terça-feira, 1 de março de 2005

Difíceis escolhas

Ou: Dizem que a vida é simples. Eu acreditaria nisso se não fosse obrigado a tomar decisões nem escolher. Esperar decisões dos outros, então... Me mate logo.

Por acaso você está preparado para escolher? Sabia que algumas pessoas passam uma boa parte de suas vidas (ou toda ela!) questionando suas escolhas, imaginando o que poderia ter acontecido se tivesse agido de outra forma? Acredito (e não vou muito longe) que essa fase normalmente se intensifica a partir dos 30 anos: a partir daí, o muro das lamentações e do arrependimento se torna cada vez mais extenso. Pode reparar. E aí, você pensa: seria ótimo se tivesse uma segunda chance. Seria, meu bem.

A realidade, ao contrário dos livros de auto-ajuda, nos diz que não existe meio de verificar qual é a boa decisão. Aquela que nos dará o caminho da felicidade e satisfação. Aquela que nos conduzirá ao sucesso. Porque apesar de toda a estrada rodada e das armaduras e máscaras que colocamos para lutar e atuar dignamente, mesmo assim, tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. É como um ator que entra em cena sem nunca ter tido tempo para ensaiar. O primeiro ensaio da vida já é a própria vida e isso faz com que ela pareça sempre um esboço. Mas “esboço” não é a palavra certa para ela. Esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço de nossa vida não é esboço de nada, é um esboço sem quadro.

- Ai, Jesus. Onde tá esse trem, heim?

Além disso, não existe termo de comparação para aquilo que somos obrigados a escolher em um dado momento. Por que? Porque estamos cercados por ene fatores: família, dinheiro, dependência, emprego, cidade, idade, sexo, escolaridade, amigos, amores, angústia, medo, insegurança, etc... Sempre ene fatores estarão presentes nas escolhas e a decisão que uma pessoa toma sobre alguma questão não necessariamente é a mais adequada para outra pessoa. Isso também vale para alguma resolução tomada anteriormente.

Por isso que julgar, por exemplo, uma mulher que deixou a faculdade para cuidar dos filhos e da casa e depois, abandonada pelo marido e desempregada, se arrepende da decisão, é complicado. Talvez ela realmente tenha acreditado que pudesse ser mais útil e importante no papel de mãe e dona de casa do que no de advogada. Talvez ela tenha tomado a decisão com base nos fatores que enfrentou na ocasião (“alguém tem que cuidar dos meus filhos”, “depois eu poderei fazer a faculdade”, “por que não casei com outro, cáspita?”, etc.). A personagem em questão adora um “E se...”.

Só que eu não acredito nem aceito que depois ela venha dizer que deixou a faculdade por causa dos filhos e por causa deles não realizou o seu sonho de ser advogada. Não dá pra engolir. A nossa estratégia, quando nos encontramos no córner, é sempre culpar alguém ou alguma outra coisa por ter nos forçado a tomar a decisão que não queríamos. Da mesma maneira, o que mais se ouve e vê, são relações sendo terminadas (sabotadas/boicotadas) porque A não está preparado, B está confuso, C está desempregado e D já sofreu demais. Olha os ene fatores aí! Não dá pra escapar.

Aí uma oportunidade aparece na sua vida. E você, porque não está preparado, está confuso, desempregado, ou já sofreu demais, deixa passar. Para essa situação, tenho uma comparação interessante. As oportunidades são iguais a um trem que passa de vez em quando na sua Estação. Quando um passa, você tem duas escolhas: 1) pegar o trem e sofrer as conseqüências boas ou más disso ou, 2) esperar o próximo passar. Só que tem um probleminha quanto a esse último: o próximo trem que você pensa que “agora, sim, estou pronto pra pegar”, talvez ele nunca apareça. Ana Karenina, por exemplo, escolheu trocar o marido e a sociedade por Vronski, seu amante. Terminou se suicidando. Foi uma escolha. E não adianta procurar vidente, consultar rezadeira, mãe de santo.

E por que foi que eu escrevi isso? Será que foi porque eu não tenho o que fazer? Também, mas na verdade é um desabafo, do tipo não-estou-disposto-a-esperar-decisões-de-gente-que-não-sabe-o-que-quer. Tá? Sou geminiano, preciso confabular. E, ah, quer saber de uma coisa? Tem dois tipos de pessoas: 1) Aquela que apanha da vida e aprende e, 2) aquela que precisa apanhar sempre mais um pouquinho para aprender.
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