segunda-feira, 16 de janeiro de 2006

Quanto? Eu sou baiano, caralho !!!

Ou: Formação de preço em EsseEsseÁ = Custo + cara/origem do turista + noções de baianês

- E aí, quanto custa a cadeira de praia?
- Quatro 'real'.
- O quê? Tá me achando com cara de turista, é? Nãããããã, eu sou baiano! Ôxe!
- Esse é o preço dos cara...
- Oxente? Dou R$ 1,50?
- R$ 1,50 é quebrança. Vai, leva por R$ 2,00, leva... Mas só vou fazer pra você, tá ligado?
- Fechado!


Na lista das vantagens de se viver em EsseEsseÁ, um dos principais destinos turísticos do país, destaca-se facilmente o item que diz que você é um felizardo por morar em um local pelo qual muita gente daria a alma para passar alguns dias ou, então, viver eternamente. Menos uma despesa, não é mesmo? Aliás, esse ponto é tudo: imagina como é viver em uma cidade que ninguém sabe onde fica? Péssimo, né? É! E é bom saber que sua terra - a da Felicidade, nunca esquecer isso! -, famosa por sua história, cultura, manifestações artísticas, culinária, belezas naturais, “povo”, etc., inspira poetinhas e faz a fantasia dos turistas correr solta em campos abertos e verdejantes.

Morar em EsseEsseÁ na alta estação é...

Outro ponto dessa lista, que te deixa super orgulhoso, é dar uma de guia turístico. Pronto! Aí, é preciso lenço pra limpar a baba. Nesse momento, até os críticos mais ferrenhos desta praça (Salvador é uma praça! ou ovo como dizem os mais radicais), se lembram das belezas e singularidades da terrinha (esta terrinha que eles desfrutam diariamente de barriga cheia apesar dos pesares) e enchem o peito para falar as qualidades incomparáveis da sua cidade cartão-postal. Muito fofo.

De acordo com a Secretaria de Turismo, somente para o Carnaval de 2006 são esperados cerca de 1 milhão de turistas, 457 mil só em EsseEsseÁ, 6% mais que em 2005. Essas pessoas, caríssimos, são suficientes para lotar praias, bares, restaurantes, hotéis e praticamente todos os estabelecimentos comerciais e de serviços que atuam no ramo do entretenimento. É só dar um passeio pela praça para “sentir” a presença estrangeira.

Pois bem, em função disso, uma das piores coisas de se morar numa cidade turística como EsseEsseÁ é que, na alta estação, não há bolso de nativo que agüente. Todo mundo quer tirar o pé da jaca. Resultado: os preços são tabelados por aqueles que tem trocados para gastar. E quem tem dinheiro para gastar em Salvador? Turista, claro. Se tiver pele clara e falar diferente, então... o preço sobe na hora.

Faço uma sugestão para que os cursos de marketing da vida estudem a formação de preço em EsseEsseÁ. Tem os custos + impostos (Talvez. Só vou colocar por uma questão didática) + cara/origem do turista + noções de português (se não não entender português, não quero nem estar por perto) = valor final.

Ou seja: tudo sobe de valor e diminui de tamanho pelo menos até março. Fica impraticável frequentar restaurante, pizzaria ou qualquer barzinho nesse período. Isso sem falar nas festas! (Elas serão assunto para outro post). Sexta-feira, na despedida de uma colega que cobriu as minhas férias, fomos a um restaurante especializado em caranguejos. Apesar de escolado nos truques baianos, sempre me deparo com alguém mais esperto. Só sei que, com R$ 20 dinheiros, "comi" dois caranguejos e uns quatro ou cinco pedaços de carne do sol, com uma farofinha ordinária, além de duas cervejinhas long neck. Pelo menos estava gostoso. Mas é que até hoje morro de fome por causa desse tira-gosto! Ódio. Claro que minha vontade de comer caranguejo é diretamente proporcional à minha preguiça de ficar espancando o bichinho morto. Mas, faça-me o favor, né? Soteropolitano deveria andar com uma plaquinha: - Sou baiano, sou seu irmão. Não vou deixar você quando terminar o verão!

...quebrança.

Enfim... Mais que uma desvantagem de morar em EsseEsseÁ, fico indignado ao constatar que dois dias antes, eu e mais alguns amigos fizemos uma moqueca de peixe, com um pirão maravihoso. Teve até caldo de sururu na entrada. Quase desmaiei de tanto comer. E tudo não saiu mais que R$ 10,00 para cada pessoa. Resultado: o segredo de um nativo sobreviver a alta estação na cidade é participar de festas particulares ou, então, curtir o turismo com os estrangeiros (brasileiros ou não), sem gastar como eles. Afinal, você tem que guardar o seu para a sua viagem, não é mesmo? E se juntar aos 60 milhões que visitam a França anualmente.

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