seis meses? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de representar um ministério que não tem nenhuma função real? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de não incomodar as aves-de-rapina que comandam as Forças Armadas? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de ser submetido a duas horas de entrevista e não dar nenhuma explicação plausível sobre a crise aérea? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de fechar os olhinhos enquanto fala, balançar a cabeça mostrando irritação com uma pergunta mal-criada e responder que estamos nas mãos de Deus?

Reconheçamos que nenhum político neste país seria capaz de segurar esta crise de maneira tão magistral. Imaginem a situação culinária: existe uma grande batata quente na sua mão. Você sabe que ela é quente e não vai esfriar a curto prazo. Todo mundo vê que sua mão queima. Não só vê, como sente a batata queimando também na sua pele. Mas você, como autoridade, sabe que, se disser que a batata está quente, vai criar pânico nos outros e, mesmo assim, ela continuará quente. Não há nada a fazer de imediato. Porém, o que você diz? Fala que não está acontecendo nada, que a batata está normal e que foi só uma mudança climática passageira.

- Eu sempre digo: Waldir Moleza!

Apesar de sua história política irretocável, Waldir até hoje sofre por um erro estratégico cometido aqui na Bahia. Eleito governador do estado em 87, derrotando o grupo do arqui-inimigo ACM, dois anos depois ele renuncia e decide particiar da chapa de Ulisses Guimarães para a presidência da República. Seu gesto foi compreendido como um péssimo cálculo político e falta de competência. Com isso, abriu espaço para que os carlistas retornassem ao governo do estado e permanecessem por 16 anos (!), até serem derrotados na eleição de 2006 por Jacques Wagner, o galeginho dos zóio-azul. Vejam o post de 04 de outubro.

Lula não irá dispensar os serviços de Waldir tão cedo. A indignação das pessoas está focalizada nele, o que é natural. O presidente vai esperar a batata esfriar para depois retirá-lo do cargo com dignidade. Mas, a mancha na carreira política não será esquecida tão cedo. É triste ter que admitir que políticos considerados honestos são colocados no mesmo balaio que a maioria despreparada e interesseira. Porém, tudo isso acontece porque cargos do governo são loteados entre os partidos e amigos políticos e costuma-se colocar como gestores pessoas que até então não tinham nenhuma intimidade com o assunto. Além de Waldir e tantos outros, cito o exemplo de Marta Suplicy, a ministra do Turismo. O que ela tem a ver com o turismo? Só o Lula e o PT sabem. Talvez, eles acreditem que ela é capaz de combater o turismo sexual, outra praga nacional. Afinal, ela é sexóloga, não é verdade?

PS: Ah, e não esqueçam. Segunda-feira, tem mais um capítulo da tragicomédia "Olívia no país das maravilhas", uma carioca fã de Caymmi que decide morar em Maracangalha, na Bahia, para encontrar seu eu. Ela não é Dante da Divina Comédia mas, para conseguir o que quer, precisa passar pelas agruras de um inferno tropical.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Romariomania II

Ou: O outono de Romário

Definitivamente, o baixinho precisa de um banho de folhas. Urgente, minha gente! Ele não consegue marcar o tal do seu "milésimo" gol. Aliás, nenhum gol, coitado. Como dizem os evangélicos: - ele está amarrado! Já comentei aqui, no dia 27 de março, a respeito da grande expectativa da imprensa nacional, particularmente da Rede Globo, em torno desse gol. Será que jogaram mal olhado no baixinho?

- Ai, tenho que tomar um passe!

Ou seja: mais contrangedor do que assistir a outro jogo (um "jogaço", segundo Galvão Bueno e afins)em que Romário, 41 anos, não fez nada (quarta tentativa do milésimo no Maracanã) e ficou, como sempre, somente à espera de um passe milagroso, foi ver um bando de jornalistas carniceiros para lá e para cá dentro do campo, todos querendo filmar, fotografar ou entrevistar o baixinho. Foram cerca de 20 minutos antes do juiz iniciar a cobrança dos pênaltis. Ficou feio porque, minha gente, não existiu, naquele momento, nenhum fato relevante. O atacante, agora, terá de aguardar pelo menos um mês, ou um amistoso marcado pelo Vasco, para alcançar a sua marca histórica. Já que ele só quer fazê-lo no Maracanã. Enfim...

E nessa brincadeira toda, que já dura dois meses, o Vasco é que vai descendo a ladeira. A demora para o milésimo sair abriu uma crise no time. Jogadores e o próprio técnico Renato Gaucho não escondem de ninguém que o fato está atrapalhando o time. Para não criar caso, a diretoria impôs uma tal "lei do silêncio". Ninguém fala nada. Pois bem... ontem, depois de uma partida onde foram marcados oito gols, quatro de cada lado, o time de São Januário perdeu para o Botafogo por 4 a 1 na decisão por pênaltis. Foi eliminado da final do campeonato carioca. No início do mês, o time foi também caiu fora da Copa do Brasil. Tristeza não tem fim...

- E, esse gol, quando é que sai?

A VolksWagen agradeçe. A empresa nunca deve ter visto tanta mídia espontânea (brincadeirinhas de duplo sentido, claro) com seu produto-chefe de vendas: o Gol. Danielicius torce para essa agonia de Romário acabe logo. Para que a nossa também termine. E pensar que Pelé fez o milésimo antes dos 30...

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Olívia no País das maravilhas - Parte II

Ou: Olívia quer chorar, mas não consegue.

“Como assim não tem lugar?”, gritou Olívia indignada.
A atendente repetiu a frase pausadamente: “Senhora, não temos mais lugar no vôo deste horário para Salvador. O avião está lotado.”
“Mais eu comprei a passagem, ô garota”. Olívia pega o comprovante do número do vôo que imprimiu em casa e mostra para a atendente. “Filhinha, tá aqui. Você não sabe ler, não? Você acha que eu acordei neste horário miserável para não embarcar, hein? Eu comprei a passagem, logo, devo embarcar. Devo, não: eu vou embarcar! Tenho compromissos inadiáveis na Bahia, entendeu, i-na-di-á-veis!”
“Senhora, o vôo foi muito procurado pelas pessoas. Por isso, efetuamos o check-in para aquelas que se apresentaram primeiramente ao balcão”, disse mecanicamente a atendente.
“Mas que porra é essa! Você está me achando com cara de palhaça, garota?”, perdeu a paciência Olívia. Outros passageiros que estavam também com vôo para Salvador começaram a se indignar e a confusão começou.
“Senhores, infelizmente não posso fazer nada.”

