Por acaso você está preparado para escolher? Sabia que algumas pessoas passam uma boa parte de suas vidas (ou toda ela!) questionando suas escolhas, imaginando o que poderia ter acontecido se tivesse agido de outra forma? Acredito (e não vou muito longe) que essa fase normalmente se intensifica a partir dos 30 anos: a partir daí, o muro das lamentações e do arrependimento se torna cada vez mais extenso. Pode reparar. E aí, você pensa: seria ótimo se tivesse uma segunda chance. Seria, meu bem.
A realidade, ao contrário dos livros de auto-ajuda, nos diz que não existe meio de verificar qual é a boa decisão. Aquela que nos dará o caminho da felicidade e satisfação. Aquela que nos conduzirá ao sucesso. Porque apesar de toda a estrada rodada e das armaduras e máscaras que colocamos para lutar e atuar dignamente, mesmo assim, tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. É como um ator que entra em cena sem nunca ter tido tempo para ensaiar. O primeiro ensaio da vida já é a própria vida e isso faz com que ela pareça sempre um esboço. Mas “esboço” não é a palavra certa para ela. Esboço é sempre um projeto de alguma coisa, a preparação de um quadro, ao passo que o esboço de nossa vida não é esboço de nada, é um esboço sem quadro.

Além disso, não existe termo de comparação para aquilo que somos obrigados a escolher em um dado momento. Por que? Porque estamos cercados por ene fatores: família, dinheiro, dependência, emprego, cidade, idade, sexo, escolaridade, amigos, amores, angústia, medo, insegurança, etc... Sempre ene fatores estarão presentes nas escolhas e a decisão que uma pessoa toma sobre alguma questão não necessariamente é a mais adequada para outra pessoa. Isso também vale para alguma resolução tomada anteriormente.
Por isso que julgar, por exemplo, uma mulher que deixou a faculdade para cuidar dos filhos e da casa e depois, abandonada pelo marido e desempregada, se arrepende da decisão, é complicado. Talvez ela realmente tenha acreditado que pudesse ser mais útil e importante no papel de mãe e dona de casa do que no de advogada. Talvez ela tenha tomado a decisão com base nos fatores que enfrentou na ocasião (“alguém tem que cuidar dos meus filhos”, “depois eu poderei fazer a faculdade”, “por que não casei com outro, cáspita?”, etc.). A personagem em questão adora um “E se...”.
Só que eu não acredito nem aceito que depois ela venha dizer que deixou a faculdade por causa dos filhos e por causa deles não realizou o seu sonho de ser advogada. Não dá pra engolir. A nossa estratégia, quando nos encontramos no córner, é sempre culpar alguém ou alguma outra coisa por ter nos forçado a tomar a decisão que não queríamos. Da mesma maneira, o que mais se ouve e vê, são relações sendo terminadas (sabotadas/boicotadas) porque A não está preparado, B está confuso, C está desempregado e D já sofreu demais. Olha os ene fatores aí! Não dá pra escapar.
Aí uma oportunidade aparece na sua vida. E você, porque não está preparado, está confuso, desempregado, ou já sofreu demais, deixa passar. Para essa situação, tenho uma comparação interessante. As oportunidades são iguais a um trem que passa de vez em quando na sua Estação. Quando um passa, você tem duas escolhas: 1) pegar o trem e sofrer as conseqüências boas ou más disso ou, 2) esperar o próximo passar. Só que tem um probleminha quanto a esse último: o próximo trem que você pensa que “agora, sim, estou pronto pra pegar”, talvez ele nunca apareça. Ana Karenina, por exemplo, escolheu trocar o marido e a sociedade por Vronski, seu amante. Terminou se suicidando. Foi uma escolha. E não adianta procurar vidente, consultar rezadeira, mãe de santo.
E por que foi que eu escrevi isso? Será que foi porque eu não tenho o que fazer? Também, mas na verdade é um desabafo, do tipo não-estou-disposto-a-esperar-decisões-de-gente-que-não-sabe-o-que-quer. Tá? Sou geminiano, preciso confabular. E, ah, quer saber de uma coisa? Tem dois tipos de pessoas: 1) Aquela que apanha da vida e aprende e, 2) aquela que precisa apanhar sempre mais um pouquinho para aprender.
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