segunda-feira, 2 de maio de 2005

Mãe

Mãe: 1. (s.f) Mulher ou qualquer fêmea que deu à luz um ou mais filhos. 2. Pessoa muito boa, dedicada, desvelada. 3. (Fig). Fonte, origem, berço.

Olha só... Eu já escrevi aqui sobre o que penso a respeito das datas comemorativas. Para quem acompanha este blog, o texto mais recente foi sobre o Dia da Mulher, no post “Ser Mulher”, de 08 de março. Disse que acho que algumas delas são importantes e necessárias como momentos de reflexão, uma oportunidade ímpar para se pensar um pouco sobre algum acontecimento importante, passagens religiosas ou marcos na história do Brasil e do mundo, além de pessoas que fizeram alguma coisa de útil para a humanidade. Acrescento agora que existem outras que... bem, outras que... sei lá, preenchem calendário. Proposta de algum político muito fofo.

Nesse sentido, a verdade é que todo dia é dia de se comemorar alguma coisa. E, grande dica esta!, se você não tiver o que fazer (o ócio é algo corriqueiro na sua vida), dê sempre uma olhadinha no calendário e saia para festejar. Tem data comemorativa para todos os gostos: Dia da saudade, do adulto, da Previdência Social, da oração, da mentira, do planeta terra, da sogra, do porteiro, da vovó, do Gaúcho, do cão, do mar, das bruxas, do trânsito, do ________ (preencha com sua profissão), do supermercado, do doador de sangue, do trigo, da criatividade, etc.

O problema é que poucas datas comemorativas viram feriados, como o 1 de maio, Dia do Trabalho, que sacanamente caiu num domingo. (Merda! Pragas do calendário...) Nessa linha, já comentei também sobre as esquisitices e distorções que algumas datas especiais sofreram por causa de outra praga: o consumo. Pela ótica capitalista, o legal é que todas elas tornem-se de certa maneira lucrativas para alguém. E se você não é empresário, esse alguém naturalmente não é você. Infelizmente, algumas emplacam, como o Dia da Criança (12 de outubro), e outras não, como o da Vovó (26 de julho). Pelo menos, ainda não.

Neste domingo, 08 de maio, será comemorado o Dia das Mães. Mal sabia a americana Anna Jarvis que, ao querer homenagear sua mãe falecida - empreendendo no início do século XX uma campanha com o objetivo de instituir uma data comemorativa às mães – o dia dedicado a elas simplesmente se transformaria no segundo mais importante e lucrativo momento para o varejo, depois do Natal.

O Dia das Mães é um exemplo bem acabado das distorções que eu falei aqui, daquelas datas comemorativas que fazem com que aquilo que deveria ser algo natural e rotineiro, torne-se uma obrigação e um motivo de ansiedade, depressão, sofrimento... E ai de quem nadar contra a maré, andar na contramão. É um filho desnaturado, para dizer no mínimo e com elegância.

E, se há alguns anos presente de mãe deveria ser por tabela algum presente para o lar (fogão de última geração, geladeira idem, máquina de lavar, ferro elético, panelas, etc) nos dias de hoje os produtos que deverão satisfazer a auto-estima da mãe moderna mudaram de perfil. Nas últimas semanas, tenho observado as propagandas, principalmente as das operadoras de aparelhos celulares (acho que são as empresas que mais investem atualmente neste tipo de ferramenta de comunicação no Brasil) que, embora engraçadinhas (propaganda é humor ou emoção!), revelam mães barra-pesada, cheias de artimanhas.

- Diz que comprou "aquele" presente, diz, filha!
-Ai, mãe, espera até domingo. Continua sorrindo, vai!

Uma dessas campanhas mostra uma filha dando um presente à mãe. Empolgada, a mãe pergunta: “Ah, filha, é aquele celular da tal operadora? Aquele bonitinho que toca música?”. A filha responde: “Não, mãe, não é! Mas, se não gostou, pode trocar”. “Pode? Então quero trocar. Troca!”, responde a mãe. Em seguida, entram dois carregadores na sala e trocam a filha com sofá e tudo e trazem uma nova, que entrega um celular para a mãe e diz: “Olha, mãe, advinha! R$ 600 de bônus!”. Feliz, a mãe diz: “Oh, filha, adorei, uma graça, lindo! É a cara da mãe, né?”. Fofo, não?

Em outra propaganda, uma atriz global número 1 dá dicas a outra atriz global número 2 para garantir que a filha entenda a mensagem de que ela quer um celular de tal operadora. Em outro filme, a filha da atriz global número 1 - indagada pela filha da atriz global número 2 - dá a sugestão de presente para agradar a atriz global número 2. Ainda não viu? Você não assite televisão, né? E aquela em que uma puta atriz da aulas a uma mãe de como representar quando receber um presente que não gostar. "Use a dramaturgia, minta com convicção, incorpore a personagem", diz. Lamentável.

Isso sem falar nos filmes da C&A cujas mães-modelos têm no máximo 20 anos. (Acho que estão tentando se adaptar ao novo perfil da mãe brasileira: adolescente, solteira, mas que quer ir para a balada arrasar... e engravidar novamente.) Enfim... Mas aí, você se pergunta se essas propagandas tão espirituosas valem realmente a pena para uma pessoa que já “perdeu” (o verbo é inapropriado, mas vamos facilitar a parada, tá?) sua mãe. Ou, então, você se pergunta se vale realmente a pena dar um celular, um fogão, uma câmera digital, para compensar a carência da relação familiar. É isso o mais importante? Até porque, vamos combinar, fazer biquinho pra receber presente ninguém merece.
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