quinta-feira, 29 de março de 2007

O toque mão-de-vaca

O Brasil já conta com mais de 100 milhões de aparelhos celulares. Segundo a Anatel, cerca de 81% desses aparelhos são de assinantes do pré-pago (aqueles que compram créditos para poder falar) e 19% do pós-pago (os que recebem conta). O Distrito Federal é a unidade brasileira com maior número de celulares por pessoa, seguido pelo Rio Grande "tchê" do Sul e Rrrrrio. Maranhão ocupa a última colocação. Ou seja, eles estão onipresentes.

Se por um lado houve a democratização da comodidade oferecida pelo aparelhinho, que é usado tanto pelo executivão de multinacionais como pelo pedreiro que ganha menos de um salário mínimo por mês, por outro, a sensação que dá é que viramos uma espécie do país do toque. Ou seja, a arte do portador de celular sem crédito ligar e desligar, a fim de que quem receber a ligação, a retorne, está virando uma praga social. Que se manifeste quem nunca deu (o toque!), continua dando, já caiu ou continua caindo nessa armadilha.

Pois bem, lembro do tempo em que dar "um toque" no celular de um amigo (afinal, amigo também é para essas coisas) era motivo de vergonha e, antes de dizer o porquê da ligação, o sujeito já vinha logo com uma série de desculpas pela incoveniência e urgência de estar falando a cobrar. Mas, hoje em dia, nããããããõooooo. Afinal, vamos combinar, até seu irmãozinho de oito anos tem celular. De enfeite, mas tem. E parece que quem paga a conta dessa gentalha é você.

Tudo bem. Atender em uma urgência um telefonema a cobrar é normal. Normalíssimo. O problema começa quando sua amiga funcionária pública começa a te dar toque, seu amigo que liga para Deus e o mundo, mas quando é justamente com você, dá toque ou quando aquele que tem telefone fixo e para a conta não vir mais alta, também lhe passa a bola quente. Ainda têm aqueles que estão desempregados e justificam a ligação dizendo que "você trabalha, pode pagar" e por aí vai...

Mas o pior é a tal prática dos três miseráveis segundos que, reza a lenda, a operadora não cobra. Obviamente que ninguém completa uma frase, que são resumidas a sílabas. É uma estratégia, digamos, um tanto inteligente, embora seja preciso uma boa... boa não... excelente coordenação motora do sujeito. Porém, é necessário ressaltar que, se praticada com frequência, causa desconforto e, principalmente, impaciência. Para não dizer RAIVA. Pois, bem... está lá você no conforto do seu lar, quando é interrompido por uma ligação. Aparece o nome da figura no visor do aparelho, voce atende:

Primeira ligação: - vocetáon...
- Oxe!
Segunda ligação: - ondevocetá...
- Hein!?!
Terceira ligação:- toaqui...
- !!!!
Quarta ligação: - nasorve...
Quinta ligação: - sorve...
Sexta ligação: - teria...
Sétima (!) ligação: - desçaívá...
Oitava ligação: - estouna

No nono toque (ou antes, a depender da paciência e do amigo), você diz "que, porra!" e liga para saber o que é. Depois, faz um juramento dizendo que nunca mais vai retornar ligação de toque. O problema é que, quando uma pessoa que te deu um toque na segunda-feira (e você não retornou, evidentemente), fica o resto da semana sem dar outro toque, você pensa "será que estou perdendo alguma coisa, alguma novidade, sei lá". O que você faz? Eu estou pensando em fazer o mesmo que fazemos nos barzinhos de EsseEsseÁ: dividir a conta igualitariamente. Afinal, não somos amigos e não estamos usufruindo de um bem comum? Então, vamos dividir a conta!

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