sexta-feira, 14 de outubro de 2005

Já mais haja assim!

- Não re-aje, bichano!

Nessa época de iradas e profundas discussões a respeito do não-sim e do sim-não do referendo sobre o comércio de armas neste país - em que eu, particularmente, me sinto como um otário fazendo papel de palhaço -, vi um sigelo panfleto da PM em um restaurante de EsseEsseÁ informando os novos telefones que os policiais da comunidade ganharam da OI. Segundo o texto, trata-se de uma "parceria". Contato direto. Proteção total. Compartilho com vocês um trecho que, desde já, considero um clássico. Se trata de uma das dicas para não se dar mal em um assalto:

"(...) Aguarde a chegada do policiamento. Não se exponha a riscos desnecessários. Já mais haja sozinho, muito menos re-aja."

Dá vontade de rir de tudo isso. Esse país é muito cômico. Muito sério. Muito justo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

Xiiiii... Sujou!

“Não há dúvida de que hoje o diabo está se intrometendo mais na vida do homem”. Foi o que disse o padre Paolo Scarafoni na aula inaugural do curso de exorcismo e orientação da libertação iniciado hoje na Universidade Pontifícia Regina Apostolorum, localizada em Roma.

Reservado aos padres e seminaristas estudantes de teologia, o curso, que está sendo oferecido pelo segundo ano consecutivo pelos Legionários de Cristo (uma ordem religiosa conservadora), atraiu cerca de 120 religiosos de todas as idades do mundo inteiro. Eles aprenderão a reagir caso... assim... sem querer, querendo topem com uma pessoa possuída por um demônio. Sim, ele está (ou continua) entre nós! E a Igreja, como sempre, está preocupadíssima com o cada vez maior poder de sedução dele, nesse mundo cheio de tentações e liberdades mal administradas.

Mas aí você se pegunta: como identificar uma pessoa possuída pelo demônio? O exorcista Gabriele Nanni dá algumas dicas básicas de como diferenciar a possessão demoníaca de problemas psicológicos:
1. Quando alguém fala ou entende línguas que normalmente não conhece;
2. Quando sua força física é desproporcional ao tamanho do seu corpo ou à idade;
3. Quando se torna repentinamente conhecedor de práticas ocultas (Adorei o repentinamente);
4. Quando tem uma aversão física a coisas sagradas, como a hóstia ou as orações. (Ou seja: nada de fazer cara feia ao comer a hóstia, hein?)

Um dos seminários do curso, por exemplo, será reservado não só à demonologia e ao ocultismo, mas também à figura do diabo nas culturas antigas e modernas, incluindo o cinema (o que não vai faltar é imagem dele!), a música (Alguém falou em rock? ) e a internet. Achei o programa super dinâmico e contemporâneo, uma vez que o exorcismo, ação em que padres católicos "expulsam" demônios ou espíritos malignos do corpo de alguém, é um dos episódios mais obscuros da história da Igreja.

Não por acaso, o tema sempre mexeu com o imaginário das pessoas. A relação que eu faço, porém, é que o exorcismo foi e ainda é um excepcional instrumento de coerção e um remédio para os males da vida cotidiana: "Não concorda comigo? Tá com o demônio no corpo!", "É rebelde? Tá endemoniado!", "Não vai fazer o que mando nem seguir as leis sagradas? Deve estar possuído!", "Segue outra religião? O demônio está orientando" e por aí vai... Hoje, é atração de programa de TV. Dá ibope e é puro entertainment, com direito a imagem desfocada e voz distorcida.

Bonus Track
Pegando o gancho, sessão cultura sobre exorcismo e demônio.

O Exorcista (1973) - Óbvio. Clássico. Sem comentários. Peguei medo.

Coração Satânico - De Alan Parker, com Robert de Niro que interpreta Louis Cifer. Também peguei medo.

Do amor e outros Demônios, de Gabriel Garcia Marques - Foi lançado em 1994 no Brasil. Nele, uma jovem marquesa supostamente possuída por demônios envolve-se com o padre espanhol encarregado de exorcizá-la. É poderoso o livro. O padre fica doido pela menina que tem, se não me engano, uns 13 anos. Adoro Gabriel!

Divina Comédia (Muitos anos atrás) - De Dante. Clássico do clássico. Ainda estou lendo. Já saí do inferno, estou no purgatório. Espero chegar ao paraíso ainda este ano. Não preciso dizer que pirei com os castigos descritos pelo poeta. Os hipócritas, por exemplo, aparecem no inferno vestidos com uma roupa de ouro brilhante, visualmente atraente por fora, porém pesada como chumbo. Eles são condenados a andar eternamente com a roupa e sofrem e choram, cansados pelo peso intenso. O castigo é o peso que não sentiram na consciência ao pregarem uma coisa e fazerem outra. No inferno, sentem finalmente pelo seu falso brilho.

Rede Record - Madrugada.

etc. Enfim, o que não faltam são referências ao tema, não é mesmo? Alguma sugestão?

