terça-feira, 31 de janeiro de 2006

O "bebê" da Globo

Até quando a Globo continuará mostrando as cenas do resgate do bebê achado boiando dentro de um saco plástico na lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte? As imagens de um cinegrafista amador são chocantes, mas a exploração delas é muito pior, irritante. Desde sábado que isso vem acontecendo. A notícia, que era para ser informativa, passou, num piscar de olhos, a ser sensacionalista.

Depois do Jornal Nacional ter dado o furo no sábado (minto!... ter recebido as imagens em primeira mão), o Fantástico passou as imagens novamente no domingo, com um detalhe: mostrou "por inteiro, sem cortes" o momento do resgate. No site, o "Cansástico", como diz com razão José Simão, se orgulha do fato. Ontem, as imagens foram repetidas exaustivamente durante todo o dia. Em O Globo, jornal do grupo, o mesmo processo. As pessoas podem ver, inclusive, fotos da imagem. Mórbido tudo isso.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Impressão

Não sabia da existência desse escultor até receber por e-mail algumas imagens. Fiquei impressionado. Gostei. São de Ron Mueck, um artista plástico australiano radicado em Londres. O cara tornou-se famoso por suas esculturas hiper-realistas e é um dos principais nomes da arte contemporânea e de vanguarda.





Quem quiser saber mais, dá um google, tá? Para facilitar, pode ir aqui também. Ou aqui. Ou, se quiser, ver este slide show. Viu como sou uma pessoa boa?

sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

Diga graaaana!

Ou: O Big Brother chinês

Democracia
Liberdade
Direitos humanos
Taiwan
Dalai-lama
Tibete


Essas são algumas das palavras às quais os chineses não têm acesso na internet. O governo de lá, apesar de permitir o uso da web para educação e negócios, exerce um rígido controle sobre o conteúdo que é publicado. Em função disso, o Google, para entrar no mercado de cerca de 100 milhões de pessoas (o segundo maior do mundo), não se fez de rogado. Na quarta-feira, finalmente capitulou e passou a permitir que o governo chinês decidisse sobre o que deve e o que não deve aparecer em seu buscador. Os internautas que procuram algumas das palavras citadas logo acima são direcionados a endereços que divulgam opiniões oficiais do país. Preocupante.

Novas construções convivem com cultura milenar

Com isso, o Google entra para a lista das empresas que, para ganhar dinheiro, abaixam as calças e deixam que o governo pratique a censura em seus conteúdos. O Yahoo e a Microsoft já fazem isso há algum tempo e estão ganhando dinheiro, apesar de tudo. Afinal, a China é o país que mais recebe investimentos estrangeiros no mundo e o mercado é incomum: acima de 1 bilhão de pessoas, seis vezes maior que o do Brasil. Na quarta-feira, foi divulgado que, com o crescimento do ano passado, o país passou a ser o quarto mais rico do mundo, atrás dos EUA, Japão e Alemanha e à frente da Inglaterra e da França. Dentro de 30 anos, passará os Estados Unidos.

Como toda ditadura (eu os vejo assim), o governo chinês tem medo de informação. E a liberdade de expressão proporcionada pela internet o incomoda. E muito. O discurso oficial para as ações restritivas diz que a internet é um lugar "sujo", onde se tem acesso a informações "nocivas sobre cultos religiosos, política, superstição e pornografia". A conseqüência disso é que em 2004 (só tenho esse dado), foram fechados cerca de 13 mil cybercafés. Em Xangai, maior cidade do país, câmeras de vídeo vigiam locais públicos de acesso à internet para verificar se os usuários acessam páginas proibidas. Criticar o governo abertamente na rede nem pensar: pode dar cadeia. E foi isso o que aconteceu com três estudantes universitários, condenados em 2001 a oito anos de prisão cada um, após defenderem, via internet, a necessidade de reformas democráticas no país. Também não são poucos os chineses presos e torturados por se manifestarem contra o governo.

