sexta-feira, 27 de agosto de 2004

Reflexão # 4

É inevitável, mas hoje mais do que nunca tenho certeza de que:

"(Mi) corazón tiene mas puertas que un hotel de putas."
O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel García Marquez

quinta-feira, 26 de agosto de 2004

Procurando, se acha!

Cena 1
Acompanhar o jogo de vôlei do Brasil contra a Rússia pela internet não foi nada legal. O site do Terra deu pau no tie break e tive que utilizar outras tecnologias mais eficientes para saber o resultado, como o rádio. Realmente, é o fim. Ainda mais quando você escuta a locutora anunciando que o time perdeu um jogo praticamente ganho. Ficou fora daquela que seria sua primeira final olímpica. Não deu. Já as russas comemoraram horrores.

Cena 2
As meninas do futebol também perderam para o eficiente time americano. Ficaram com a prata. Muito bom para quem chegou em Atenas desacreditado.

Cena 3
"Tá brabo, heim?" Na falta de brasileiros no pódio e de medalhas de ouro que ilustrem a primeira página do jornal ou de seu site, a Folha, registre-se, está sendo super criativa. Está divulgando como conquistas nossas, vitórias de pessoas que nasceram no Brasil, adquiriram outra nacionalidade e ganham medalhas para outro país, como a atleta Alexandra, italiana de identidade e pódio. Vejam abaixo a foto que ilustrou a página principal do site do jornal durante toda a manhã e tarde de hoje. Morri de rir. Só depois que as meninas de futebol do Brasil perderam o ouro, colocaram a foto de Pretinha comemorando a prata. Ficou bem melhor.

"Nascida no Brasil, Alexandra (frente) é ouro no pólo italiano", diz a Folha

* Quando termina as Olimpíadas? Domingo? Ah, bom, já não aguento mais... Agora, só falta o vôlei masculino do Brasil vencer (espero!) para eu dar o evento por encerrado. "So, I see you in Pequim, hihihi"

terça-feira, 24 de agosto de 2004

...E a vida continua

Entramos na segunda semana de Olimpíadas, com quatro medalhas, uma de ouro, uma de prata e duas de bronze. O Brazil do futebol está em trigésimo segundo lugar no quadro. Bem, não vou ser leviano como muita gente aí e dizer que “estou cansado de ver brasileiro perdendo”. Reafirmo que não deve ser esse o nosso olhar. Não somos potência olímpica. Aliás, como previsto aqui, foi um choque nacional, minto, da mídia nacional, o fato da ginasta Daiane dos Santos não ter conseguido o ouro na final do solo da ginástica artística. Podem procurar por aí como eu fiz, mas infelizmente aqui é um dos poucos lugares onde verão a Daiane vencedora.

Em um exemplo de lucidez, ela disse: - É o esporte, um dia a gente ganha, outro perde. O vencedor é aquele que, quando perdeu, luta para um dia ganhar de novo. E eu digo: - Como na vida. Assim como a ginasta, que com um quinto lugar conquistou a melhor colocação da história da ginástica artística brasileira em Olimpíadas, outros brasileiros também marcaram seu nome no esporte nacional: César Castro, no trampolim de 3 metros, com um nono lugar, e a equipe feminina de futebol. É bom lembrar que a masculina nem foi classificada.

* A judoca grega de 20 anos que brigou com o namorado e pulou do terceiro andar do apartamento que dividiam em Atenas morreu hoje. O namorado, que dois dias depois também pulou da mesma sacada, continua em estado grave. A polícia grega segue a hipótese defendida por este blog no texto "O amor...Ah, o amor...”, de 10 de agosto: paixão.

* Acompanhar os jogos pela internet é hiper hype. Mas, por que brasileiro só ganha no penalty ou no tie break?

Enquanto isso...