- Onde está Olívia?

“Isso é uma vergonha”, disse uma senhora, aparentando uns 40 anos, toda maquiada (parecia que queria esconder a idade. Parecei, não: queria!) e com porte de grã-fina do Leblon (mas, como todos ali, comprou passagem de 50 reais). Ela carregava no sotaque carioca e abusava dos trejeitos de quem toma muita pinga. Estava meio alta. Ao estilo “rodar a baiana” ela, enquanto falava, sacudia o braço direito, apontando o dedo indicador para cima. O braço esquerdo estava na cintura, formando um bule. “Mas que bagunça é essa. Estou aqui nessa porqueira de fila há quarenta minutos e só agora vem dizer que o avião está cheio. Vocês acham que eu tenho cara de idiota, é? Eu vou chamar meu filho advogado!”. Pega o celular na bolsa.
Um homem começou a bater com a palma da mão no balcão. “Falta de respeito! Isso é uma falta de respeito”, gritou.
Os atendentes viraram estátua.
“Eu tenho uma reunião amanhã em Salvador”, continuou o homem. Estava exaltado, com absoluta certeza. Acreditem. “Quem vai pagar a diária que eu vou perder no hotel onde fiz a reserva, hein?”
“Vergonha, vergonha. Bando de vagabundos”, gritou alguém que eu não identifiquei, tamanha bagunça. Minutos antes, chegou um grupo com cerca de 30 adolescentes da CVC. Iriam para Porto Seguro. A cada palavra exaltada, eles interferiam com gritos, palmas, “uhus”, “aeeeeessss”, etc.
Estátua.

Ao ver sua mulher na confusão, Zeca correu para o balcão da companhia para ver o que estava acontecendo. “Isto aqui é o fim do mundo. Eu vou chamar o PROCON!”, praguejava Olívia, quando Zeca chegou e a puxou pelo braço. Tirou do bolo de gente.
“O que foi, Olívia?”, perguntou Zeca. “Por que tanta gritaria?”
“Esses filhos de uma puta sem dono não querem me deixar entrar no avião, Zeca!”, disse, abraçando-o. “Venderam mais passagens do que o número de assentos do avião. Quem chegou primeiro, embarcou. Um absurdo!” Olívia queria chorar, mas não consegue.

“E agora, o que eu vou fazer, Zeca?”, perguntou, ainda abraçando-o, desamparada.
“Vamos voltar pra casa”, disse, alisando o cabelo da mulher, torcendo para que ela desistisse de ir para a Bahia. Torcendo para que a confusão aumentasse e a impedisse de deixá-lo.
Olívia tirou a cabeça do ombro de Zeca, afastou um pouco o marido, olhou nos seus olhos e disse: “Jamais!”

De repente, um homem da companhia apareceu, ladeado por seguranças. “Senhores, senhores. Por favor, acalmem-se!”
“Acalmar é o caralho! Eu quero viajar”, gritou alguém. Os adolescentes vibraram.
“Por favor. Vamos providenciar outro vôo para acomodar os senhores. Pedimos a compreensão de todos para fazer uma fila e efetuar um novo check-in”, explicou o homem.
“E para quando é o vôo?”, perguntou a senhora maquiada do Leblon.
“O mais rápido possível”, disse o homem.
“Quando, filhinho?”, perguntou novamente com as mãos na cintura.
“O mais rápido possível, senhora. Agora, por favor: vamos fazer uma fila”, pronunciou o homem.
Pronto, foi o suficiente para uma nova confusão. Enquanto uns queriam resolver seu problema e suplicavam já impacientes “gente, vamos organizar uma fila!”, outros queriam reclamar os seus direitos. Gritavam: “Isso é um absurdo!”. Outro detalhe: quem chegou primeiro? quem ficaria na frente de quem? A confusão levou mais de uma hora. Por isso, Olívia pediu para Zeca ir para casa descansar. Ele não queria. Ela o convenceu, argumentando que tinha que trabalhar às 8 horas e já eram quase cinco da madrugada. Ele foi. “Qualquer coisa, me ligue, viu, querida?”, disse, despedindo-se.

Olívia efetuou o check-in, assim como os outros passageiros. Estava esgotada. Comprou um lanche e foi sentar-se. Os adolescentes da CVC, derrotados de tanta energia gasta, deitaram-se no chão mesmo, uns sobre os outros. Ao lado de Olívia, sentou-se a senhora maquiada do Leblon.
“Ai, minha filha, não tenho mais idade para isso, não”, comentou.
Olívia balançou a cabeça positivamente e continuou comendo.
“Dá saudade o tempo em que eu viajava pela Varig. Não existiam esses horários malucos, não é verdade? Mas, como tudo que é bom acaba neste país por nossa própria incompetência, não é mesmo?, fazer o quê, né? Nunca seremos primeiro mundo”, desabafava. “Ah, e por falar nisso, me chamo Marina”, disse, estendendo a mão para Olívia.

