quinta-feira, 24 de novembro de 2005

Barrada no baile

E o cancelamento pelo Vaticano da participação de Daniela Mercury no Concerto de Natal que acontecerá no dia 3 de dezembro na Itália com a presença do Papa Bento XVI?

De acordo com o que a mídia tem veiculado, o veto se deu em função da cantora apoiar o uso da camisinha, explicitado em fevereiro deste ano, quando estrelou a campanha de prevenção à Aids do Ministério da Saúde para o Carnaval com o slogan "Vista-se! Use sempre camisinha.

A Igreja está certa. Daniela emitiu uma posição contrária ao que a instituição diz aos seus fiéis, cordeiros de Deus, como correto. Não há nada de absurdo. Os católicos já deveriam ter aprendido que eles não têm que questionar os dogmas da Igreja. Há alguns anos atrás, quem se atrevesse a fazer isso era, no mínimo, considerado herege, quando não queimado em praça pública. O Tribunal da Inquisição não foi criado por acaso. Repetindo: não se questiona instituição religiosa e seus representantes. Não tem religião que proibe a transfusão de sangue? Não tem fiéis de outra religião que não fazem nada no sábado? Então? Aceita-se seus princípios ou não. Senão Deus castiga. Ponto.

O atual Papa Bento XVI, quando cardeal, era presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, novo nome para o afamado Tribunal da Inquisição. Por essas e outras eu não me espanto que a Igreja começe a controlar e fiscalizar cada vez mais o que pensa e como agem seus fiéis. Na terça-feira, por exemplo, foi divulgada por uma agencia de notícias italiana uma instrução do Vaticano destinada a impedir que os gays possam se ordenar padres. Segundo o site, a Igreja rejeita homossexuais e defensores da "cultura gay" candidatos ao sacerdócio, a não ser que tenham abandonado as "tendências homossexuais" por ao menos três anos. Ou seja: quem apóia (os simpatizantes - hehe!) também entra no esquema.

Alem de levar padres e seminaristas gays a se esconder ainda mais, o que implicará mais danos pessoais e espirituais tanto para eles quanto para aqueles a quem servem, a ação demonstra a concepção terrivelmente estreita e ignorante pela Igreja da homossexualidade. Isso não me espanta. É a conceção dela.

Eu acho que a Igreja pode dizer o que quiser para os católicos. E fazer o que bem entender com eles. Pode, inclusive abençoar Ferraris (Ver post Hummmm... sei lá, entende?, de Junho 21, 2005). Agora, a minha preocupação e o que eu não concordo é quando ela ultrapassa seus limites religiosos e começa se meter em assuntos de Estado, que é constitucionalmente obrigado a atender democraticamente a todos, independente da religião que pratica. O Estado tem que criar políticas públicas, como é o caso dos contraceptivos, e informar a população. Em nota, Daniela reafirmou seu direito de discordar da Igreja no que diz respeito à camisinha como forma de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis. “Para mim, o uso de camisinha é instrumento de proteção à vida!”, disse.

O Concerto de Natal vai celebrar a abertura do Ano Xaveriano, em honra a São Francisco Xavier. O convite a Daniela Mercury tinha sido feito há cinco meses. Ela seria a única latino-americana no evento que, pela primeira vez, receberia uma brasileira. Só lamento. Mas Coca-Cola é isso aí.

Bonus Track
De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, 73% dos municípios baianos têm pelo menos um caso notificado de contaminação pelo vírus HIV, o que significa um acréscimo de 9% em relação ao ano passado. Ao todo, são 600 mil pessoas infectadas no Brasil, das quais pouco mais de oito mil foram registradas na Bahia de 1984 até 2005. A camisinha é hoje o único meio de prevenir a Aids e outras DSTs. E para a Igreja usar camisinha é pecado.

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