Em Essepê:
Numa visível e selvagem estratégia de “limpeza humana”, já são seis os moradores de rua mortos nas ruas do centro da mais “rica” cidade brasileira desde o dia 19. Dez estão internados em estado grave. Foram agredidos na cabeça a pauladas e com barras de ferro. Na falta e na falha da polícia preventiva, a outra, a que investiga, está seguindo três linhas: briga entre os próprios moradores (que eu não acredito), ação de grupos organizados - como os skinheads (que prega violência contra nordestinos, negros e homossexuais) - e movimento financiado por comerciantes que atuam na área (que eu acho o mais provável). Em artigo publicado neste sábado, o jornalista Luiz Caversan diz que nem todo o ser humano foi criado à imagem e semelhança Dele. Existe gente de quinta ou sexta neste mundo, que dá nojo, raiva, asco e repulsa. Arnaldo Jabor também fala o que é ficar de cara com a miséria.

Em EsseEsseÁ:
Numa visível e articulada estratégia de “limpeza humana”, o mais importante projeto social da terceira maior cidade brasileira está em silencioso processo de extinção. Na sexta-feira, 13, em função de um protesto de moradores, o jornal A TARDE denunciou que a Fundação Cidade Mãe, criada na gestão da prefeita Lídice da Mata, no início da década de 90, deixará de atender a cerca de 800 jovens carentes em decorrência do fechamento de algumas de suas unidades. A atual administração do prefeito Antônio Imbassahy, ligado a ACM, não está repassando as verbas para a instituição. Referência em inclusão social e cidadania, a Fundação “abriga(ava)” sete mil crianças e adolescentes, de 8 a 18 anos, de bairros pobres ou com altos índices de violência. Oferece a essas pessoas uma série de atividades educativas em horário alternativo ao da escola regular, como oficinas de cultura e esporte e qualificação profissional (técnico de informática, serigrafia, garçom, etc.). No entanto, alguns professores, sem salários, já se mandaram. Para essas pessoas, os cursos oferecidos pela instituição é uma das poucas oportunidades que terão de não se tornarem moradores de rua. Com a denúncia, a prefeitura voltou atrás e informou que retomou as atividades.

No Rrrrio:
Tiroteio em Copacabana e Globo.

Em Piriri do Mossoró:
Ninguém tá nem aí. Pra nada.

sexta-feira, 20 de agosto de 2004

Êpa, ó eu aqui de novo!

Ou: Prováveis protagonistas de algum mico ou zebra

Depois de ser adiado mais de 3.489 vezes, finalmente estreou no último domingo o novo reality show do SBT: Casa dos artistas – Protagonistas de Novela. Pois é, a emissora, que nunca foi...digamos... tradicional nesta seara, agora quer escolher, por meio da Casa, um ator (atriz) principal para a sua próxima ... hummm... “trama ficcional”. Aí, você se pergunta: - Protagonista de novela? No SBT? Hein!, é alguma pegadinha? Não, não é uma pegadinha. São várias. Se não, vejamos.

O programa mostrará o dia-a-dia de 14 ilustres desconhecidos, em sua maioria modelos, que têm em comum o sonho de ganhar o papel principal em uma novela da emissora. Mesmo tendo o conhecimento prévio de que SBT é famoso por abortar qualquer projeto (alguns de última hora até) a depender do humor de Seu Silvio, mais de 80 mil aspirantes-a-estrela-de-novela-de-TV se inscreveram. (E aí a ex-zebrinha do Fantástico, direto dos anos 80, diz com sua vozinha cut-cut: - deu zebra, ó eu aqui de novo, pegadinha número um!).

- Olha só, tipo assim, sei lá, queremos ser artistas, entende?

No programa, os “artistas” serão submetidos diariamente a um “intenso” treinamento, com “aulas” de interpretação, canto e dança. Semanalmente, eles vão ser “avaliados” por um júri de especialistas naquilo que os produtores do programa chamam de “Prova de Talento”. “Os participantes da Casa compartilham emoções reais e sentimentos únicos, envolvidos numa exigente e completa preparação artística. Para vencer, é necessário muito talento, garra e dedicação”, diz o site. (E a zebrinha saliente: - deu zebra, pegadinha número dois)

Segundo o site, o nome do programa "Protagonistas de Novela" se explica porque o vencedor "vai virar artista" (!?), uma vez que a descoberta de novos talentos faz parte da filosofia do SBT. “Prova disso foi que a vencedora da primeira edição da Casa dos Artistas se tornou a protagonista da novela Marisol (?!) e serviu de inspiração para a mudança de rumos da Casa. E de quem estamos falando? Dela, a Bárbara Paz. Bem, acredito que as pedras da Chapada Diamantina conseguem ter mais carisma do que a Bárbara, ou então ele. Agora, se para o SBT, a Bárbara é referência de dramaturgia, quem aparece? (– oi, eu aqui de novo: Pegadinha número três).