Marina pintada. “Caymmi novamente em sua vida”, pensou Olívia enquanto retribuía o aperto de mão da outra. “Muito prazer, meu nome é Olívia”.
“Você vai passear em Salvador?”, perguntou Marina. “Dizem que os dias estão bonitos. Um calor...”
“Não, vou para Maracangalha”, disse. Mas, pelo olhar espantado da outra, Olívia achou melhor continuar falando. Sempre achou que os desconhecidos são ótimos para compreender nossos problemas. “Não sei o porquê, mas acho que tenho que fazer algo por lá, uma espécie de missão. Como sou fã de Caymmi - sempre fui -, em um sonho recebi esse recado. Sabe, aquele tipo de coisa que você tem que resolver senão não tem sossego?”
“Sei bem, minha filha. Eu bem sei...”, disse Marina. “Eu mesma, por exemplo. Estou voltando para Salvador para encontrar meu grande amor e resolver uma pendência que já dura vinte anos. Triste de quem ama e não perdoa, minha filha. O tempo me ensinou isso do pior jeito. Essa é a verdade. Vou lá, pedir para que ele volte aos meus braços”
“Nossa, vinte anos...”, espantou-se Olívia. “Eu estou casada há três”.

- Zzzzzzzzzzzzzzzz!!!!

“Sei que vão zombar de mim, sei que vão falar de mim: ‘uma mulher correndo atrás de um homem?’. Mas não me importo... Vem cá: não estou incomodando com minha ladainha, estou?”
“Não, acho que teremos muito tempo aqui”, brincou Olívia.
“Tive um filho com um baiano, minha filha. Aliás, cá pra nós, parece que todo mundo dá pra baiano e tem um filho. Até a Cássia Eller, que Deus a tenha. Ai, ai...”, suspirou. Olívia deu risada. “Me pegou de jeito, o nego. Depois, me disse que queria aproveitar a vida, que não queria se prender... aquelas coisas de homem cafajeste. Veio com a conversinha de que eu era a federal, que não me largava por nenhuma. Mas o vagabundo não podia ver um rabo de saia. Não agüentei e falei: ‘Saia, desapareça da minha vida!’. Ele até que tentou voltar, chorou, jurou. Mas, quando a gente é jovem, o orgulho se impõe e as palavras, muitas vezes, não provêm do coração, não é verdade?”, perguntou Marina.
“Hum rum”, concordou Olívia.
“Quando foi esse ano me ligou, dizendo que não me esqueceu. Nunca. Bem... já se passaram vinte anos sem eu ver seu rosto, sem olhar seus olhos, sem beijar os seus lábios. Você não sabe como foi grande a pena que sentiu a minha alma ao recordar que ele foi meu grande amor, Olívia”, disse Marina “Recordo que nos encontramos junto a uma fonte lá na Lagoa do Abaeté, conhece?. E alegre foi aquela tarde para nós dois. Recordo quando a noite abriu seu manto e o canto daquela fonte nos envolveu. O sono fechou meus olhos, me adormecendo. Senti sua boca linda a murmurar: ‘Abraça-me, por favor, minha vida’. E o resto do romance deu no que deu*.”

“Que lindo, Marina. Somente o tempo pode revelar o lado oculto das paixões”, disse Olívia, não acreditando muito nas palavras que acabou de proferir.

SENHORES PASSAGEIROS DO VÔO 2684 COM DESTINO A SALVADOR, DIRIJAM-SE AO PORTÃO 06.

“Ai, Jesus, é o nosso vôo. Qual é o seu assento?”, perguntou Marina.
“05 F. E o seu?”, perguntou Olívia
“Ohhhhhh, vamos nos separar, minha filha. O meu é 21 C. Mas, vamos”, disse Marina. Enquanto se encaminhavam para o embarque, Marina falou. “Não podemos perder o contato. Quero saber como será você toda bonita lá em Maracangalha”, riu.
“Eu também, Marina. E eu quero saber como será esse reencontro, hein?”, sorriu Marina.

No avião, já acomodada (ela correu para não ser barrada novamente), Olívia percebeu que algo estava errado. Teve a impressão que tinha gente demais na aeronave. Mas não era impressão: realmente tinha. Não é que a companhia enfiou 30 pessoas a mais no vôo 2684? No entanto, só perceberam o vacilo na hora da decolagem. Os coitados dos comissários tiveram que rebolar em função do apuro. Um corre-corre para lá, conversa com o comandante para cá. Não podiam decolar com passageiros a mais. O que fazer? Com a confusão já instalada – afinal, algumas poltronas tinham dois, três donos e a merda já estava feita – ele receberam a instrução de convencer pelo menos duas dúzias de voluntários a abandonar o avião... nem que fosse à força (de expressão, lógico).

Iniciou-se, então, uma espécie de leilão às avessas. Para que alguém resolvesse deixar a aeronave, por livre e espontânea pressão, os comissários anunciaram que ofereceriam R$ 200,00 para quem voltasse ao aeroporto.
“Em dinheiro?”, perguntou um passageiro.
“Não, senhor. Em crédito junto à companhia”
“Nem fudendo”, disse um passageiro.
“Não quero nem saber. Eu não vou sair daqui”, disse uma mulher.

Confusão. Uma criança de colo começou a chorar. E outras duas foram contaminadas. Abriram o berreiro.Todos falavam ao mesmo tempo. Apesar disso, a voz de Marina podia ser ouvida por toda a aeronave. “Isso é um desrespeito. Bando de irresponsáveis”. Ficaram neste sai não sai por pelo menos duas horas. Alguém chamou a comissária de puta. Ela saiu chorando, coitada. Alguém passou mal. Teve que ser atendido. Por fim, a companhia, por meio do comandante, anunciou que distribuiria viagens de ida e volta para qualquer lugar do país!
“Qualquer lugar”, perguntou um.
“Qualquer lugar, senhor”, disse o comandante.
Desespero total, geral e irrestrito. Muitas piadinhas. Muitas palavras de protesto. Quem achou vantajosa a oferta disse que só sairia de lá com um documento assinado. O documento chegou. O povo saiu. Às dez horas da manhã o avião, enfim, decolava para Salvador.

Parte III: Oliva passa uma tarde em Itapuã

* Fala inspirada na música Dez Anos, de Rafael Hernandez e Lourival Faissal, interpretada por Gal Costa em Gal Tropical.

