quinta-feira, 9 de março de 2006

O Haiti é aqui?

Ou: Não, meu bem. É o Brasil mesmo, com S, de Zebra.

Definitivamente, não consigo não ficar chocado ao ver imagens de militares em ação no Rio. Para mim, chega a ser nonsense, surreal conseguirmos viver achando que esse país está na normalidade. Tenho a impressão de que nunca esteve: vivemos em guerra civil, só que não fomos avisados.


É generalizado: na capital, no interior, no Sudeste, no Nordeste. Qualquer lugar que você vá, a primeira coisa que te dizem é: tenha cuidado. É assim quando paulista vai para o Rio, quando carioca vem para Salvador, quando soteropolitano vai pra Recife, quando recifense vai para São Paulo, etc. O jardim do outro é terrivelmente perigoso. O Rio não é a cidade mais violenta do país, mas é aquela onde a violência ganha mais visibilidade.


E que situação, heim? Temos medo da polícia (quem não tem, que levante o dedo); vemos com estarrecimento a capacitação cada vez maior do crime organizado, principalmente no Rio e Espírito Santo; nos protegemos atrás das grades de nossas casas (nossa elite, em suntuosos condomínios fechados no Litoral Norte baiano); andamos amedrontados a qualquer hora do dia e da noite e apelamos para a "segurança" privada.


Por falar nisso, em muitos bairros de diversas cidades brasileiras, estranhos aparecem com um colete escrito SEGURANÇA - comprado na esquina, obviamente -, oferecendo segurança. Impressionante é que aqueles cidadãos que optam por não pagar a taxa solicitada, misteriosamente são os únicos a serem assaltados. Mais impressionante ainda é que a Polícia Federal, órgão que deveria ser responsável pela regulamentação e organização do setor, não tem a mínima idéia de quem são nem de quantos praticam essa segurança.


Hoje, faz seis dias que cerca de 1.800 militares estão no Rio, cercando algumas favelas, em busca de 10 fuzis (???) roubados de um quartel do Exército na sexta passada. "Questão de honra", dizem os responsáveis pela operação. Os principais acessos à cidade por terra, mar e ar estão bloqueados. Lamentável. Agora a pergunta: há quanto tempo o crime organizado faz a população refém de seus negócios e de seus caprichos? E o que fizeram as Forças Armadas a respeito disso? Nada. Há, inclusive, relatos de agressão a moradores: toque de recolher, crianças revistadas com grosseria, adultos estapeados, casas e comércios invadidos e depredados, etc.

Não é a primeira vez que o Exército ocupa o Rio. Lembro-me de uma no início da década de 90. Foi um drama nacional. No mais, o que vemos, em todas elas, são dedos acusatórios levantados, promessas de melhoria sendo feitas, mas logo tudo é esquecido. Este ano não será diferente, não. Afinal, temos a Copa do Mundo na Alemanha. E, se Deus for realmente brasileiro, como dizem por aí (embora eu não acredite), seremos hexacampeão.

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