quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Perdas e Ganhos - Parte I

Ou: Sinais.

Eu sempre digo para mim mesmo para não me apegar aos bens materiais. Mas eles não me deixam. Não querem separação. Voltam. (Ainda bem).

Na terça-feira, por duas vezes minha carteira quis se separar de mim. Na primeira delas, eu estava a caminho do trabalho e esqueci no carro de uma amiga minha. Aconteceu que, quando fechei a porta do veículo, me lembrei que faltava algo. “Ai, meu Deus!”, disse. Eu tenho um problema sério: uma das minhas manias é que eu coloco, quando sento, a carteira entre as pernas e não no bolso de trás como todo mundo. Tsc, tsc... Apenas no final do dia foi que percebi que deveria prestar mais atenção aos sinais. Buuuu! Se não, vejamos:

À tarde, não teve jeito. (Vou logo pro final: à la Tarantino hehe). Fui parar em uma delegacia para fazer um boletim de ocorrência pela perda da carteira. Explico: é que depois do almoço tive que fazer um trabalho externo. Para matar o tempo, dei uma passada na biblioteca Juracy Magalhães, no Rio Vermelho, bairro boêmio, conhecido pela festa de Yemanjá e por ser o point das mais famosas baianas de acarajé de EsseEsseÁ. O prédio fica debruçado sobre o mar da Bahia, uma maravilha... Bem... Em vez de ir para a seção de periódicos (pra quê?), fui para a de pesquisa, por curiosidade. Peguei um livro lá e comecei a ler. Apesar dos olhares curiosos das criancitas e teenagers (eu era o único adulto da sala. Digo assim: com mais de 20 anos, entende?), consegui me concentrar na leitura. Chegou o meu horário, fui embora.

De repente, mexo na minha pasta e não encontro a bendita. “Fudeu, perdi minha carteira. Merda!”. Volto para a biblioteca e procuro a caríssima: ninguém viu. Então, enquanto olhava para o segurança, que provavelmente esperava uma reação minha, me perguntei se eu deveria fazer algum escândalo, um pitti à la Caetano Veloso, ou não. Optei pela segunda alternativa baseado, evidentemente, em dois argumentos: (1) fui eu quem esqueceu e, (2) estava com preguiça. Não estava a fim de me estressar. Resultado: dei meu contato para o segurança e para a bibliotecária da seção de pesquisa sem drama, sem cena, (se o mundo acabasse na terça-feira, eu não faria nem drama, nem cena. Eu estava totalmente pragmático) e fui para a delegacia, imaginando todo o contratempo que teria para obter todos os documentos novamente, principalmente a carteira de meia-entrada, de longe o doc mais importante.

No caminho da delegacia, mais um outro questionamento, dessa vez uma questão de proteger-me contra o ridículo: se devo dizer que eu perdi a carteira ou se fui furtado. Uma dúvida cruel. Bem... entrei em contato com os simpáticos agentes policiais, que me pediram para “aguardar”. Meia hora depois, enquanto eu ainda “aguardava”, recebo uma ligação. Uma mulher chamada Letícia diz “encontramos sua carteira”. “Ai, que alívio”. Quando retorno à biblioteca, uma comissão com umas dez pessoas (todas mulheres, a maioria senhoras) me esperava para devolver minha wallet. Foi hilário, se não fosse a cara de seriedade das meninas da Juracy Magalhães. Parecia um jogral, cada uma dizia uma frase: “Que sorte, heim?”, “a carteira estava na cadeira”, “você deve ter sentado em cima dela”, “tome mais cuidado”, “desculpa, mas tivemos que abrir para ver se tinha alguma identificação sua”, “veja se está faltando alguma coisa”, “que sorte, heim?”, etc... Enfim, todas fofas. Me senti como se tivesse seis anos de idade.

Ei, não sou esquecido. Tenho memória afiada, mas para outras coisas. Acho que esses acessórios devem vir com corrente ou um sistema de apito. Só para lembrar... hehe. Esse episódio me lembrou uma outra história extremamente com toques de nonsense, que me fez ver concretamente que EsseEsseÁ é uma praça. Mas isso eu conto depois...

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