Copyright: Danielicius. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Olívia no país das maravilhas - Parte I

Ou: Olívia segue seu coração
Ou: Apresentando Olívia

Olívia, carioca da Zona Sul, estava meio que “bolada” com a existência pequeno-burguesa que estava levando. E a merda disso tudo é que começou a ter crises de ansiedade. Assim, do nada. Não tinha grana, é verdade. Mas levava uma vida, digamos assim, na medida do possível confortável. Fez o impossível para morar naquele quarto e sala no Leme. Apesar de formada em teatro e de sua determinação em tornar-se atriz - quem sabe, da Rede Globo -, o que ela conseguiu mesmo foi um emprego como secretária em um escritório de advocacia. Teve de trocar as roupas alternativas pelas de executiva e também “amansar” o cabelo castanho de leoa, que encantou rapazes em sua adolescência. “Tá foda”, lamentava-se.

Era casada com José Carlos, o Zeca, funcionário do Banco do Brasil há três anos. E um de seus maiores prazeres era ouvir Dorival Caymmi. Depois, o chopp. A praia. A balada. A maconha. Os botecos pé-sujo. Era, como costumam dizer, carioca da gema: exuberante, extrovertida, não gostava de dias nublados, falava mal de paulista. Era dourada, direta e sexy. Mas tinha os apertos no peito. E escutava Dorival Caymmi. Quando estava só, olhava o nada. Sem pensamentos. Vazia.

Numa madrugada de agosto, Olívia acordou de repente, como se tivesse conseguido escapar de alguma tragédia. Estava salva “ai, meu Deus!”. Suava e respirava como se fosse asmática. Não era. Virou para o lado e sacudiu Zeca, tentando acordá-lo. Falou: “Zeca, Zeca!”
“Hein ???”, disse o marido ainda meio sonolento. “Que é, princesa?”
“Zeca, vou pra Maracangalha”.
Nesse momento, Zeca, o bancário, não sabia definir se estava ainda sonhando ou se Olívia queria fazer algum tipo de pegadinha. “Querida, Maracangalha não existe”, disse, tentando voltar a dormir.
“Zeca, existe sim...” Silêncio. “...e fica na Bahia.”, continuou Olívia. "Zeca... não posso mais com isso"

Na manhã seguinte, Olívia estava preparando o café quando Zeca apareceu. Introspectivo, sentou na cadeira e esperou que sua esposa colocasse a mesa. Ficou em silêncio. Olívia, também. Ela tinha feito cuzcuz, cortou mamão e colocou o pão na torradeira. Até que...

“Dourada?”, chamou-a carinhosamente Zeca. “Diga que você estava delirando ontem”. Não houve resposta. Olívia continuou coando o café de costas para o marido.
“Sei que você está passando por um período difícil, mas a gente vai superar, né? É uma loucura deixar tudo para ir atrás...” Vacilou um pouco nas palavras. Comeu um pedaço de mamão para recuperar o fôlego “...e ir em busca... assim... do nada. E no interior da Bahia, Olívia? Não dá, né?”

Olívia parou e respirou fundo. Aquilo de dar satisfações há muito já tinha enchido seu saco. Era casada, sabia disso. E também sabia que tinha que dar satisfações. Só que, apesar dos 28 anos, já estava esgotada de si, da violência do Rio, do Brasil. “Caralho! Isso tudo aqui é uma merda. Não agüento mais. Preciso de um refúgio”, desabafava para Carmem Lúcia, colega do escritório também secretária. A amiga, de Belém do Pará, procurava palavras de incentivo, tentava confortar a parceira. Mas, o que dizer para uma pessoa sem motivação? “Querida, faça o que seu coração manda!”, dizia. E Olívia fez o que seu coração mandou.

Ali, parada na cozinha, enquanto escutava seu marido falar em loucura, da busca do nada - "um saco! Conversa de bancário pragmático”-, recordou-se de como começou o namoro com ele e, por fim, se casou. “Estávamos na casa de um amigo em comum, em Copacabana, quando ele pegou um violão e começou a dedilhar músicas de Caymmi. Até então nem sabia que ele existia. Era muito pálido e tinha cara de playboizinho”, contou para Carmem Lúcia. “Logo me interessei, né? Afinal, uma pessoa que canta Caymmi, tem um quê a mais. Então perguntei para uma amiga quem era aquele tipo e ela me deu a ficha completa. Adorei o nome, né?: Zeca. Me lembrei imediatamente daquela canção de Caymmi ‘Maurinho, Dada e Zeca ô, embarcaram de manhã. Era quarta-feira santa, dia de pesca e de pescador....’” Ai, a porra do nome....

Olívia largou o café, se virou e disse: “José Carlos, já decidi: eu vou”
Entre espantado e impaciente, o marido preterido falou: “Mas, Olívia. E seu emprego, sua família, sua vida aqui no Rio?” E, por fim: “E eu?”
“Ai, José Carlos, deixa de drama. É só um tempo. Para colocar as coisas no lugar, sabe? Cansei do Rio, preciso refrescar meu espírito”
“Tá, mas bem que você poderia sugerir Angra... sei lá... Campos do Jordão. Lembra de nossa viagem ano passado? Mas Maracangalha, Olívia. Quanto tempo a senhora pretende ficar naquele fim de mundo, que eu nem sabia que existia?”
“Ainda não sei. Vem comigo?”
“Olívia...”, Zeca ficou sem palavras. “Eu não... eu não...”
“José Carlos, se você não quiser ir, eu vou só!”, decretou Olívia.
"E se fosse eu que tivesse que abandonar tudo, hein, o que você diria? Ponha-se no meu lugar, Olívia! Você sabe como eu estou me sentindo?"
Olívia começou a chorar. Zeca a abraçou. No ar, o cheiro de pão queimado.

E Olívia se foi para Maracangalha. Só. Mas foi. Não sabia exatamente onde ficava o tal lugarejo, mas foi para lá no finzinho de agosto. Conseguiu uma passagem para Salvador a 50 reais, por meio da promoção "Viaje e conheça o Brasil gastando muito pouco" da Gol. Era madrugada quando ela e Zeca chegaram ao Galeão. Estava superlotado. Às 3 da madrugada!

