quarta-feira, 15 de setembro de 2004

Mais uma historinha...


Pinky: - E o que vamos fazer hoje Cérebro?
Cérebro: - A mesma coisa que fazemos todas as noites Pinky: tentar conquistar o mundo!

...Ou: a hibernação acabou*

Eles foram inimigos mortais durante décadas. Seus desentendimentos fizeram com que o mundo fosse dividido ideologicamente e a humanidade caminhasse sempre com a expectativa de uma grande catástrofe. Embora eles nunca tenham se enfrentado diretamente, manipularam muitas guerras e ditaduras e fizeram intervenções indiretas na vida de muitos outros animais em prol de sua causa. Muita gente morreu, desapareceu ou foi torturada até que, no final da década de 80, o grande urso finalmente capitulou e a águia, vitoriosa, pôde então voar sozinha sem ter que dar satisfação para ninguém.

Os olhos desse animal tornaram-se, então, a polícia e a Justiça deste singular planeta. Foi, inclusive, a própria águia quem cuidou das feridas do urso, uma vez que ele ainda era e é digno de respeito. Era preciso mantê-lo por perto. Por isso, caso ele reclamasse, a águia lhe dava um remedinho, um tapinha nas costas e ele calava a boca. Como não lhe afetava, deixava-o também resolver sozinho seus problemas. Mas sempre de olho aberto. E a águia ficou cada vez mais rica e mais invejada.

Até que, em setembro de 2001, o animal mais poderoso que se tem notícia na face da terra, para espanto e incredulidade de todo o reino animal, foi ferido. E a dor moral pela humilhação ainda hoje continua sendo bem maior do que foi a física. Desorientada, a água enfurecida caça obsessivamente seus algozes-caçadores. Sabe quem são (lembra-se constantemente que já cuidou um dia deles na tentativa de acabar com o grande urso), mas agora eles são muitos (como puderam?) e se escondem feito ratos. “Vou acabar com todos. Quem não estiver comigo, está contra mim e pagará por isso”, cuspiu a águia contra seu reino, enfurecida. E o mundo pergunta-se, novamente inseguro, até onde vai a fúria cega da ave.

Humilhada, a águia parte para a guerra. Mas, contra quem?

Enquanto isso, o urso, capenga, pobre e fraco, ia levando a sua vida. Olhava as atitudes da águia com desdém, saudoso do tempo em que ainda rugia alto. “E ela aí, essa filha-da-puta, cagando e andando para quem a critica”, dizia. Esperou e esperou. Até que em setembro de 2004, sentiu novamente uma porrada em suas costas. Era um problema seu antigo, mas já estava cansado de dar satisfações àquele bando de animais civilizados europeus. O urso resolve, então, interromper a sua hibernação e tenta colocar as suas garras de fora. “Meu cu, caralho! Eu não sou o Zé Colméia. Se a águia pode, por que não eu?”, pergunta-se o mamífero com a boca espumando. E o mundo paralisa. E a águia diz, com sotaque baiano e um misto de surpresa e constrangemento: “Ôxe!

Pinky e Cérebro

George W. “Pinky” Bush, um cowboy filhinho-de-papai muito burro, e Vladmir “Cérebro” Putin, um ex-espião do serviço secreto da Rússia, a KGB, são os comandantes atuais da tal águia furiosa (Estados Unidos) e do urso ressentido (Rússia), respectivamente. O primeiro, depois de tentar de todas as maneiras acabar com o que a América têm de melhor – as liberdades individuais, agora quer a re-eleição. Apesar do ódio de grande parte do mundo, o americano médio, que não é muito reconhecido por sua inteligência, votará em Bush. O segundo, utilizando-se do massacre da escola de Beslan, agora quer combater uma suposta ameaça terrorista internacional restringindo e esmagando o já mambembe regime democrático russo. O que é engraçado, uma vez que o problema do urso tem nome e endereço.

Pinky e Cérebro: unidos contra o terror

Além disso, Cérebro é visita constante no famoso rancho do Texas de Pinky (soberbamente retratado no “documentário” Farenheit 11/09, de Michael Moore), ao contrário de aliados tradicionais da águia. No último domingo, Pinky apareceu na embaixada russa em Washington para assinar o livro de condolências e declarar que os dois países "estão unidos para combater o terrorismo".

Well, guys! dizem que é mais fácil contornar as grandes catástrofes do que as pequenas, minúsculas até, misérias de cada dia. Se Pinky sozinho conseguiu acabar com o Afeganistão e assassinar, até o momento, mais de 10 mil iraquianos em nome da democracia e do perigo que aquele país representava, o que ele e Cérebro não poderão fazer juntos?

*A primeira "historinha" foi publicada no dia 04 de agosto.

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