Mais de 1 bilhão de pessoas. Quando nascem, nascem muitos. Quando morrem, mais ainda...

Um fato curioso é que o governo vem cadastrando "comentaristas on-line" para atuar em fóruns e salas de bate-papo para defende-lo de comentários negativos. Pior: desde setembro do ano passado está vigorando a determinação de que os sites chineses que quiserem publicar notícias deverão pedir aprovação do governo. Organizações como Repórteres Sem Fronteiras e o Comitê para a Proteção de Jornalistas criticam o país pela crescente censura. Os líderes comunistas chineses foram qualificados pela Repórteres Sem Fronteiras como "os maiores inimigos da liberdade de imprensa".

Bem... Ninguém sabe o que realmente acontece na China. Ou, então, quem sabe, não diz. Fica debaixo do pano. Em diversos relatórios de organizações internacionais o país é citado por desrespeitar os Direitos Humanos. Os prisioneiros políticos lotam o sistema penitenciário e são submetidos a tortura, cárceres precários e julgamentos sem direito a defesa. As execuções ainda são comuns. O país é campeão em pena de morte. Há ainda campos de trabalhos forçados e é alto índice de trabalho infantil. Não poderia deixar de falar na perseguição religiosa. O governo nega tudo. É por essas e outras que gostaria muito de bater um papo com Sônia Bridi, correspondente da Rede Globo em Pequim. Como é que o governo chinês lida com os correspondentes?

Festival da Primavera, que começa neste domingo

Essa é uma das perguntas que me faço. Outra é: Se a China está dando tão certo, será que em algum momento ela levantará a hipótese de ser um país democrático? Por que os americanos (excluindo as organizações não governamentais e a ONU) e os europeus não pressionam o governo chinês assim como fazem com os árabes e cia.? Bem... Recentemente, um repórter fotográfico em vez de pedir que as pessoas mais fechadinhas falassem o tradicional “xis” para sairem menos enfezadas na foto, ele soltou sempre a pérola: "- Diga: graaaaana!" Pois é, os tempos são outros. Compra até ideologias.

Bem, a democracia não é perfeita. Nós brasileiros sabemos muito bem disso. Nossa Constituição é desrespeitada em plena luz do dia. Mas até agora é o sistema menos ruim de organização criado pelo homem. Todas as democracias, embora respeitem a vontade da maioria, têm por obrigação proteger os direitos fundamentais dos indivíduos e das minorias. E estas, principalmente, devem acreditar que o governo vai proteger os direitos humanos fundamentais como liberdade de expressão, de religião e de crença, julgamento justo e igual proteção legal, além da liberdade de organizar, denunciar, discordar e participar plenamente na vida pública da sua sociedade.

Para chegar a esse estado, é preciso amadurecimento. Não acho que seja um processo natural. Não é enfiando goela abaixo, como os americanos fizeram no Afeganistão e estão fazendo no Iraque, que esses lugares se tornarão democráticos. A minha geração não sabe o que é censura nem repressão. Pode criar blogs, fotologs, freqüentar orkuts da vida; as mulheres votam, dirigem e não são apedrejadas por isso. Posso dizer que a Bahia é o cu do mundo e fazer piada com nossos políticos, de Lula a ACM. Enfim... temos liberdade de expressão.

Se o Google quiser ganhar dinheiro, isso é problema dele. Nós também fazemos nossas concessões no nosso dia-a-dia. Porém, na medida que todo mundo diz "a bênção" para algo que o mundo chamado "civilizado" condena, isso é um precedente para algo muito pior. O contraditório foi que o Google negou passar informações de seus usuários para o governo americano, alegando que isso fereria a liberdade das pessoas. Hummm, sei não... Só sei que em 2008 a China sediará as Olimpíadas e o que veremos por todo lado serão propagandas de que lá é o futuro da humanidade. Deus me livre e guarde! Mas, em todo o caso, se eu já aprendi inglês, por que não mandarim?