“Não se preocupa, Zeca, eu me viro. Sou carioca. Me viro em qualquer lugar do mundo. Até no Rio de Janeiro!”, brincou. Zeca só fez sorrir. Estava esgotado. Nunca seria capaz de convencer sua mulher a não ir embora. Era melhor deixá-la ir e ver com seus próprios olhos a besteira que estava fazendo. Sempre foi assim. Sempre deu corda para Olívia e ela se enforcava. "Maracangalha, meu Deus... o que eu vou dizer para meus amigos?”, pensava, enquanto via Olívia dirigindo-se ao balcão da empresa para fazer o check-in. “Nada. Não vou dizer nada... Aliás, vou dizer que uma tia que ela gosta muito ficou doente e ela foi ajudar. Onde mora? No interior da Bahia”, era o que ia dizer para quem perguntasse. “E o emprego? Deixou, né. Se bem que ela nunca se adaptou muito bem àquele escritório. O único engomadinho que suporta sou eu”. Pronto, a história já estava criada. E o Zeca, mais calmo.

Enquanto pensava no que iria fazer do futuro, viu uma confusão armada no balcão da companhia aérea. "Ai, meu Deus, é a Olívia!", disse José Carlos, com as mãos na cabeça, antes de correr para ver o que estava acontecendo com sua mulher.

A parte II: Olívia quer chorar, mas não consegue

Blogagem coletiva



O Blog do Brasilerô convidou outros internautas para uma publicação coletiva de um texto cuja temática é "limpeza pública". Diz o idealizador "Gente a idéia inicial aqui é citar o nome dos crápulas que cada um quer que seja exterminado da política, como, por exemplo, Zé Dirceu (PT), entre outros que faz as estripulias com o dinheiro público". Enfim, é sempre bom ver versões e opiniões de outras pessoas sobre um mesmo tema. Quem acompanha isso aqui, sabe que a lista é grande. A publicação deve ser feita em 13 de abril, Dia Internacional da Imprensa. Quem quiser participar, vai lá na página.

terça-feira, 3 de abril de 2007

Avança, Salvador! - Parte I

Ou: A auto-solidariedade

Ariana de nascimento, EsseEsseÁ completou semana passada (29 de março) 458 anos de fundação. Como todos sabemos, a cidade tem belezas naturais e históricas que encantam turistas e a nós, singelos moradores desta city. Ainda mais quando nos reservamos ao direito de admirá-la. Com uma população que já ultrapassa a marca de 2,7 milhões, não são poucos os problemas vividos por aqui, assim como em todo o país. Afinal, é Brasil, é Nordeste, é Bahia, não é mesmo, minha gente?

Um desses graves problemas é a extrema divisão da cidade em função da alta concentração de renda. Não se engane: a má distribuição de grrrrrana é visível, inclusive, no mapa de EsseEsseÁ. A região da orla marítima concentra a maior parte da riqueza daqui.

Além disso, EsseEsseÁ tem o maior cadastro brasileiro de pessoas em situação de risco, que necessitam da ajuda dos Poder Público, por meio de programas de transferência de renda. Só para se ter uma idéia 136 mil famílias recebem o Bolsa-Família. E para muitas delas, o benefício é a única fonte de renda. A meta do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) da capital baiana é a maior do país, com cerca de 8.933 crianças, ou seja, cinco mil famílias com direito a uma bolsa-auxílio mensal de R$ 40 para cada criança afastada de atividades laborativas, freqüentando a escola e as atividades socioeducativas em período oposto ao da aula.

(Você sabe que você me vê)

O mais inusitado dessa situação é conseguir viver (ou sobreviver) apesar de, parodiando um pouco Clarice Lispector: apesar de muito buraco na rua, apesar de um sistema de transporte público deficiente, apesar de um prefeito chorão e incompetente, apesar de um tráfego sem autoridade (tema do próximo texto), apesar de ter de pular mendigo no centro da cidade, apesar de assistir espetáculos do tipo "circence" de crianças e adolescentes pedindo esmolas nas sinaleiras.

Não sendo do interior e um autêntico soteropolitano, ainda me impressiona a capacidade das pessoas de não enxergarem problemas cotidianos. Afinal, na metrópole, as relações entre os humanos são mais impessoais e as pessoas, mais individualistas. Alguns poderão argumentar que o costume é uma espécie de anestesia. Na medida em que você se acostuma a algo (principalmente uma situação que considerava escandalosa e humilhante até então), para não sofrer e não perder seu tempo, inconscientemente aquilo passa a fazer parte de seu cotidiano. É como o que está acontecendo com os aeroportos brasileiros. Em qualquer lugar civilizado, cabeças de gestores já tinham sido cortadas e o problema, sanado há muito tempo. O que acontece por aqui é o contrário: em vez da mobilização, o brasileiro sai de casa com o travesseiro debaixo do braço para esperar horas por um avião que poderá não chegar.

Auto-solidariedade
Mês passado a prefeitura lançou uma campanha com o título "Ajude de Verdade". A idéia é a seguinte: ao invés de dar esmola para crianças e afins nas sinaleiras, as pessas caridosas podem contribuir para uma espécie de Fundo Municipal do Direito da Criança e do Adolescente. E quem faria a distribuição desse dinheiro para ONG´s que cuidam dessas pessoas? A Prefeitura, claro! O argumento deles é que a esmola não ajuda, cria dependência e expõe as crianças a toda sorte de exploração.

OK, raramente dou esmola. Particularmente, acho errado. Mas, estando sensibilizado com a (miserável) situação de outra pessoa, por que não ajudar? Agora, fico me questionando o porquê da Prefeitura, que não sabe o que fazer com o dinheiro dos impostos, querer botar a mão nesses reais extras. Pelo menos, está estimulando uma prática meio que estranha: quem preferir dar esmola ao Fundo em vez dos meninos de rua, pode, inclusive, deduzir a "contribuição" do Imposto de Renda. Ou seja: seria uma espécie de auto-solidariedade. Duvi-de-o-dó que uma pessoa que realmente se preocupa com o outro tire um real de um bolso para, em seguida, colocá-lo no outro bolso da calça e ainda sentir-se confortável com a situação.

