
Senta que lá vem história. Se existe uma coisa muito fácil, facílimo até, de se identificar neste país, é político que leva o adjetivo de corrupto. Não é por acaso. Até porque os escândalos recorrentes e os personagens protagonistas fizeram com que o fato de se chamar político de corrupto se tornasse uma expressão redundante. Vamos combinar: eles são desacreditados perante a sociedade e a impressão geral é que legislam em causa própria. Sempre. Reajustam o próprio salário a taxas impensadas pelo trabalhador ou empregador brasileiro, aumentam privilégios a título de compensação pelo “duro esforço” que dedicam aos mandatos, dão-se garantias perpétuas. Mas não é só isso. A cada dia que passa, o brasileiro, esse cordial, sente-se impotente quando à luz dos fatos, políticos são absolvidos, quando não pelos próprios pares - eles protegem-se uns aos outros - pela Justiça. Escondem-se feito ratos por detrás da imunidade que o cargo disponibiliza. E a vida continua.
Cada cidade, cada estado tem o seu político consagrado. São pessoas que dominam a arte de enganar e manter-se eternamente no poder. São profissionais. Nesse sentido, o Brasil conhece bastante o mais famoso político baiano, chamado carinhosamente de cabeça branca ou painho. Tanto faz. Porém, apesar da obviedade, ele não é o meu escolhido. Mas, sim, seu maior adversário: Waldir Pires, O manso. Não, minha gente, ele não é um político corrupto. Mas, infelizmente, será o meu escolhido para este dia.

Na verdade, Waldir Pires é um injustiçado. Por isso, o que trago à tona não é sua figura política, mas sua atuação na crise do “apagão aéreo”. Ele está sendo uma figura importantíssima para Lula, que tem a característica reconhecida de deixar aliados no famoso banho-maria, queimando, queimando em público. Depois, livra-se das peças fulminadas e sai ileso das crises. Bárbaro o nosso presidente, não? Recentemente, disse Lula: “O problema dos controladores não pode ser debitado exclusivamente na conta do Waldir. Ele é um homem de 80 anos, com importantes serviços prestados ao País". É verdade!
Quem, além de Waldir, o manso, seria capaz de sustentar uma crise por seis meses? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de representar um ministério que não tem nenhuma função real? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de não incomodar as aves-de-rapina que comandam as Forças Armadas? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de ser submetido a duas horas de entrevista e não dar nenhuma explicação plausível sobre a crise aérea? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de fechar os olhinhos enquanto fala, balançar a cabeça mostrando irritação com uma pergunta mal-criada e responder que estamos nas mãos de Deus?
Reconheçamos que nenhum político neste país seria capaz de segurar esta crise de maneira tão magistral. Imaginem a situação culinária: existe uma grande batata quente na sua mão. Você sabe que ela é quente e não vai esfriar a curto prazo. Todo mundo vê que sua mão queima. Não só vê, como sente a batata queimando também na sua pele. Mas você, como autoridade, sabe que, se disser que a batata está quente, vai criar pânico nos outros e, mesmo assim, ela continuará quente. Não há nada a fazer de imediato. Porém, o que você diz? Fala que não está acontecendo nada, que a batata está normal e que foi só uma mudança climática passageira.

Apesar de sua história política irretocável, Waldir até hoje sofre por um erro estratégico cometido aqui na Bahia. Eleito governador do estado em 87, derrotando o grupo do arqui-inimigo ACM, dois anos depois ele renuncia e decide particiar da chapa de Ulisses Guimarães para a presidência da República. Seu gesto foi compreendido como um péssimo cálculo político e falta de competência. Com isso, abriu espaço para que os carlistas retornassem ao governo do estado e permanecessem por 16 anos (!), até serem derrotados na eleição de 2006 por Jacques Wagner, o galeginho dos zóio-azul. Vejam o post de 04 de outubro.
Lula não irá dispensar os serviços de Waldir tão cedo. A indignação das pessoas está focalizada nele, o que é natural. O presidente vai esperar a batata esfriar para depois retirá-lo do cargo com dignidade. Mas, a mancha na carreira política não será esquecida tão cedo. É triste ter que admitir que políticos considerados honestos são colocados no mesmo balaio que a maioria despreparada e interesseira. Porém, tudo isso acontece porque cargos do governo são loteados entre os partidos e amigos políticos e costuma-se colocar como gestores pessoas que até então não tinham nenhuma intimidade com o assunto. Além de Waldir e tantos outros, cito o exemplo de Marta Suplicy, a ministra do Turismo. O que ela tem a ver com o turismo? Só o Lula e o PT sabem. Talvez, eles acreditem que ela é capaz de combater o turismo sexual, outra praga nacional. Afinal, ela é sexóloga, não é verdade?
PS: Ah, e não esqueçam. Segunda-feira, tem mais um capítulo da tragicomédia "Olívia no país das maravilhas", uma carioca fã de Caymmi que decide morar em Maracangalha, na Bahia, para encontrar seu eu. Ela não é Dante da Divina Comédia mas, para conseguir o que quer, precisa passar pelas agruras de um inferno tropical.
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