segunda-feira, 4 de outubro de 2004

Eleição à la Gretchen

Eleição deveria ser um momento de reflexão, ocasião em que o povo brasileiro, tão sofrido e injustiçado, tem o poder de decidir, por meio do voto, o destino de sua cidade. Bem... deveria. Pelo menos na Bahia a tal obrigação, o tal dever cívico, se transformou em farra. Nos bairros mais populares (esses são os melhores para se cair na bagaceira), o que se viu foi um dia típico de festa de largo, ao som de arrocha/pagode e muita cerveja acompanhada de churrasquinho de gato. As praias ficaram lotadas. (Sim, sim, foi domingo. Mas o texto fica melhor se disser que as praias ficaram lotadas.) Então, vá lá: As praias ficaram lo-ta-das e o sol, escaldante. Resultado: a eleição salvou o domingo dele mesmo.

Eleição, pagode (arrocha) e cerveja em EsseEsseÁ. O povo no poder

Nesse sentido, não se viu um barzinho fechado em EsseEsseÁ ou alguém dentro de casa de banho-maria, esperando a segunda-feira chegar. E a Lei Seca? Heim? Os donos desses estabelecimentos e os consumidores alegavam tudo, principalmente o desconhecimento da lei com o ar mais inocente-cara-de-pau do mundo. Hoje, o dia é de ressaca na city.

Bem, essa foi a mais acirrada campanha eleitoral para a prefeitura da capital baiana. César Borges, do PFL, candidato de painho ACM, por pouco, ou mais especificamente, por cerca de três mil votos, não morre na praia. Derrotou Pelegrino, do PT, e está no segundo turno, onde enfrenta João Henrique (PDT), o grande vencedor da primeira fase. A barra vai ser pesadíssima: a oposição provavelmente (digo provavelmente porque de político pode-se esperar qualquer coisa) se unirá contra César. Para ser mais claro, contra painho. “Em Salvador, a dinastria Antônio Carlos Magalhães está seriamente ameaçada de extinção”, disse uma renomada colunista política.

E a Gretchen, heim?
No entanto, aqui, ali, acolá, em cima, em baixo, do lado, ______ (coloque no espaço qualquer advérbio de lugar), os principais personagens do dia foram, sem dúvida, os cabos eleitorais e a boca de urna. Alguém passou ileso a eles? Ganhando entre R$ 5 e R$ 20 em média (tudo gasto na própria farra), eles tomaram conta das ruas, “defendendo” seus candidatos (Haha. Gostei dessa frase. Defendendo candidato é ótimo, Alice), com santinhos, bandeiras e gritaria. Muita gritaria.

A maioria, naturalmente, era adolescente e criança. Em todo o Estado, 700 pessoas foram presas, segundo a assessoria da Polícia Militar. Mas, a notícia mais top dessas eleições foi a prisão da dançarina miss bumbum, Gretchen, agora rainha da boca de urna, que causou o maior tumulto na cidade de Senador Canedo, em Goiás.

Bônus track:
Apesar da folia instaurada, cenas chocantes puderam ser vistas nessas eleições: pais levando filhos para votar, deficientes superando a falta de infra-estrutura dos locais de votação para registrar sua opinião, idosos votando como se fosse a primeira vez, madames indo às seções com figurino caprichado, adolescentes com cara pintada, famílias inteiras, incluindo cachorro, seguindo alegremente ao local de votação. Impressionante.

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