O Estado é constitucionalmente obrigado a investir os impostos que arrecada na sociedade. Em função de sua falência em atender as necessidades básicas das pessoas, surgiu um exército de ONG´s contra toda espécie de mazela social. O primeiro não faz o que lhe cabe e o segundo não tem condições de atender a todos. Agora, o Estado quer também receber doações. Que país é esse?

quinta-feira, 29 de março de 2007

O toque mão-de-vaca

O Brasil já conta com mais de 100 milhões de aparelhos celulares. Segundo a Anatel, cerca de 81% desses aparelhos são de assinantes do pré-pago (aqueles que compram créditos para poder falar) e 19% do pós-pago (os que recebem conta). O Distrito Federal é a unidade brasileira com maior número de celulares por pessoa, seguido pelo Rio Grande "tchê" do Sul e Rrrrrio. Maranhão ocupa a última colocação. Ou seja, eles estão onipresentes.

Se por um lado houve a democratização da comodidade oferecida pelo aparelhinho, que é usado tanto pelo executivão de multinacionais como pelo pedreiro que ganha menos de um salário mínimo por mês, por outro, a sensação que dá é que viramos uma espécie do país do toque. Ou seja, a arte do portador de celular sem crédito ligar e desligar, a fim de que quem receber a ligação, a retorne, está virando uma praga social. Que se manifeste quem nunca deu (o toque!), continua dando, já caiu ou continua caindo nessa armadilha.

Pois bem, lembro do tempo em que dar "um toque" no celular de um amigo (afinal, amigo também é para essas coisas) era motivo de vergonha e, antes de dizer o porquê da ligação, o sujeito já vinha logo com uma série de desculpas pela incoveniência e urgência de estar falando a cobrar. Mas, hoje em dia, nããããããõooooo. Afinal, vamos combinar, até seu irmãozinho de oito anos tem celular. De enfeite, mas tem. E parece que quem paga a conta dessa gentalha é você.

Tudo bem. Atender em uma urgência um telefonema a cobrar é normal. Normalíssimo. O problema começa quando sua amiga funcionária pública começa a te dar toque, seu amigo que liga para Deus e o mundo, mas quando é justamente com você, dá toque ou quando aquele que tem telefone fixo e para a conta não vir mais alta, também lhe passa a bola quente. Ainda têm aqueles que estão desempregados e justificam a ligação dizendo que "você trabalha, pode pagar" e por aí vai...

Mas o pior é a tal prática dos três miseráveis segundos que, reza a lenda, a operadora não cobra. Obviamente que ninguém completa uma frase, que são resumidas a sílabas. É uma estratégia, digamos, um tanto inteligente, embora seja preciso uma boa... boa não... excelente coordenação motora do sujeito. Porém, é necessário ressaltar que, se praticada com frequência, causa desconforto e, principalmente, impaciência. Para não dizer RAIVA. Pois, bem... está lá você no conforto do seu lar, quando é interrompido por uma ligação. Aparece o nome da figura no visor do aparelho, voce atende:

Primeira ligação: - vocetáon...
- Oxe!
Segunda ligação: - ondevocetá...
- Hein!?!
Terceira ligação:- toaqui...
- !!!!
Quarta ligação: - nasorve...
Quinta ligação: - sorve...
Sexta ligação: - teria...
Sétima (!) ligação: - desçaívá...
Oitava ligação: - estouna

No nono toque (ou antes, a depender da paciência e do amigo), você diz "que, porra!" e liga para saber o que é. Depois, faz um juramento dizendo que nunca mais vai retornar ligação de toque. O problema é que, quando uma pessoa que te deu um toque na segunda-feira (e você não retornou, evidentemente), fica o resto da semana sem dar outro toque, você pensa "será que estou perdendo alguma coisa, alguma novidade, sei lá". O que você faz? Eu estou pensando em fazer o mesmo que fazemos nos barzinhos de EsseEsseÁ: dividir a conta igualitariamente. Afinal, não somos amigos e não estamos usufruindo de um bem comum? Então, vamos dividir a conta!

terça-feira, 27 de março de 2007

Romariomania

Eu não sei vocês, mas minha paciência há muito já se esgotou com essa história do milésimo gol de Romário "o gênio da grande área". Embora toda a mídia esteja "envolvida" nesse episódio que será (ninguém sabe) histórico, o destaque fica por conta das Organizações Globo. Toda ela está envolvida na campanha do gol do baixinho. Na TV, ele está em toda parte. Nos últimos dias, é impossível assistir a algum programa jornalístico sem ouvir falar no "craque", principalmente no Bom Dia Brasil, onde a aparição do "craque" é diária. Quando o irmão do ex-jogador de basquete Oscar Schmidt aparece para falar de "esportes" (leia-se futebol), é fato: lá vem mais uma matéria sobre o milésimo gol de Romário.

Semana passada, mais uma vez, toda a Globo criou uma expectativa quanto ao milésimo gol de Romário no "clássico" entre o Flamengo e o Vasco no Maracanã. Infelizmente, Romário não fez o tal gol, mas você acha que a pauta caiu? Nãããããõoooooooo. A reportagem foi um interminável blá-blá-blá sobre as famílias que foram ao estádio para ver o milésimo gol de Romário, a angústia dos flamenguistas em não serem as vítimas do milésimo gol de Romário, Romário "esforçando-se" (hahaha!) para fazer o milésimo gol de Romário, o entusiasmo do repórter em ser ele o responsável pela cobertura do milésimo gol de Romário. Um porre daqueles!