Veja aqui slide show com fotos da China.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Hora do recreio

Rolling Stones na praia de Copacabana no Rrrrio: R$ 0,00. U2 em EssePê: R$ 200,00. Chiclete com Banana em EsseEsseÁ, R$ 3.250,00. Perder a noção da realidade e comprar ingresso na mão de cambista: não tem preço.

U2 em EssePê. Uma vez na vida...

Não foi só do caos na venda dos ingressos do show do U2 no Brasil que os fãs da banda reclamaram na semana passada. Muita gente achou o preço das entradas para conferir a turnê “Vertigo” no Morumbi um pouco salgado. Afinal, não é só paulista que vai ver o espetáculo, não é verdade? Mas, nem se fosse! O mais barato – o pistão - ficou na faixa dos R$ 200,00. Quem teve o intere$$e de pagar por um ingresso que promete a possibilidade de ver o show em um lugar mais confortável (!?) pagou uns R$ 380,00. No entanto, apesar das milhares de pessoas que não conseguiram comprar o ingresso nem pessoalmente nem por internet para o dia 20 de fevereiro ainda terem a esperança de conseguir “unzinho” para o dia 21, já tem cambista vendendo a entrada do show por R$ 600,00, com viés de alta. A abertura do espetáculo ficará por conta da banda Franz Ferdinand. Quem for poderá ver aqui algumas dicas para não pagar micos.

Rolling Stones nas areias de Copa. Provavelmente, a última

Bem... pelo menos desse problema não sofrerão os cariocas. No dia 18 de fevereiro, as areias de Copacabana servirão de palco para o mega-hiper-ultra espetáculo dos tios do Rolling Stones. Se será bom, eu não sei. Mas é de “graça”, o que já vale o esforço de passar alguns dias retirando areia de partes obscuras do corpo. Dizem por aí que Madonna também virá. A expectativa é grande.

E EsseEsseÁ, coitada? Depois do show do Menudo na década de 80, nenhuma grande atração internacional dá as caras na boa terra, terceira maior cidade brasileira, diga-se. Corre à boca miúda que, quando Ivete Sangalo e Cia. inaugurarem a casa de espetáculos no Shopping Iguatemi, Lenny Kravitz virá. Não é muito, mas já é alguma coisa. Vamos aguardar. Sempre digo que baiano também é brasileiro e não desiste nunca. E, nesse meio tempo, ele dá um jeito. Pois bem... Se o ditado diz que se Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé, o que é que a Bahia fez? Criou os seus próprios Maomés.

E o caro recreio baiano. Com viés de alta!

Pois é. A indústria do entretenimento que virou o verão baiano na década de 90 faz com que, hoje, a apreciação das atrações locais, consideradas por alguns tosca e de péssima qualidade, custe mais caro do que um show do U2. Vale a pena? Bem... quem vem para o carnaval diz que sim. Principalmente com as facilidades do parcelamento do cartão de crédito.

Se é verdade que os blocos e camarotes tornaram-se lucrativos empreendimentos, historicamente a “atração” mais cara e disputada do carnaval baiano é, sem dúvida, o Chiclete com Banana. Eles não saem na mídia, se não me engano o finado Waly Salomão disse que valia menos que uma formiga numa poça d´água, mas lotam há anos não só os blocos Nana Banana (quinta a sábado), Camaleão (domingo a terça) e o Voa-Voa (madrugada de quarta)em EsseEsseÁ como blocos espalhados por todo o Brasil. Claro que a maior parte dos integrantes do bloco é de turista. A febre pela banda nesse período é tão grande que o valor da fantasia do tradicional Camaleão pode chegar a R$ 1 mil um único dia! Quem quiser os três, pagará R$ 3.250,00. Com viés de alta, naturalmente.

