sexta-feira, 11 de fevereiro de 2005

Paulistas e cariocas em EsseEsseÁ

Ou: Os brasilienses fugiram de mim

Como fui de carnaval? Bem, obrigado. Como previsto pela experiência, muita chuva (refrescou demais até!), suor, cerveja e outras miudezas. Mas, como contar tudo o que vi, ouvi e fiz é extenso, prefiro não reproduzir por preguiça. Fica, então, guardado no meu baú como repertório para outras ocasiões. Vou, no entanto, comentar uma cena, sim, posso dizer isso, uma cena carnavalesca (não necessariamente de carnaval), envolvendo paulistas e cariocas. Para minha decepção, este ano não tenho nada a contar sobre os brasilienses, que sempre me dão um material bastante rico. E, como nada se compara ao comportamento dos turistas nacionais fora de sua terra de origem, o meu dedo coça.

Ainda era sexta-feira de carnaval. Eu, na praia, sem perceber, fiquei entre três mulheres cariocas exuberantes, com um Bob Esponja de plástico à tiracolo de quase um metro (se contar as pernas), e três mulheres e um homem paulistas discretos. Todos animados. Fora o sotaque e o distanciamento (entre eles), nada demais. Preferi focalizar minha atenção em um grupo de australianos à minha frente. Não sei o porquê, mas australiano sempre me intriga: me questiono o que fazem num lugar tão distante de casa. Me questiono o que é mais exótico, se a terra do Taz, do canguru e do ornitorrinco ou o nosso país do futebol e carnaval. Enfim, deixei os nacionais de lado e fiz questão de me entrosar com eles e compartilhar nossas excentricidades.

Uma hora depois, as cariocas começam a dizer para quem quiser ouvir que vão embora. “Vamos, amiga!”. Elas fazem de sua saída da praia um acontecimento. Primeiro, uma delas pede que um atendente dê um banho no seu Bob Esponja. “Ai, cê lava meu acompanhaaaanteeee pra miiimmm. Ele se sujou todo de areiaaaaa”, disse, toda meiga. (Não vou dramatizar fala com sotaque, heim?!). Enfim, foi o suficiente para as paulistas pararem o que estavam fazendo e passassem a só trocar olhares entre si. Bebiam caipirosca de canudinho muito vagarosamente. Uma delas começou a balançar a cabeça de um lado para o outro. Uma outra, colocou as mãos na altura do colo e cruzou as pernas, como se estivesse se preparando para algum espetáculo. Até aí, tudo bem. Quando o atendente retornou, deu-se o seguinte diálogo:

- Ai, brigada. Caraca, você não afogou meu Bob Esponja, não, né?
- Que é isso!! (risos)
- Animado pro carnaval, tá?
- (risos)
- E aí, vai sair em algum bloco?
- No Nana Banana. (Nota: O abada do Nana Banana custa entre R$ 600 e R$ 800)
- Você vai sair no Nana? Mentira. Deixa de ser nojento, garoto!
- (risos)
- Ai, que nojento. Podre. Ele vai sair no Nana Banana e eu nem isso.
- Blá, blá, blá...

Enquanto o atendente levava tudo na esportiva, uma das paulistas estava vermelha de raiva. Ninguém dava um pio. Eu vi sangue. Depois que as meninas do Rio foram embora, não deu outra. “Ai, que raiva me deu aquela garota”, “Então... mas me deu uma vontade de pular em cima dela”, "Preconceituosa filha da p..." e “Que otária, meu...” foram as declarações mais singelas do outro grupo. Aí, veio a pérola que faltava: “É por isso que eu não gosto de ir pro Rio. Carioca é tudo a mesma coisa. Eu não suporto nem ouvir aquela vozinha irritante, pxxxiiii, pxiiiii, pxxxiiii”. Blá, blá, blá.

Para quem está acostumado a ver as trocas de delicadezas entre o povo de EssePê e do Rrrio em blogs e grande mídia, não imagina o dia-a-dia, ainda mais em território neutro. Mas, cá pra nós, é impressionante a facilidade com que as pessoas têm em generalizar o comportamento de um indivíduo. Ainda mais se ele não pertencer ao seu grupo. É como se futilidade, esnobismo, burrice ou falta de educação tivesse a ver com a naturalidade, gênero, profissão, etc., dela.

Bônus Track
Além de muitas entrevistas com globais de segunda e terceira categoria, big brothers e artistas alçados à condição de estrelas, o que se viu nas transmissões do carnaval foram muitos foras ao vivo. Além do pênis de borracha que um folião balançou ao vivo na transmissão da Band, toda vez que isso acontece, me lembro de um episódio do Programa Legal, em que Luis Fernando Guimarães está fantasiado, dentro de um baile de carnaval. O barulho é ensurdecedor, ele está pulando, bêbado e bastante animado. Um repórter chega (não sei se era o Diogo Vilela), pega ele pelo braço e começa a fazer uma entrevista ao vivo, gritando:

- E aí, tá gostando do carnaval?
- Heim? Oooiiii, eu sou de Rondônia.
- Há quanto tempo está na cidade?
- O quê, eu sou de Rondônia.
- Você é gay?
- Eu sou de Ron-dô-nia.

Como se diz por aí, Carnaval não é época para perguntas difíceis. Pensar, só depois da quarta-feira de cinzas.

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