Mas, quem pensa que a promoção global pára por aí está enganado. Nãããããoooooo. Em O Globo, onde Romário é destaque diário no site do jornal, a situação já está chegando cúmulo do nonsense. ( Peraí: Eu posso dizer a expressão "cúmulo do nonsense?". Enfim...) A gota d´água para mim, evidentemente, foi quando uma repórter foi entrevistar Rodrigo Santoro, semana passada, na pré-estréia sul-americana do filme "300 de Esparta". Além de ser super simpática com o ator ao dizer na matéria que ele ficou perdido em face ao "grande assédio" dos fãs brasileiros ao seu colega Gerard Butler, na entrevista a jornalista não só perguntou sobre o que Santoro acha a respeito dos comentários de que seu personsagem no filme é afetado como também... adivinhem... o que ele acha sobre do milésimo gol de Romário.

Agora o foco das matérias da Globo é quem será o goleiro que sofrerá o milésimo gol de Romário. E, nisso tudo, o ego de Romário, que não é nada baixinho, já tá prá lá de Marrakesh. Além de sonhar que esse milésimo gol seja de pênalti, "porque aí vai estar todo mundo atento", Romário acha que isso pode não acontecer. Afinal, "se eu jogar, não vou ficar guardando gol. Nem se eu quiser eu consigo. Às vezes, eu miro lá (fora do gol) e ela vai dentro (do gol)". Uma chatice. Ah, quem quiser pode ir ate à Romarioteca feita pela Globo.com e deliciar-se com Romário, vídeos, fotos, história, etc, e seu milésimo gol (que ainda não veio).

Pois, bem: Quantas vezes falei de Romário neste texto? E quantas vezes falei de milésimo gol? Imaginem, então, quantas vezes já li, ouvi ou vi sobre Romário e seu milésimo gol. Menos, minha gente, menos.

Enquete: Você acha que Romário deve fazer o milésimo gol?
(a) Sim, para que a Globo nos deixe em paz.
(b) Sim, porque eu sou fã de Romário.
(c) Não, quero que ele quebre o pé.
(d) Não, eu não gosto dele.
(e) Nenhuma das anteriores. Esse milésimo gol é invenção do Romário e da Globo.
(f) Quem é Romário?

sexta-feira, 23 de março de 2007

Balela!

Ou: mentira + mentira + mentira = verdade

Enquanto discursava sobre a presença da ONU no Iraque ontem, falando da melhoria das condições de segurança no país, que lá estava indo tudo muito bom, tudo muito bem, o secretário-geral da organização foi surpreendido pela explosão de um foguete. Ban Ki-Moon abaixou-se correndo atrás do púlpito chocado com o estrondo. Afinal, o míssel chegou perto, a cerca de 50 metros de onde o sul-coreano fazia seu blá-blá-blá diplomático. Ele, que realizava uma "visita surpresa" ao país destroçado pelos americanos e aliados, deparou-se com algo que nenhuma maquiagem política consegue esconder: a realidade, cáspita!

- Uiiaa!!!

Com quatro anos de invasão, o Iraque é um país sem rumo, pelo menos para a sua população que está sendo exterminada. Por outro lado, o petróleo pertencente a este povo, este sim tem destino certo. Pois bem, será que Ki-Moon é partidário da máxima "uma mentira contada mil vezes torna-se verdade"?

Apesar do inusitado da notícia e da ironia do destino, nós, brasileiros, estamos como que bastante acostumados com este tipo de episódio. Basta assistir a nossos políticos falando que "está tudo muito bom, está tudo muito bem" e o pau comendo solto em diversas áreas: educação, saúde, área social, emprego, infra-estrutura, transporte etc. Alguém mais aguenta ouvir do governo que o "apagão" aéreo será resolvido? Enquanto as pessoas são humilhadas diariamente nos aeroportos, simplesmente dizem que "amanhã será melhor". Há mais de oito meses dizem isso.

Outra área do tipo "eu finjo que resolvo, você finje que acredita" é a segurança. Fico imaginando como serão os Jogos Pan-Americanos no Rrrrrrio. Até acredito que os atletas terão a máxima proteção (?) que o Brasil pode oferecer. Mas, segue a perguta: dá para visitar a cidade tranquilamente no ritmo que vão as coisas? Para os políticos "estará tudo muito bom, tudo muito bem". Para os cariocas "venha que eu te dou as dicas de como enfrentar a guerrilha" e para os baianos "pense bem".

quinta-feira, 22 de março de 2007

Ó paí Ó!!!!!!

Ou: A ocasião faz o ladrão
Ou: Se gritar "pega,ladrão!", não fica um, meu irmão!
Ou: Bastam os fatos!
Ou: Enquanto os homens exercem seus podres poderes...

Os alagoanos deram novamente de presente ao país a suposta extinta praga Collor, "O caçador de marajás". Ele, que poderíamos considerar "menos um" na nossa extensa lista de ervas daninhas a exterminar, voltou, agora senador da República. Voltou com o mesmo sorriso seboso. Voltou com o mesmo cabelo engomado. Voltou com os mesmos olhos de águia com alguma psicopatologia.

Lula e Collor: 1989

O absurdo de seu retorno é a prova do fracasso do modelo político brasileiro, com suas cartas marcadas, seus votos de cabresto e o fenomenal estado de ignorância que é cultivado no povo. Os alagoanos não são os únicos culpados. Os baianos, maranhenses, paulistas, cariocas, entre tantos outros, também dão sua parcela nesta imundice que tomou conta do Brasil e afasta, cada vez mais, a possibilidade daqueles que possuem caráter, integridade e decência em querer participar da construção de um país melhor.

Lula e Collor: 2007
Lula: - hahaha. Manda ele parar, minha gente!
Color: - hihihi. Pára, que já tá feio!
Alencar: - Ooooops. Peidei!


Sempre achei que formação de quadrilha fosse crime. Entre os políticos, acredito que isso não se aplica. O que são os partidos políticos brasileiros, hein, minha gente? Pois, bem. O Collor agora vai aprender profissionalmente como se faz, uma vez que ele foi um aprendiz de terceira categoria. Os políticos brasileiros melhoraram muito neste aspecto. Quando alguém poderia imaginar em ver tudo (roubo, corrupção, etc) acontecendo às claras e nada acontecer? Quando alguém poderia imaginar que um político dançaria em público e ao vivo a absolvição de um colega corrupto? Resta saber o que Lula quer de Collor e o que Color tem que dar. De olho na história. Ah, e para completar a cena de como somos um povo abençoado, poderíamos ter junto: Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula! Seria tudo!

