quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Prepare-se: 20 anos de Axé!

Ou: Agoraaaaaa: bate na palma da mão! Sobe! Desce! Pro lado! Pro outro! Pula! Requebra! Sai do chão! Todo mundo comigo! Ae ae ae ae, ei ei ei ei, ô ô ô ô ô ô ô ô ô.

Começou ontem o 7º Festival de Verão de Salvador, considerado um dos mais importantes do país (pelo menos é o que dizem). No meio dos 74 shows, que vão de Maria Rita a Chiclete com Banana, de IRA! a Felipe Dylon, de Roupa Nova a Psirico, (atrações super importantes) uma me chamou a atenção: a apresentação da Orquestra Brasileira de Axé, que fez uma homenagem a axé music. Para quem não sabe, a axé music, ritmo que mudou a fase musical da Bahia e “encantou” o Brasil e o mundo está completando duas décadas. E o evento foi uma espécie de pontapé inicial para as comemorações. Participaram da celebração artistas que protagonizaram a cena ao longo desse tempo, como os eternos Luiz “Fricote” Caldas e Sarajane “Abre a rodinha”.

Tieta, considerado o pai da axé, e Olodum, xodó dos gringos nos anos 80

Também é bom que se diga que a axé music não se trata exatamente de um gênero ou movimento musical, mas uma rotulação mercadológica dada inicialmente a uma série de artistas de EsseEsseÁ que faziam uma fusão de ritmos nordestinos, caribenhos e africanos com embalagem pop-rock e tomaram as paradas de sucessos do Brasil inteiro a partir de 1992. O axé, saudação religiosa usada no candomblé que significa energia positiva, foi descaradamente anexada à palavra music por um jornalista baiano para formar um termo que designaria pejorativamente aquela música dançante com aspirações internacionais. Depois que Daniela Mercury chegou ao Sudeste parando a Avenida Paulista e estourando nacionalmente com o disco Canto da Cidade, tornando-se a queridinha da Rede Globo, tudo o mais que veio de Salvador começou a ser chamado de axé music.

Porém, não se esqueçam, antes disso outros artistas baianos já estavam na parada nacional, como Olodum (“descoberto” pelo cantor e compositor americano Paul Simon), Banda Reflexus (que era uma das minhas bandas preferidas!), Luiz “Fricote” Caldas e Sarajane “Abre a rodinha” (um dos grandes nomes da época) já eram figuras cativas de programas de televisão, principalmente do Chacrinha. Depois, vieram Lazzo, Cid “Ilariê” Guerreiro (xodó de Xuxa), Chiclete com Banana e Margareth Menezes, a primeira a engatilhar carreira internacional, com a benção do líder da banda americana de rock Talking Heads, David Byrne.

Daniela e Ivete: as duas maiores estrelas da axé music. Axé?

Entre 92 e 98, o Brasil era Carnaval e dançava com as coreografias criadas na folia baiana, como o fricote, a dança da galinha, do crocodilo, do requebra, entre outras. Nessa época, vários artistas, como Netinho, Chiclete com Banana, Banda Eva (Ivete Sangalo), Cheiro de Amor (Carla Visi), Timbalada, Ara Ketu, Terra Samba, Ricardo Chaves e Banda Mel decidiram apostar todas as suas fichas em trabalhos Ao Vivo. Com o sucesso, a axé music acabou vivendo o seu grande boom comercial e de penetração na mídia, deixando de ser uma simples música regional de Carnaval para tornar-se um dos principais ritmos do país, apesar de todo o preconceito da mídia sul maravilha.

Nesse sentido, o preconceito e o sucesso aumentaram ainda mais com a fase bunda music, inaugurada pelo É o tchan (ex-Gera Samba), com ênfase nas coreografias libidinosas em detrimento da música (que ainda assim trazia uma sólida base de samba de roda) e letras. No entanto, a superexposição nos meios de comunicação e as pressões da indústria levaram o axé ao esgotamento artístico e comercial, alem de outros pequenos detalhes como pirataria. Desde 1999 que o gênero vem experimentando um significativo declínio nas vendagens de discos, como toda a indústria fonográfica, ressalte-se.

Mas, dá para dizer que o axé acabou quando a cantora que mais vende neste país atualmente tem esse sangue na veia? A rainha da axé, Daniela Mercury, que está produzindo um video-documentário para comemorar os 20 anos do ritmo Music, disse em entrevista a uma rádio de EsseEsseÁ que “o axé continua forte no Brasil e o carnaval da Bahia está mais badalado do que nunca e cada dia mais charmoso”. Enfim...

“A rainha do axé sou eu. Quero meu título de volta”

Por falar nisso, tem gente reclamando o posto de rainha do Axé e está querendo reconquistar o sucesso que teve no passado. Sarajane “Abre a Rodinha”, em entrevista publicada no jornal A TARDE de hoje, jogou lama no ventilador: “Nunca liguei para títulos, fui rainha do axé, da lambada, de tudo. Mas hoje vejo que esse título é muito importante. Daniela é muito competente, fantástica como artista, mas a rainha do axé sou eu e eu quero meu título de volta”, disse. Ao ser questionada como se sente por ter saído da mídia, ela diz emocionada: “Ser uma estrela internacional como eu era, ter disco de platina, diamante, ouro. Fui a maior vendagem da Emi Odeon, vendi 2,5 milhões cópias e ter saído da mídia foi difícil. É muito difícil ficar no ponto de ônibus quando tive carro de luxo, motorista particular, segurança tudo à disposição. Mas o mais difícil foi o Carlinhos Brown chegar para mim é dizer o que disse"

E o que o Brown disse?, pergunta a repórter: “Ele foi o produtor do meu discdo República Latina. A gravadora Abril me deu 800 cópias, ainda tenho 600. Chegei para Brown e disse por telefone: tenho 600 cópias do disco que você produziu no quarto escuro, me ajude! Ele disse para eu fazer como Agnaldo Timóteo: vá vender na sinaleira. Foi difícil ouvir como ele me disse: você está feia, velha e gorda. É muito difícil você pedir o telefone de um amigo que comia na sua casa e não poder ter

É... digamos, singelamente, que muita água ainda vai brotar dessa fonte.

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