Bem, eu não sou artista, mas mesmo assim sofro pelos profissionais que sobrevivem de arte. Assim como o Fama da Globo, que até hoje não conseguiu emplacar nenhuma celebridade, acredito que o programa do SBT também não vai muito longe, não. Madonna acha a mesma coisa: “Penso que estes programas são criados mais por um tipo de vibração instantânea para a audiência do que para o desenvolvimento de um artista. Duvido que eu consideraria fazer algum deles mesmo que estivesse apenas começando. Para as pessoas que ganham eu diria para largar tudo e começar de novo”, disse quando questionada a respeito dos reality shows. Mas, com Silvio na parada, tudo pode acontecer. Ou não. Alguém duvida?

A questão é que, embora nada de consistente tenha sido realizado ainda na Casa, o programa já tem seu destaque. A concorrente Bianca Soares está sendo o centro das atenções nos primeiros dias por causa de um mísero detalhe: é travesti. Ela é o primeiro travesti a participar de um reality show na TV brasileira. Só que, a princípio, os outros não sabem ou ainda ninguém disse nada. E aí, o programa vai dar zebra ou mico?

Bonus Track:
Sobre o reality da Record, Sem Saída, apresentado por Marcio "michê" Garcia: não vale a pena comentar. Aquilo é um lixo... Tá, o outro também é um lixo, mas o da Record não tem graça alguma. Lamentável.

quinta-feira, 19 de agosto de 2004

Reflexão # 03

"Por que Deus pede tanto para ser amado por nós? Resposta possível: porque assim nos amamos a nós mesmos e, em nos amando, nós nos perdoamos. E por que precisamos de perdão? Porque a própria vida já vem mesclada ao erro."
Um Sopro de Vida, de Clarice Lispector.

- Afe!, já estava na hora deu dar as caras por aqui.

PS: Preciso explorar o mundo desta mulher novamente e com urgência.

terça-feira, 17 de agosto de 2004

Alessandra

Cena 1
O time de vôlei do Brasil, um dos favoritos a ganhar uma medalha de ouro nessas Olimpíadas, perde o primeiro set para o time chinfrim da Austrália. Você não acredita, mas sabe, tem certeza absoluta que o time tem condições de virar o jogo e se dar bem no final. Tá, até aí tudo bem. Só que entre você e o jogo existem os narradores de TV, que gritam, te dão susto e deixam os seus nervos à flor da pele em nome de algo que eles chamam de “entusiasmo” e “vibração”. Para piorar a situação, tudo isso acontece depois de você se esforçar para levantar às 9h (da madruga) de domingo depois de uma poderosa balada. Instintivamente, você sente vontade de matá-los. Analisando a situação, qual dessas opções é a melhor para passar essa Olimpíada sem precisar tomar calmantes.
(a) José Luiz Datena, da BAND.
(b) Galvão Bueno, da Globo.
(c) Acionar o botão mute do controle remoto e continuar assistindo.
(d) Cortar os pulsos por não ter pego a última promoção de TV por assinatura.
(e) Não assistir às Olimpíadas.

Cena 2
Uma coisa eu já tenho certeza nessas Olimpíadas: Não verei a prova final da ginasta Daiane dos Santos na próxima segunda-feira, 23. Não tenho condições físicas nem psicológicas para isso.

Cena 3
A pivô basquetebol feminino, Alessandra, virou minha ídola. Ela é "imensa de grande". Alessandra não corre, se arrasta. Não só acerta os lances (é a maior pontuadora do time brasileiro) como derruba quem estiver em sua frente. Adorei. Em entrevista, ela disse: "Fui a cestinha, mas isso não é o mais importante. Estou num momento bom e fisicamente muito bem”. Ô.

- Ei, psiu, me dá aqui. Essa bola é minha!