PS: Pelo menos uma irônica lição: Feliz de quem não guarda mágoas.

terça-feira, 20 de março de 2007

Limpeza pública

Muito mais interessante do que fazer pessoas com muito dinheiro, fama e sucesso pagar altas multas por suas infrações, é a Justiça colocá-las no seu devido lugar. É a Justiça fazê-las compreender que, apesar de todos os seus predicativos, conquistados ou herdados, elas não deixam de ser cidadãos. E, vamos combinar, o respeito ao próximo é fundamental para a existência de uma sociedade saudável.

Minha avó, por exemplo, diria que é muito feio jogar celular na cabeça de uma empregada por ela não ter encontrado a calça que você tanto quer. A Justiça americana também achou isso. Por isso, mais do que uma punição financeira, deu à modelo Naomi Campbell uma pena educacional: prestar serviço comunitário como faxineira. Afinal, Campbell já foi acusada de agressão por pelo menos três empregados. E, caso isso continuasse, pelo dinheiro que tem, ela continuaria batendo em quem quisesse diariamente. Não tenha dúvidas.

- Naomi, "bunita" antes de pegar no batente

Por isso, qual não está sendo o gostinho da empregada agredida e da sociedade de ver uma diva que se considerava toda-poderosa fazendo um trabalho considerado humilde, de simples mortais. Provavelmente, foi a situação mais embaraçosa que a supermodelo já passou na vida. Com certeza, o valor simbólico, de exemplo para outros, é bem maior para a comunidade do que umas moedas depositadas na conta do governo.

Embora no mundo civilizado exista uma preocupação no sentido de criar novas modalidades de penas que substituam a privação de liberdade por medidas que privilegiem o caráter educativo das penas, no Brasil a resposta dos políticos às infrações das leis é sempre "estamos contruindo mais prisões", como se fosse a salvação. Têm surtido efeito colocar um ladão de galinha ao lado de um traficante de drogas? O resultado é o que vemos diariamente nas superlotadas prisões do país.

A Justiça lida também com a simbologia. No entanto, aqui no Brasil, não temos uma única atitude nesse sentido. Nada é feito para dar à sociedade a garantia de que está protegida em seus direitos. Nada, nada, nada. Alguém já imaginou a Eliana Tranchesi, da Daslu, limpando a 25 de março? Ou o ex-deputado Sérgio Naya "batendo uma laje", sem direito a churrasco, cerveja e pagode?

segunda-feira, 19 de março de 2007

O gato comeu!

Ou: O gato sumiu!

Bem, já faz tempo que não escrevo nada neste blog. Muito disso deve-se, basicamente, a outras coisas que tenho para fazer. Além de preguiça, é claro. Antes, sentia-me culpado. Hoje, não mais. Apesar disso, 2007 está aí e este país e esta city continuam os mesmos. Infelizmente. Dizem que o ano começa depois do carnaval no Brasil. Como bom soteropolitano, então dei-me estas férias. Então, tá!

Digo, ali, logo ao lado, que para qualquer absurdo há sempre um precedente na Bahia. Claro que não tenho a mínima intenção de estereotipar o estado onde nasci. Isso é coisa de estrangeiro (leia-se não baiano), principalmente paulista. Apesar disso, é, no mínimo, interessante, senão intrigante, como as coisas se desenrrolam por aqui.

Semana passada, um avião que transportava mais de R$ 5 milhões de um banco da cidade de Petrolina (PE) para EsseEsseÁ caiu no município de São Sebastião do Passé, localizado na região metropolitana deste estado. Quatro pessoas morreram com a queda do teco-teco e o dinheiro deu um pinote, ou seja, sumiu. Nunca os passeenses viram tanto dinheiro caindo do céu. Foi uma loucura: um corre-corre, um vuco-vuco para salvar araras, micos-leões-dourados, onças-pintadas e, principalmente, os peixinhos que ilustram a raramente vista, pelo menos por mim, nota de R$ 100,00.

Bem, o causal acidente foi o início para que a vida do pacato, quase esquecido no mapa, distrito de Maracangalha fosse transformada em um verdadeiro inferno. Depois das cenas inusitadas dibulgadas pela televisão de pessoas entregando para a polícia, espontaneamente, o dinheiro que "pegou" no local do acidente - mil reais aqui, 50 mil reais ali - , seja enterrados na horta seja lá onde for, a situação mudou. Como a polícia só conseguiu recuperar pouco mais de R$ 500 mil, falta saber onde está o restante: R$ 4,5 milhões. E, pelo que está acontecendo na localidade, os policiais não estão a fim de ouvir "o gato comeu, o gato comeu" nem "o gato fugiu, o gato fugiu".

Não vou pra Maracangalha, não vou

A preparada polícia baiana, para não dizer o contrário, no afã de recuperar a grana está fazendo e acontecendo. Pior, homem armados estão na cidade (não se sabe se é policial ou não) e, na calada da noite, arrombam casas, estraçalham sofás, quebram móveis e eletrodomésticos, sequestam e espancam pessoas. Até se provar o contrário, todo mundo é ladrão. Qualquer movimento é suspeito. Qualquer dinheiro é confiscado. E as pessoas, pobres e, portanto, desprotegidas, estão à própria sorte. A cúpula da polícia baiana já admite a possibilidade de policiais estarem efetuando operações ilegais, como disse a edição do jornal A TARDE de sábado.

Acredito que as pessoas são capazes de imaginar o que está acontecendo em Maracangalha. Mas o inadmissível é o Estado permitir que este tipo de ação seja realizada: cidadãos sendo tratados como cães-sem-dono. Seria, no mínimo, uma atitude esperada de um governo democrático: "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante". Triste Bahia.