Correndo por fora: Fatboy Slim e Franz Ferdinand

Para brincar no carnaval dentro das cordas, o folião tem que desembolsar no mínimo R$ 180,00. Como não é possível a compra de apenas um dia, a pessoa tem que fazer o pacote de três. Um dia com Daniela Mercury sai a R$ 230,00. Com Timbalada, R$ 300. Os abadás para ver Claudinha, do Babado Novo, estão quase esgotados. Resta apenas a terça-feira por R$ 350,00. E o negócio é correr, pois o tempo está passado. Os preços "oficiais" podem ser vistos aqui. Além disso, comprar abadá para revender é considerado um poderoso investimento. A dica é fazê-lo na semana do carnaval. Como a adrenalina sobe para a cabeça do folião/turista contagiado pelo clima da cidade, a pessoa não pensa duas vezes em pagar qualquer preço por uma fantasia. O ganho pode ser de 100%. Agora me diga: qual foi o rendimento da poupança?

Por outro lado, quem não tem condições de pagar por uma fantasia (ou acha absurdo/extorsão fazê-lo)pode ver seu artista no carnaval da Bahia, ao contrário do show no Morumbi. É só se juntar a turma fofa da pipoca. Muita diversão.

Maomé adaptado
Uma das mais aguardadas apresentações do carnaval deste ano pelos modernos será a do DJ britânico Fatboy Slim, que tocará no circuito Barra-Ondina em cima de um trio elétrico. (Além de criar Maomés, os que vêm para cá têm que se adaptar a cultura local). Está saindo por R$ 180,00. Mas, como eu disse, tem que comprar conjugado com outra coisa. Ou então esperar pelos cambistas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Quanto? Eu sou baiano, caralho !!!

Ou: Formação de preço em EsseEsseÁ = Custo + cara/origem do turista + noções de baianês

- E aí, quanto custa a cadeira de praia?
- Quatro 'real'.
- O quê? Tá me achando com cara de turista, é? Nãããããã, eu sou baiano! Ôxe!
- Esse é o preço dos cara...
- Oxente? Dou R$ 1,50?
- R$ 1,50 é quebrança. Vai, leva por R$ 2,00, leva... Mas só vou fazer pra você, tá ligado?
- Fechado!


Na lista das vantagens de se viver em EsseEsseÁ, um dos principais destinos turísticos do país, destaca-se facilmente o item que diz que você é um felizardo por morar em um local pelo qual muita gente daria a alma para passar alguns dias ou, então, viver eternamente. Menos uma despesa, não é mesmo? Aliás, esse ponto é tudo: imagina como é viver em uma cidade que ninguém sabe onde fica? Péssimo, né? É! E é bom saber que sua terra - a da Felicidade, nunca esquecer isso! -, famosa por sua história, cultura, manifestações artísticas, culinária, belezas naturais, “povo”, etc., inspira poetinhas e faz a fantasia dos turistas correr solta em campos abertos e verdejantes.

Morar em EsseEsseÁ na alta estação é...

Outro ponto dessa lista, que te deixa super orgulhoso, é dar uma de guia turístico. Pronto! Aí, é preciso lenço pra limpar a baba. Nesse momento, até os críticos mais ferrenhos desta praça (Salvador é uma praça! ou ovo como dizem os mais radicais), se lembram das belezas e singularidades da terrinha (esta terrinha que eles desfrutam diariamente de barriga cheia apesar dos pesares) e enchem o peito para falar as qualidades incomparáveis da sua cidade cartão-postal. Muito fofo.

De acordo com a Secretaria de Turismo, somente para o Carnaval de 2006 são esperados cerca de 1 milhão de turistas, 457 mil só em EsseEsseÁ, 6% mais que em 2005. Essas pessoas, caríssimos, são suficientes para lotar praias, bares, restaurantes, hotéis e praticamente todos os estabelecimentos comerciais e de serviços que atuam no ramo do entretenimento. É só dar um passeio pela praça para “sentir” a presença estrangeira.