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Jornalismo de fachada

Danielicius acredita que a atitude que melhor serve aos interesses de seus leitores e do país é incentivar a rejeição a revista Veja. Nas linhas seguintes, Danielicius alinha razões pelas quais julga correto meter o pau sempre que possível neste panfleto semanal.

A Veja, revista semanal de maior circulação no país criada em 1968 pela editora Abril, é escandalosamente panfletária. Chega a dar nos nervos tamanha prepotência. Na última edição, que traz como capa o referendo de 23 de outubro, a revista chutou o balde dos meios-termos e decidiu fulanizar de vez o debate a respeito do desarmamento. Fez de sua capa um cartaz, e varreu para debaixo do tapete qualquer traço de vergonha na cara ou pudor que porventura viesse a existir naquela redação. O título da matéria (“Referendo da fumaça: 7 razões para votar “não” na consulta que pretende desarmar a população e fortalecer o contrabando de armas e o arsenal dos bandidos”) é uma pérola, mas o mais impressionante está no lead: “Veja acredita que a atitude que melhor serve aos interesses dos seus leitores e do país é incentivar a rejeição da proposta de proibição”. Veja a matéria aqui.

Aí, você se pergunta: onde Veja aprendeu a argumentar? Assistindo ao Superpop da Luciana Gimenez? Entre os ‘sensacionais’ argumentos para defender tal tese, o panfleto semanal da editora Abril diz que ‘Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, listou o desarmamento da população entre as providências essenciais para garantir o controle totalitário’ e que ‘Hitler desarmou os alemães e os povos dos países ocupados, mas distribuiu armas entre milícias fiéis ao regime’. Ainda: ‘Nas zonas rurais brasileiras, longe dos postos policiais, [as armas] servem para sitiantes e fazendeiros defenderem suas propriedades de assaltos, invasões do MST e dos ataques de animais predatórios a seus rebanhos e criações. É por isso, com certeza, que os sem-terra apóiam o desarmamento’.

Evidente que não vale a pena polemizar com argumentos de impressionante nível. Além de ter perdido a compostura, ela passa por cima dos mais básicos elementos da atividade. Como diz o jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, “ao invés de ensaiar uma progressiva troca de idéias capaz de suscitar o contraditório e algum esclarecimento antes de se acionar a urna, a revista berra para o leitor – ‘Cala boca, você não sabe nada’”.

Este é só um dos exemplos da história da mais importante e influente revista brasileira. Virou prática corriqueira a revista criar factóides que não se apóiam na realidade e praticar um jornalismo persecutório e irresponsável. Nem mesmo ouvir os dois lados ela ouve. Há algum tempo a revista vem se esmerando em publicar pseudo-reportagens que desancam personalidades públicas, movimentos sociais e partidos políticos que tenham qualquer viés progressista e de esquerda. Não que os outros órgãos sejam inocentes. Não são. Mas tudo tem limites! Abaixo, dois exemplos que não me deixam mentir...

Não, ainda não acabei!
Também na primorosa edição, a Veja, na matéria "O mensalinho da filha de Elis", acusa a Warner de se valer do chamado jabá para divulgar o novo CD de Maria Rita, Segundo. Trinta profissionais de imprensa receberam um mini-iPod junto com um DVD e o CD da cantora. A revista afirma que a intenção era, “obviamente, conquistar a simpatia dos jornalistas” e que “a maioria escreveu resenhas e perfis chapa-branca – cuja tônica, curiosamente, é que a moça estaria se emancipando da influência materna”. A Veja diz que “Istoé publicou que Maria Rita ‘está cantando esplendidamente’. Sua derivada, a Istoé Gente, lhe dedicou uma capa. No caso do jornalista da Época, a Warner matou dois coelhos de uma cajadada: ele escreveu uma matéria simpática na revista e outra mais elogiosa ainda na Bravo! (...)”. Ainda segundo o texto, poucos veículos devolveram o iPod: a Folha de S. Paulo e O Globo. Para ver a denúncia, clique aqui.

A reação foi imediata. Em artigo publicado no Observatório da Imprensa, Luís Antônio Giron, da Época e colaborador da Bravo!, rebateu as acusações de Veja e criticou o fato da equipe da revista não ter escutado nenhum dos colegas que, apesar de não serem mencionados diretamente, estavam no centro da discussão. Ele, que diz ter devolvido o iPod, afirma que Sérgio Martins, repórter de Veja, lhe disse que a matéria foi encomendada. Veja a resposta de Giron aqui. "Eu tentei me defender no escuro, pois não me foi dado o direito de ler a reportagem. E a Veja não ouviu o outro lado, não me procurou para saber a verdade. Além de ferir uma regra do jornalismo, os jornalistas que não tiveram coragem de assinar o nome: cometeram uma atrocidade, caluniaram um colega, sob pretexto de denunciar um jabá que não existiu", diz o jornalista da Época.