Bonus Track:
De José Simão, em sua coluna na Folha de São Paulo:
E o basquete Brasil x Japão? Tinha uma basqueteira japonesa chamada Kusuda! E o Cleber Machado disse que as meninas do Brasil estavam indo muito bem no segundo quarto e que, se continuassem assim, dominariam todos os quartos. Suruba na Vila Olímpica! Rarará! E começou o bronzeamento. Ganhamos o primeiro bronze. Em judô. Adorei! Mas bronze a gente pega em Ipanema. Bronzeado a gente já é! E a Globo transformou o Brasil em monarquia: a princesinha da ginástica, o rei do vôlei e a rainha do basquete! Realmente, ninguém merece!

segunda-feira, 16 de agosto de 2004

Faltam 4 pra 50

Me dê um é. Me dê um esse. Me dê um . Me dê um agá. Me dê outro é. Me dê um erre. O que temos? Tia Madonna, que faz hoje 46 anos. Isso mesmo. Seguidora mais que bem aplicada da Cabala, a cantora vem dizendo sempre que pode que os estudos da filosofia judaica estão mudando a sua vida. Além de querer que a chamem de Esther (inspirado no nome de uma rainha que salvou os judeus de um massacre), a rainha pop conta agora com um guia espiritual à tiracolo para pedir conselhos antes de tomar qualquer decisão em sua vida, inclusive as mais simples. O guru recebeu carta branca para dar palpites em praticamente tudo.

Mas não é só isso. A determinada Madonna tem feito exigências pra lá de excêntricas para a produção nos shows que vem realizando da turnê Re-Invention.A última foi pedir 25 caixas da água benta da Cabala para uma única apresentação na Irlanda. O que se comenta é que ela não usa a água só para beber, mas também para passar no corpo. Um detalhe é que está tentando converter outras pessoas. A cantora quer que toda sua equipe - mais de 100 pessoas - bebam a tal "Kabbalah Water" e está construindo uma escola de cabala para crianças em Nova York. A inauguração está sendo prevista para dezembro.

Madonna, aos 46: Mãe, esposa, Cabala, anti-Bush..., inglesa

Óbvio que o interesse de tia Madonna pelas escrituras sagradas do judaísmo está gerando muita polêmica junto a própria sociedade cabalista, que não admite que nenhuma mulher tenha acesso aos textos religiosos. Um dos mais velhos e sábios cabalistas judeus, Rabbi Yitzhak Keduri, disse ao jornal Maariv que não está autorizado a ensinar a Cabala a nenhuma mulher, judia ou não-judia, tenha ela o nome de Madonna ou Esther e já tornou público que nem sequer está interessado em conhecer a cantora. "Não sei quem ela é. Não sei nada dela e nem sequer a quero ver", afirmou.

Os mais fundamentalistas e puristas defensores da Cabala consideram as pretensões de Madonna uma verdadeira heresia. Alguns dizem que a versão estudada por ela está muito longe da verdadeira crença ortodoxa. Afinal, tradicionalmente apenas os homens judeus com mais de 40 anos podem ter acesso a ela por meio de árdua meditação e estilo de vida totalmente ascético.

Os críticos dizem que o súbito interesse de diversos nomes do mundo artístico (Britney Spears, Demi Moore, Elizabeth Taylor e Mick Jagger) nas escrituras sagradas do judaísmo não passa de uma moda, assim como já foi o sufismo e o budismo. Apesar disso, Madonna nega veementemente que seu interesse seja apenas uma moda passageira ou um golpe de marketing, e diz que sua devoção é sincera e que está um pouco irritada com o fato de as pessoas acharem que é uma nova onda das celebridades. Então, tá.

sexta-feira, 13 de agosto de 2004

Heróis

Começou oficialmente hoje as Olimpíadas em Atenas. A 28ª edição da Olimpíada da Era Moderna conta com um recorde de 202 países. Enfim, mais uma vez o mundo está reunido. E o nosso querido Brazil do futebol leva a sua maior delegação na história da Olimpíadas. No total, 246 atletas estão na Grécia.