Pois bem, em função disso, uma das piores coisas de se morar numa cidade turística como EsseEsseÁ é que, na alta estação, não há bolso de nativo que agüente. Todo mundo quer tirar o pé da jaca. Resultado: os preços são tabelados por aqueles que tem trocados para gastar. E quem tem dinheiro para gastar em Salvador? Turista, claro. Se tiver pele clara e falar diferente, então... o preço sobe na hora.

Faço uma sugestão para que os cursos de marketing da vida estudem a formação de preço em EsseEsseÁ. Tem os custos + impostos (Talvez. Só vou colocar por uma questão didática) + cara/origem do turista + noções de português (se não não entender português, não quero nem estar por perto) = valor final.

Ou seja: tudo sobe de valor e diminui de tamanho pelo menos até março. Fica impraticável frequentar restaurante, pizzaria ou qualquer barzinho nesse período. Isso sem falar nas festas! (Elas serão assunto para outro post). Sexta-feira, na despedida de uma colega que cobriu as minhas férias, fomos a um restaurante especializado em caranguejos. Apesar de escolado nos truques baianos, sempre me deparo com alguém mais esperto. Só sei que, com R$ 20 dinheiros, "comi" dois caranguejos e uns quatro ou cinco pedaços de carne do sol, com uma farofinha ordinária, além de duas cervejinhas long neck. Pelo menos estava gostoso. Mas é que até hoje morro de fome por causa desse tira-gosto! Ódio. Claro que minha vontade de comer caranguejo é diretamente proporcional à minha preguiça de ficar espancando o bichinho morto. Mas, faça-me o favor, né? Soteropolitano deveria andar com uma plaquinha: - Sou baiano, sou seu irmão. Não vou deixar você quando terminar o verão!

...quebrança.

Enfim... Mais que uma desvantagem de morar em EsseEsseÁ, fico indignado ao constatar que dois dias antes, eu e mais alguns amigos fizemos uma moqueca de peixe, com um pirão maravihoso. Teve até caldo de sururu na entrada. Quase desmaiei de tanto comer. E tudo não saiu mais que R$ 10,00 para cada pessoa. Resultado: o segredo de um nativo sobreviver a alta estação na cidade é participar de festas particulares ou, então, curtir o turismo com os estrangeiros (brasileiros ou não), sem gastar como eles. Afinal, você tem que guardar o seu para a sua viagem, não é mesmo? E se juntar aos 60 milhões que visitam a França anualmente.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2006

A insustentável leveza de ser baiano

Ou: Os dois “efes” da Bahia

De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder. (...)

Se de dois ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.
(Gregório de Mattos)

O que é a Bahia, não é minha gente? Alguém saberia definir o estado onde o Brasil nasceu, por favor? Dizem alguns, em verso e prosa inclusive, que é a terra da felicidade, da alegria... o lugar ideal para viver, para não fazer nada. Tem povo acolhedor, sorridente, servil, além de belas mulatas. Eu, particularmente, gosto muito de uma definição feita ainda no século XVII pelo poeta baiano Gregório de Mattos, o Boca do Inferno. Segundo ele, o estado é composto não pelas cinco letras que são B-A-H-I-A, mas por dois “efes”: um de furtar e outro de foder. Alguém duvida? Não importa... A Bahia - terra de Glauber Rocha, Caetano Veloso, ACM e Padre Pinto - tem um conjunto de peculiaridades que a torna um lugar singular, único, e a faz oscilar, a todo o instante, entre o moderno e o arcaico. Não é por acaso que eu digo que "para qualquer absurdo há sempre um precedente por aqui”.

- O que é que a Bahia tem? Tem baiana, tem ACM...