Só mais uma!!!
Alguem sabe quem é Diogo Mainardi, o astro de Veja? Aquele que tem blog de fãs e comunidade no orkut? Pois é... Em sua última coluna, ele conta sua viagem a Brasília e narra a cobertura da eleição da presidência da Câmara e, ao fim, registra: ‘Aldo Rebelo acaba de ser eleito. Os mensalistas atiram-no para o alto. Todos os deputados com quem falei hoje - foram mais de trinta - o consideram um perfeito idiota. Por isso estão tão felizes. Por isso não o deixam se espatifar no chão’.

Pois bem, o jornalista Renato Rovai também estava lá em Brasília e acompanhou o astro de Veja. Olhem que pérola: "Ele não só não ouviu isso de trinta deputados, vou além, nem falou com quinze enquanto por lá esteve. Vi esse Mainardi como um ratinho, encostado no fundo do plenário, por horas, falando baixinho e olhando pro chão. Parecia ter medo que alguém lhe fosse cobrar honestidade ou coisa do gênero. Algo ridículo. Deu umas zanzadas pelo salão verde e voltou para o seu esconderijo. Depois dessa sensacional ‘missão jornalística’, foi para o seu laptop e ‘corajosamente’ escreveu aquilo que o chefe adoraria ler. E ofendeu a quem o chefe gostaria de ofender. Sem ter compromisso com o real, só com sua corajosa missão de agradar a quem lhe garante a coluna.”, diz. Adoro isso!!

Para quem tiver tempo neste fim de semana, pode dar uma passada na comunidade do orkut: Leu na Veja? Azar o seu!

terça-feira, 4 de outubro de 2005

Mártir

Ou: Intenção de suicídio vale?

O drama do frei Luís Flávio Cappio, que se recusa a comer desde o dia 26 de setembro por causa do projeto do governo federal de transpor parte das águas do Rio São Francisco, está não só contagiando como mobilizando a cada dia que passa mais pessoas aqui no Nordeste. Não só caravanas de gente “simples” de estados como Bahia, Sergipe e Alagoas estão se dirigindo à Capela de São Sebastião, em Cabrobó (PE), como também políticos, religiosos e muitos, muitos oportunistas.

Na época do “farinha pouca, meu pirão primeiro”, ver uma pessoa demonstrar essa disposição em defender - com a própria vida se for o caso - algo em que acredita é excepcional. Afinal, por que causa eu daria minha vida hoje, agora? Não digo um projeto individual, porque para isso eu já dou o meu sangue e o meu suor diariamente, obrigado. Digo causa mais ampla, social. Hummm.... Bem, eu posso simplesmente dizer (e de forma bastante sincera!): “Eu já faço a minha parte” como aquele bendito beija-flor que teima em apagar sozinho o eterno incêndio daquela maldita floresta. É uma saída, não?

Mas existem situações em que é preciso o fervor da paixão, as batidas do coração de um beija-flor, o brilho dos olhos da loucura, a coragem da exceção. Não sou do tipo de pessoa que sai pelas ruas gritando palavras de ordem nem tenho talento para ser mártir (e, depois de minha morte, virar estampa de camiseta ou souvenir como Che Guevara). Não, não. Dou o maior apoio, claro, assim como para aqueles que querem “lutar” pela paz, pelos animais, pelos pobres da América Latina, pelos países da África, pela Mata Atlântica, pelo desarmamento, pelo boto cor-de-rosa, contra ACM, etc, etc, etc. O que não faltam são causas. Evidente que muitas se esvaziam quando absorvidas pela lógica do consumo. Mas isso eu falo depois.

Paisagem do São Francisco em Minas e Alagoas

Todos nós temos nossos anseios, nossos projetos (ou não, não é verdade? hehe! Afinal, a vida é uma incognita, qual é a sua missão? Existe missão? Ó vida, ó céus!! hehe! Brincadeira, estou sacaneando!) Agora, se for parar para pensar bem, acredito que o que sempre me motivou foi a questão da liberdade de expressão e o respeito ao outro. Como se diz aqui na Bahia "eu dou pra ruim", "rodo a baiana", "dou pitti" quando vejo algo indo contra essas minhas convicções. Enfim...

O drama do frei me comove porque se não fosse por esse ato, o projeto do governo de bombear parte da água do rio São Francisco para beneficiar moradores do semi-árido dos Estados de Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, passaria em nuvens eurodescendentes para mim. A obra vai custar R$ 4,5 bilhões. É muita grana, caralho! Os principais críticos dizem que esse projeto não vai resolver o problema histórico da seca do Nordeste e que o que o rio precisa mesmo é ser revitalizado. Vamos ficar atentos! Agora, acho esquisito a Igreja Católica apoiar uma intenção de suicídio.

Bonus Track:
Quase, de Luis Fernando Veríssimo

"(...)É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.(...)Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. (...) Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.(...)

Sim, eu voltei.