Sempre gostei das Olimpíadas. Me lembro que quando eu era pequeno queria, porque queria, que os brasileiros ultrapassassem os americanos no ranking de medalhas e ficassem em primeiro lugar. Torcia por nossa vitória. Quando vi que não era possível, comecei a querer que o Brasil ficasse na frente de algum país rico, para pelo menos me confortar pensando coisas do tipo “somos pobres, mas ganhamos mais medalhas que vocês, seus riquinhos otários”. Ledo engano.

Não somos os melhores, mas sabemos sambar

As medalhas heroicamente ganhas por nossos atletas são mais consequência de seu esforço pessoal do que de qualquer política de esportes aplicada neste país, se é que alguma existe. Nos países ricos, a estrutura para treinos e de subsistência de seus atletas é, no mínimo, digna. Aqui, é preciso antes de tudo vencer com muita força de vontade os obstáculos da vida e lutar contra tudo e contra todos. Depois, conseguir sobreviver como profissional.

Em decorrência disso, acredito que a frustração sentida em 2000 pelo fato de nossos atletas não terem trazido uma medalha de ouro de Sidney, na Austrália, foi em grande parte culpa dessa mídia deslumbrada e histérica que temos. Uma coisa é torcer, outra é distorcer. Já senti que dessa vez não vai ser diferente. Em Atenas, a ginasta Daiane dos Santos é a bola da vez. Imagina se ela não trouxer a medalha de ouro?

Hoje, aos vinte e poucos e alguns anos, torço pelos atletas brasileiros porque essas 246 pessoas são exemplos de superação e de sonho possível. E também porque é bom ver lutadores.

Bonus Track
A Grécia arrasou na cerimônia de abertura. Se ela falasse, diria: "- Eu tenho história, tá!"

46


Advinha de quem é que eu vou falar nesta segunda.

Vixe!

Buuu!

Recomendo:
Figa, pé de coelho, trevo de quatro folhas, arruda... ou então pensar seriamente (mesmo) que amanhã é 14 de agosto. Afinal, ainda não sei de nada muito trágico nesse delicioso amargo mundão de Deus que tenha acontecido numa sexta-feira 13, ainda mais de agosto.

terça-feira, 10 de agosto de 2004

O amor... Ah, o amor...

Ou Não é nada disso que eu vou falar. Ao contrário.

Embora eu não tenha acesso a todos as informações, para mim a principal explicação para o que aconteceu com o casal de namorados na Grécia é uma só: Paixão. Podem chamar como quiser: passion, neigung, passione, pasión, hartstocht*. A língua não importa. A questão, ou o caso, é que o sentimento, o estar apaixonado, é um dos maiores causadores de sofrimento da humanidade.

- Que absurdo! Como você pode dizer isso, seu insensível?
- Calma, Bete, vou explicar o porquê.


A paixão é, digamos, uma das dores do crescimento. Acredito que necessária. Afinal, quem nunca ficou perdidamente apaixonado? Se não, vai ficar, é uma maldição que acabo de jogar em quem estiver lendo isso. hehe. No entanto, embora a maioria das pessoas a tenha tido sem grandes problemas, algumas não conseguem aprender absolutamente nada com ela e não amadurecem suas emoções. Outro tantinho de gente perde completamente a cabeça. E fatalmente acaba perseguindo ou matando o objeto da paixão, às vezes a família do outro, se possível até o mundo... se o mundo interferir, é claro. Ou então, suicida-se. Ou faz as duas coisas e por aí vai, incluindo sofrer anos e anos seguidos atrás de algo que não existe. Os exemplos são cotidianos e é por isso que alguns especialistas começam a tratar a paixão como doença.

- E qual o gabarito que você tem para falar sobre isso.
- Bete... - Pacientemente e dando um risinho à la Roberto Carlos. - Já passei por isso, tá?
- Quer dizer que...
- Não, não e não. Evitei a tempo de. E eu era o outro da história... o objeto, entende?
- Não.


A mais nova tragédia grega me lembrou uma entrevista que li na revista IstoÉ, em 2000. (Sabia que aquele monte de papel, que eu chamo de arquivo, iria servir para alguma coisa). Na entrevista, um psiquiatra afirma que a paixão só traz infelicidade e defende que o problema deve ser tratado no divã. “A paixão é um arrebatamento, de mal conhecer o outro e já idolatrá-lo, sem limite, sem condição alguma. O outro pode ser de qualquer tipo, nível cultural ou social. Não é preciso conhecer sua vida, família. Amor à primeira vista é, na verdade, paixão amorosa à primeira vista. A paixão é solitária. Ela vem antes do outro”, diz.