Bem... hoje a Bahia (ou a cidade da Bahia - que é EsseEsseÁ) festeja a Lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim. É o mais importante evento popular do estado depois do Carnaval. Não preciso falar que nada se compara às festas religiosas desta cidade, principalmente a do Bonfim. Muita gente pede folga no trabalho. Outros inventam doença, morte de tia distante, etc... É uma coisa. Político que se preze e tenha algum respeito pela Bahia tem que estar presente. As baianas são as protagonistas desta história. Pela manhã elas puxam o cortejo de oito quilômetros a partir da Igreja da Conceição da Praia, entoando cânticos de louvor ao Senhor do Bonfim. Atrás delas vão devotos, políticos, artistas, gente protestando contra o FMI, o governo Lula, turistas e os baianos dos ff. A lavagem das escadarias propriamente dita acontece pela manhã. Depois, só quem foi e Deus são os que sabem. Ou não, a depender da cachaça tomada. Quem não gosta, vai para festa privada ouvir axé. Agora, quem quer entender um pouquinho do que seja Bahia tem que ir ao Bonfim. É obrigatório.

Mais Bahia: Onde está o padre Pinto?

Semana passada, as atitudes no mínimo curiosas do padre José Pinto, da Igreja da Lapinha, em EsseEsseÁ, tornaram-se tema de calorosas discussões na Bahia e no Brasil. Como eu disse, tem que acontecer primeiro aqui. Até o Fantástico abordou o assunto. O que aconteceu? Basicamente, o padre celebrou missa maquiado e fantasiado de Oxum, participou de um balé vestido de índio guerreiro, requebrou, saracoteou na nave da igreja e levou hóstia a uma mãe de santo de joelhos. Alguns ficaram chocados. Outros, adoraram. Passada a surpresa, o que todo mundo está se peguntando hoje é: - onde está o padre Pinto?

Para aqueles que não acompanharam o episódio, na semana passada o padre em questão reuniu representantes do clero, da comunidade e convocou a imprensa para declarar a falta de apoio e de recursos da Prefeitura - agora comandada por um evangélico - para a tradicional festa dos Reis Magos da Lapinha. Disse inclusive que foi destratado. A reclamação surtiu efeito e na quarta-feira o dinheiro foi liberado. Na quinta, aconteceu o que aconteceu. Durante a missa, o padre chegou a chorar e a pedir que não o tirassem da paróquia, onde está há 30 anos. Mesmo assim, um grupo de católicos apresentou um abaixo-assinado pedindo sua saída da paróquia, com o argumento de que ele estava aproximando a celebração católica do rito do candomblé. Dom Geraldo Majella condenou o comportamento e afirmou, por meio de nota, que o padre merecia cuidados terapêuticos.

... e tem Padre Pinto

Em entrevista publicada hoje no jornal A Tarde, o arcebispo primaz do Brasil e presidente da CNBB afirma que ficou sabendo do episódio pela TV: "Fiquei muito surpreendido pelo modo como ele estava vestido e se comportou. (...) Ele cometeu vários erros. O modo como se apresentou não era um ritual tipicamente romano. O aparato muito misturado com outras formas de liturgia não-católicas não é lícito, pois não pode haver essa mistura", disse.

Questionado se o padre Pinto sofrerá algum tipo de punição, Dom Geraldo respondeu: "Nós não temos nenhum Exército nem cadeia para castigar ninguém. O que queremos é a obediência (...) Deve-se saber que há um princípio de rito católico e quem abraça essa fé deve ser fiel a ele e segui-lo de modo como ele está estruturado".

Artista plástico e bailarino de formação clássica, o padre Pinto é conhecido por ser um irreverente agitador cultural em sua paróquia. De todo esse episódio, achei o padre um entusiasta. Afinal, a festa tradicional estava esvaziada, sem estímulo. "Estou seguindo o Papa João Paulo II, o nosso João de Deus, que pediu a todos nós, padres, que tivéssemos novos métodos de evangelização”, justificou o padre. Bem... eu sou um dos que estão na torcida para que ele volte. hehe. Mas é o que eu sempre digo: Coca-cola é isso aí. (Ver texto: Barrada no baile, de 24/11).

sexta-feira, 6 de janeiro de 2006

Ano novo, vida nova?

