sexta-feira, 13 de abril de 2007

Blogagem coletiva

Hoje, sexta-feira, 13 (que medo!), Dia Internacional da Imprensa, está rolando uma espécie de blogagem coletiva com o tema: Limpeza Pública. Quem quiser saber mais, vai lá no texto de 05 de abril ou aqui para saber quais outros blogs estão participando. Pois bem... aqui vai minha contribuição.


WALDIR, O MANSO

Senta que lá vem história. Se existe uma coisa muito fácil, facílimo até, de se identificar neste país, é político que leva o adjetivo de corrupto. Não é por acaso. Até porque os escândalos recorrentes e os personagens protagonistas fizeram com que o fato de se chamar político de corrupto se tornasse uma expressão redundante. Vamos combinar: eles são desacreditados perante a sociedade e a impressão geral é que legislam em causa própria. Sempre. Reajustam o próprio salário a taxas impensadas pelo trabalhador ou empregador brasileiro, aumentam privilégios a título de compensação pelo “duro esforço” que dedicam aos mandatos, dão-se garantias perpétuas. Mas não é só isso. A cada dia que passa, o brasileiro, esse cordial, sente-se impotente quando à luz dos fatos, políticos são absolvidos, quando não pelos próprios pares - eles protegem-se uns aos outros - pela Justiça. Escondem-se feito ratos por detrás da imunidade que o cargo disponibiliza. E a vida continua.

Cada cidade, cada estado tem o seu político consagrado. São pessoas que dominam a arte de enganar e manter-se eternamente no poder. São profissionais. Nesse sentido, o Brasil conhece bastante o mais famoso político baiano, chamado carinhosamente de cabeça branca ou painho. Tanto faz. Porém, apesar da obviedade, ele não é o meu escolhido. Mas, sim, seu maior adversário: Waldir Pires, O manso. Não, minha gente, ele não é um político corrupto. Mas, infelizmente, será o meu escolhido para este dia.

- Não se preocupem. Estamos nas mãos de Deus

Na verdade, Waldir Pires é um injustiçado. Por isso, o que trago à tona não é sua figura política, mas sua atuação na crise do “apagão aéreo”. Ele está sendo uma figura importantíssima para Lula, que tem a característica reconhecida de deixar aliados no famoso banho-maria, queimando, queimando em público. Depois, livra-se das peças fulminadas e sai ileso das crises. Bárbaro o nosso presidente, não? Recentemente, disse Lula: “O problema dos controladores não pode ser debitado exclusivamente na conta do Waldir. Ele é um homem de 80 anos, com importantes serviços prestados ao País". É verdade!

Quem, além de Waldir, o manso, seria capaz de sustentar uma crise por seis meses? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de representar um ministério que não tem nenhuma função real? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de não incomodar as aves-de-rapina que comandam as Forças Armadas? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de ser submetido a duas horas de entrevista e não dar nenhuma explicação plausível sobre a crise aérea? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de fechar os olhinhos enquanto fala, balançar a cabeça mostrando irritação com uma pergunta mal-criada e responder que estamos nas mãos de Deus?

Reconheçamos que nenhum político neste país seria capaz de segurar esta crise de maneira tão magistral. Imaginem a situação culinária: existe uma grande batata quente na sua mão. Você sabe que ela é quente e não vai esfriar a curto prazo. Todo mundo vê que sua mão queima. Não só vê, como sente a batata queimando também na sua pele. Mas você, como autoridade, sabe que, se disser que a batata está quente, vai criar pânico nos outros e, mesmo assim, ela continuará quente. Não há nada a fazer de imediato. Porém, o que você diz? Fala que não está acontecendo nada, que a batata está normal e que foi só uma mudança climática passageira.

- Eu sempre digo: Waldir Moleza!

Apesar de sua história política irretocável, Waldir até hoje sofre por um erro estratégico cometido aqui na Bahia. Eleito governador do estado em 87, derrotando o grupo do arqui-inimigo ACM, dois anos depois ele renuncia e decide particiar da chapa de Ulisses Guimarães para a presidência da República. Seu gesto foi compreendido como um péssimo cálculo político e falta de competência. Com isso, abriu espaço para que os carlistas retornassem ao governo do estado e permanecessem por 16 anos (!), até serem derrotados na eleição de 2006 por Jacques Wagner, o galeginho dos zóio-azul. Vejam o post de 04 de outubro.

Lula não irá dispensar os serviços de Waldir tão cedo. A indignação das pessoas está focalizada nele, o que é natural. O presidente vai esperar a batata esfriar para depois retirá-lo do cargo com dignidade. Mas, a mancha na carreira política não será esquecida tão cedo. É triste ter que admitir que políticos considerados honestos são colocados no mesmo balaio que a maioria despreparada e interesseira. Porém, tudo isso acontece porque cargos do governo são loteados entre os partidos e amigos políticos e costuma-se colocar como gestores pessoas que até então não tinham nenhuma intimidade com o assunto. Além de Waldir e tantos outros, cito o exemplo de Marta Suplicy, a ministra do Turismo. O que ela tem a ver com o turismo? Só o Lula e o PT sabem. Talvez, eles acreditem que ela é capaz de combater o turismo sexual, outra praga nacional. Afinal, ela é sexóloga, não é verdade?

PS: Ah, e não esqueçam. Segunda-feira, tem mais um capítulo da tragicomédia "Olívia no país das maravilhas", uma carioca fã de Caymmi que decide morar em Maracangalha, na Bahia, para encontrar seu eu. Ela não é Dante da Divina Comédia mas, para conseguir o que quer, precisa passar pelas agruras de um inferno tropical.

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