Paixão é como um beijo de Rodin. Só acontece na sua imaginação

Um caso de paixão avassaladora se tornou um clássico da literatura mundial: Cartas Portuguesas. O livro é composto por cinco cartas escritas pela freira portuguesa, Mariana Alcoforado, para o conde de Chamilly, capitão do exército francês. A freira, depois de ter dados uns amassos com o conde, fica apaixonada, mas não é correspondida. “Do fundo do coração te agradeço o desespero que me causas, e detesto a tranqüilidade em que vivi antes de te conhecer”, diz em uma das cartas. “Antes quero sofrer ainda mais do que esquecer-te. (...) Sou mais feliz que tu, pois minha vida é mais plena”. Veja só a viagem...

Outro exemplo é Florentino Ariza, personagem do romance O Amor nos Tempos do Cólera, de Gabriel Garcia Marques, um dos meus escritores favoritos. Nele, Florentino apaixona-se, ainda na adolescência, por Fermina Daza. Ela, depois de sacar que ele não era o seu tipo, dá um pé em sua bunda, e se casa com Juvenal Urbino, o melhor partido da cidade. Florentino, contra todos os percalços que a vida e sua própria amada impunham contra ele, nunca desistia. Quando Juvenal morreu, Florentino foi novamente falar com Fermina: "Esperou cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias para lhe reiterar o juramento de fidelidade eterna e amor para todo o sempre em sua primeira noite de viúva". Já velhinha, Fermina cede. Bem... nem preciso dizer que a maioria dos meus amigos (amigas, principalmente!) são fãs de Florentino. Eu idolatro Fermina. É só ler que vão me entender.

E por que a paixão é doença? Bem, o psiquiatra afirma que a paixão não conta com o outro. O apaixonado idealiza uma pessoa violentamente e descobre uma vítima para moldá-la para aquilo que já está dentro de si. Não tem final feliz. “O amor pode terminar em amizade, a paixão não. O apaixonado passa a odiar, a desprezar o objeto da paixão. É o sentimento às avessas. (...) Termina em rancor, mágoa, vingança e às vezes morte”. Enfim...

Além disso, é bem verdade que o apaixonado é romanceado. E nossa cultura estimula isso. O apaixonado, porque sofre, produz: escreve cartas, compõe música, move montanhas, vira poeta (punheteiro... hehe!). E o outro? Aquele que “passas sem ver teu vigia, catando a poesia que entornas do chão*. O que deve fazer o sujeito das obras dos apaixonados? O psiquiatra diz que tem que ser claro com o outro quando não está interessado, o que Fermina decentemente fez. “Não mostrar desprezo ou brincadeira. E também não abusar da pessoa. Porque o que for pedido ela faz”, afirma.

- Foi isso que aconteceu?
- Mais ou menos.
- E você já se apaixonou?
- Já - Preocupado - Mas foi algo que aconteceu dentro dos padrões “normais”.
- E já se apaixonou de novo?
- Já me interessei em conhecer outras pessoas. Fico constantemente entusiasmado.
- ...
- Olha, Bete, é o seguinte: morrer de amor é algo que acontece apenas uma vez na vida. Depois, ninguém mais merece que você se mate. Tá?
- Insensível.


Sim, é evidente que a lembrança da paixão é boa, nostálgica...as loucuras nunca antes imaginadas, o mundo girando ao redor de seu amor infinito, etc. Mas, se você realmente se apaixonou, no mínimo, sofreu. Muito. Afinal, nessa salada de sensações, há uma boa dose de insegurança e autodesvalorização. Ou não?

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* Na ordem: Inglês, alemão, italiano, espanhol e holandês.
* Trecho da música As Vitrines, de Chico Buarque.
PS: Quem quiser ler a entrevista completa, o site da ISTOÉ não disponibiliza o link do arquivo. Então, tem que ir lá no site da revista e procurar o Ano 2000 (19/04/2000), edição 1595. O título é "Paixão é doença" e o psiquiatra é Rubens Coura. Deixe de preguiça e vá lá. Não paga nada. Por enquanto...Boa leitura.

segunda-feira, 9 de agosto de 2004

(Mais) Uma tragédia grega?