Ou: Marquei um almoço com meu fantasma de 2005. Para exorcizá-lo, evidentemente.

Definitivamente, é o que todos desejamos. Começar um novo ano com a esperança de que os nossos problemas (amorosos, familiares, financeiros, etc) sejam resolvidos. Todo fim de ano é a mesma coisa. Não é por acaso que todo mundo - todo mundo mesmo! - apela para alguma superstição: pular onda, comer lentilha, usar roupa branca, jogar semente de uva no telhado de casa, acender vela, ad infinitum. Pior - e esse é um dos motivos que mais me faz acreditar que os humanos são loucos - pensamos que alguma coisa vai acontecer na passagem de 31 para o dia primeiro. Nossos nervos ficam na expectativa de que algo realmente aconteça, como um passe de mágica: um novo amor (rico de preferência!), uma proposta maravilhosa de trabalho (com salário polpudo, claro!) e uma mudança para o exterior (Paris ou Ibiza, porque ninguém sonha com pouco, né?). Você sonha, porque você merece ter uma droga de vida melhor, mesmo já tendo conquistado tudo o que a sua idade, escolaridade, ascendência e experiência lhes permite.

Li um texto no blog Sopinha de Letras do dia 02 que me fez pensar nessa nossa crença de que tudo vai mudar como um passe de mágica. No final do texto Jorge diz algo do tipo: "Afinal de contas, penso que o feliz ano novo depende muito mais daquilo com que se aprendeu com os obstáculos do passado do que das lembranças do que já foi bom".

Eu, como uma pessoa aparentemente normal, aprendi muitas coisas em 2005 e tento encontrar sempre novas maneiras de superar meus obstáculos. Isso é sério. Depois de passar um dos melhores reveillons de minha existência de vinte e poucos e alguns anos (sim, foi muito chique!), no dia primeiro fui a um show em que metade de meu passado amoroso estava presente. Ou seja: 2006 já começou em balanço. (hahaha!) Encontrei, inclusive, o meu mais denso "problema" de 2005, se é que vocês me entendem. Pois bem, chegui aonde eu queria.

O que eu e meu problema fizemos? Marcamos um almoço. Olha que evolução! Achei aquilo tudo muito maduro e, é claro, daria um bom post do tipo "otimista", "a vida é bela"... essas coisas que todo mundo se emociona. Um caso a ser contado para amigos nos botecos da vida, uma dica para superar seus obstáculos ou exorcizar seus fantasmas. Dá no mesmo: "Em 2006, marque um almoço com seu fantasma de 2005". Bom slogan.

Então... ontem, quinta-feira, fui ao tal almoço. Abre aspas. Adoro as pessoas que sabem cozinhar bem. E venero quem cozinha pra mim, especificamente. Adicione ao script um vinho branco. Fudeu. Fecha aspas. Foi ótimo. No entanto, hoje, sei lá, eu acordei meio desanimado: não fui para academia, não fui à praia (estou de férias), não estou com vontade de sair e acho que estou com febre. Espero que tenha sido alguma insolação (faça-me o favor, né?) ou alguma gripe (há anos que não tenho a doença). É menos humilhante, se é que vocês me entendem.

Enfim... um texto que era para ser "enfrente seus problemas e almoçe com eles", terminou como "cuidado ao remexer no passado. Às vezes, é melhor que fique por lá mesmo".

Bonus track
Duas pessoas se encontram no dia primeiro e começam a falar do passado amoroso. O que acontece depois. Elas:
(a) Tomam vinho
(b) Se abraçam
(c) Se beijam
(d) Transam
(e) Todas as alternativas
(f) Nenhuma das alternativas. Vão para casa dormir.

PS: Minhas férias terminam na próxima semana. Vou tentar atualizar o blog com mais frequência. Cheiro.