No sábado, uma judoca grega de 20 anos briga com o namorado, de 24, e pula do terceiro andar de seu apartamento, numa provável tentativa de suicídio. Está internada em estado grave. Hoje, foi o próprio namorado quem pulou do mesmo local, tentando também se matar. Está em estado grave.

Grécia: Há mais de dois mil anos o mais interessante palco da humanidade.

sexta-feira, 6 de agosto de 2004

quarta-feira, 4 de agosto de 2004

Uma historinha...

"Era uma vez um empresário boa pinta muito, mas muito ganancioso chamado Juan Pio Paiva. Ele tinha um filho, Victor Daniel, que, apesar do belo nome, era muito, mas muito gordinho e, dizem, gostava de comer muito, mas muito chocolate e galinha assada. Seu apelido era Shrek. Juntos, viviam felizes na cidade de Assunção, no Paraguai. Eram prósperos, típicos capitalistas, e comandavam um grande supermercado na periferia da cidade, o Ikuá Bolaños.

Em um belo dia do mês de agosto de 2004, o pai ficou sabendo que tinha um princípio de incêndio em seu grande empreendimento e que alguns espertinhos queriam sair de lá sem pagar. Seria um prejuízo de Deus do céu. Por isso, com o filho, que era gerente do Ikuá, não teve dúvidas: mandou seus fiéis guardas fechar todas as portas do local. Bem... naquela época tinha gente que fazia tudo que o chefe mandava. Afinal, ninguém queria perder seu emprego. “Manda quem pode. Quem tem juízo, obedece”, era a máxima. Mas eles esqueceram um pequenino e mísero detalhe: que pessoas respiram e que fogo queima. E que dói pra caramba. Ah, se dói.

...

Sem conseguir sair, muitas pessoas morreram queimadas, mas a maioria sucumbiu em conseqüência da inalação de fumaça. Algumas delas, umas 140, ficaram irreconhecíveis. E alguns dos espertinhos que iriam furtar (e, por algo inexplicável, morreram) tinham apenas poucos meses de idade. Também morreram pais, mães, namorados, amantes, tias, filhos, cunhados, sogras, primos, conhecidos e amigos de alguém. Como toda vida é ligada a alguém, o que se viu depois foi tristeza, dor, incredulidade e revolta, como deste garoto que viu sua mãe carbonizada. Ou esse pai que foi impedido pelos bombeiros de entrar no local para tentar encontrar e salvar seu filho.

...

E, como queriam o seu Juan e Victor Daniel, mais de 46O pessoas realmente não saíram do supermercado. No entanto, umas 400 conseguiram escapar, mas não estavam em condições de pensar em quanto estavam devendo ao Ikuá Bolaños. Além de muito feridas, elas estavam, na verdade, horrorizadas com o que passaram dentro daquilo que se tornou um forno.

Foi difícil pra caramba tirar aquelas pessoas daquele lugar. Os bombeiros ficaram exaustos. Victor Daniel quando viu seu supermercado em chamas, não acreditou. Ah, também não acreditou com o que aconteceu com as pessoas. "Um foguinho?" Mas aí já era tarde. Tanto ele quanto seu pai foram detidos. Mas naquela época um homem cujo patrimônio ultrapassasse os US$ 10 milhões, como era o caso do seu Juan, dificilmente ficaria preso em um país sul-americano."

- Sabe, filhinha, sei que é uma historinha muito triste. Mas, infelizmente, o ser humano é capaz de cometer barbaridades que até Deus duvida... Durma com os anjos.

Fotos: Associated Press

terça-feira, 3 de agosto de 2004

Gotas de quereres


Chore. Não há alternativas. Não existe retorno. Siga em frente, conteste, grite... e chore. A vida te chama, mas você morre a todo o instante a procura dela. Sofre tanto, que nesse seu sofrer, a vida passa, deixando para você algumas gotas de quereres
Gota de querer – ser
Gota de querer – fazer
Gota de querer – gozar
Gota de querer – poder
Gota de querer – querer
Gotas apenas. E o movimento, embora harmonioso, não é uniforme. É deveras amaçador, inquietante e autônomo. Não é uma locomotiva. Não é uma estrada. É você, seu rumo e os seus protetores.

Para M., em 1997

segunda-feira, 2 de agosto de 2004

Só se vê em BeÁ

Ontem, a Band Bahia realizou o primeiro debate entre os principais candidatos à Prefeitura de EsseEsseÁ, o que já não era sem tempo. Não que eu goste de topar com político na televisão, não. Mas eu, pelo menos, não agüento mais ver nem ouvir falar da eleição e dos candidatos de EssePê. É evidente que eu entendo que uma disputa que conta com pessoas tão... digamos... espetaculosas como Marta Suplicy, Paulo Maluf e José Serra possa parecer mais interessante para a mídia, mas não é da minha conta. E acredito que de nenhum soteropolitano, ou alagoano, ou belenense, ou goiano, ou capixaba e por aí vai.

No entanto, as redes nacionais empurram goela abaixo a eleição paulistana como de interesse nacional, vendendo que de lá pode sair o próximo candidato à Presidência da República, que o governo Lula vai estar à prova nela, e assim por diante, blá, blá, blá!. Em primeiro lugar, candidatos ligados ao governo Lula estão à prova em todo o Brasil, inclusive em EsseEsseÁ. Em segundo, eleição municipal, como o próprio nome já diz, trata de questões específicas da localidade. Resultado disso: os outros brasileiros ficam mais informados a respeito das promessas que as figurinhas de lá fazem para lá do que de sua própria cidade. Enfim...

O resultado do debate daqui? Bem, Nelson Pelegrino, do PT, precisa mostrar ainda a que veio. Eu sinceramente não acho sua comunicação eficiente. Já César Borges (PFL), candidato do grupo de ACM, estava visivelmente nervoso e vacilante. Embora já tenha sido governador do estado, acho esse rapaz pouco confiável. E o que ele fez no debate? Atacou, atacou, atacou. Só que ele não tem a calma e a fina ironia dos bons atacantes. Em determinado momento disse irritado: “- É risível esse jogo de comadre e compadre”.

O que não deixou de ser verdade. Os outros concorrentes evitaram o combate. João Henrique, do PDT (ex-PSDB e ex-PFL), filho do ex-governador João Durval, foi o mais seguro em suas respostas. Nunca o tinha visto ao vivo e me impressionou, apesar de não gostar dele. A questão envolvendo seu vice, Maurício Trindade, acusado de pedir propina a um empresário para que a empresa deste ganhasse uma licitação da Secretaria Municipal de Saúde no valor de R$ 8 milhões há sete anos foi abordada pelo candidato carlista. Todo mundo já sabe que João Henrique não tem nada a ver com a história. O que todos querem saber é, naturalmente, como essa história só foi denunciada depois de sete anos e em plena época eleitoral. Afinal, Trindade fazia parte do governo de Imbassahy, logo ACM, logo César Borges. Muito estranho...Benito Gama (PTB), sem comentários. Não entendo o porquê de sua presença.

Bônus Track:
Com cerca de 2,5 milhões de habitantes, EsseEsseÁ é a terceira maior cidade brasileira e a segunda, proporcionalmente, mais endividada - a campeã é EssePê e o Rrrio vem em terceiro. É também o município com maior índice de desemprego do país, de acordo com qualquer órgão de pesquisa. Além disso, dos soteropolitanos que conseguem uns trocados no mercado formal, 60% vivem com renda inferior a três salários mínimos. Menos de R$ 780 por mês. Ou seja, se você pensa em procurar emprego por aqui é melhor tirar o cavalinho da chuva. Mas eu continuo aceitando visitas. A hospitalidade da terra continua em cima. hehe! Por sinal, aqui está chovendo horrores e fazendo um frio de rachar. 2O graus!!! Onde já se viu isso, si mininu?

Vai dar o que falar...

A lua e o centro de Atenas

A partir de hoje, este blog entra oficialmente em campanha política e Olímpica.