quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Jornalismo de fachada

Danielicius acredita que a atitude que melhor serve aos interesses de seus leitores e do país é incentivar a rejeição a revista Veja. Nas linhas seguintes, Danielicius alinha razões pelas quais julga correto meter o pau sempre que possível neste panfleto semanal.

A Veja, revista semanal de maior circulação no país criada em 1968 pela editora Abril, é escandalosamente panfletária. Chega a dar nos nervos tamanha prepotência. Na última edição, que traz como capa o referendo de 23 de outubro, a revista chutou o balde dos meios-termos e decidiu fulanizar de vez o debate a respeito do desarmamento. Fez de sua capa um cartaz, e varreu para debaixo do tapete qualquer traço de vergonha na cara ou pudor que porventura viesse a existir naquela redação. O título da matéria (“Referendo da fumaça: 7 razões para votar “não” na consulta que pretende desarmar a população e fortalecer o contrabando de armas e o arsenal dos bandidos”) é uma pérola, mas o mais impressionante está no lead: “Veja acredita que a atitude que melhor serve aos interesses dos seus leitores e do país é incentivar a rejeição da proposta de proibição”. Veja a matéria aqui.

Aí, você se pergunta: onde Veja aprendeu a argumentar? Assistindo ao Superpop da Luciana Gimenez? Entre os ‘sensacionais’ argumentos para defender tal tese, o panfleto semanal da editora Abril diz que ‘Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, listou o desarmamento da população entre as providências essenciais para garantir o controle totalitário’ e que ‘Hitler desarmou os alemães e os povos dos países ocupados, mas distribuiu armas entre milícias fiéis ao regime’. Ainda: ‘Nas zonas rurais brasileiras, longe dos postos policiais, [as armas] servem para sitiantes e fazendeiros defenderem suas propriedades de assaltos, invasões do MST e dos ataques de animais predatórios a seus rebanhos e criações. É por isso, com certeza, que os sem-terra apóiam o desarmamento’.

Evidente que não vale a pena polemizar com argumentos de impressionante nível. Além de ter perdido a compostura, ela passa por cima dos mais básicos elementos da atividade. Como diz o jornalista Alberto Dines, do Observatório da Imprensa, “ao invés de ensaiar uma progressiva troca de idéias capaz de suscitar o contraditório e algum esclarecimento antes de se acionar a urna, a revista berra para o leitor – ‘Cala boca, você não sabe nada’”.

Este é só um dos exemplos da história da mais importante e influente revista brasileira. Virou prática corriqueira a revista criar factóides que não se apóiam na realidade e praticar um jornalismo persecutório e irresponsável. Nem mesmo ouvir os dois lados ela ouve. Há algum tempo a revista vem se esmerando em publicar pseudo-reportagens que desancam personalidades públicas, movimentos sociais e partidos políticos que tenham qualquer viés progressista e de esquerda. Não que os outros órgãos sejam inocentes. Não são. Mas tudo tem limites! Abaixo, dois exemplos que não me deixam mentir...

Não, ainda não acabei!
Também na primorosa edição, a Veja, na matéria "O mensalinho da filha de Elis", acusa a Warner de se valer do chamado jabá para divulgar o novo CD de Maria Rita, Segundo. Trinta profissionais de imprensa receberam um mini-iPod junto com um DVD e o CD da cantora. A revista afirma que a intenção era, “obviamente, conquistar a simpatia dos jornalistas” e que “a maioria escreveu resenhas e perfis chapa-branca – cuja tônica, curiosamente, é que a moça estaria se emancipando da influência materna”. A Veja diz que “Istoé publicou que Maria Rita ‘está cantando esplendidamente’. Sua derivada, a Istoé Gente, lhe dedicou uma capa. No caso do jornalista da Época, a Warner matou dois coelhos de uma cajadada: ele escreveu uma matéria simpática na revista e outra mais elogiosa ainda na Bravo! (...)”. Ainda segundo o texto, poucos veículos devolveram o iPod: a Folha de S. Paulo e O Globo. Para ver a denúncia, clique aqui.

A reação foi imediata. Em artigo publicado no Observatório da Imprensa, Luís Antônio Giron, da Época e colaborador da Bravo!, rebateu as acusações de Veja e criticou o fato da equipe da revista não ter escutado nenhum dos colegas que, apesar de não serem mencionados diretamente, estavam no centro da discussão. Ele, que diz ter devolvido o iPod, afirma que Sérgio Martins, repórter de Veja, lhe disse que a matéria foi encomendada. Veja a resposta de Giron aqui. "Eu tentei me defender no escuro, pois não me foi dado o direito de ler a reportagem. E a Veja não ouviu o outro lado, não me procurou para saber a verdade. Além de ferir uma regra do jornalismo, os jornalistas que não tiveram coragem de assinar o nome: cometeram uma atrocidade, caluniaram um colega, sob pretexto de denunciar um jabá que não existiu", diz o jornalista da Época.

Só mais uma!!!
Alguem sabe quem é Diogo Mainardi, o astro de Veja? Aquele que tem blog de fãs e comunidade no orkut? Pois é... Em sua última coluna, ele conta sua viagem a Brasília e narra a cobertura da eleição da presidência da Câmara e, ao fim, registra: ‘Aldo Rebelo acaba de ser eleito. Os mensalistas atiram-no para o alto. Todos os deputados com quem falei hoje - foram mais de trinta - o consideram um perfeito idiota. Por isso estão tão felizes. Por isso não o deixam se espatifar no chão’.

Pois bem, o jornalista Renato Rovai também estava lá em Brasília e acompanhou o astro de Veja. Olhem que pérola: "Ele não só não ouviu isso de trinta deputados, vou além, nem falou com quinze enquanto por lá esteve. Vi esse Mainardi como um ratinho, encostado no fundo do plenário, por horas, falando baixinho e olhando pro chão. Parecia ter medo que alguém lhe fosse cobrar honestidade ou coisa do gênero. Algo ridículo. Deu umas zanzadas pelo salão verde e voltou para o seu esconderijo. Depois dessa sensacional ‘missão jornalística’, foi para o seu laptop e ‘corajosamente’ escreveu aquilo que o chefe adoraria ler. E ofendeu a quem o chefe gostaria de ofender. Sem ter compromisso com o real, só com sua corajosa missão de agradar a quem lhe garante a coluna.”, diz. Adoro isso!!

Para quem tiver tempo neste fim de semana, pode dar uma passada na comunidade do orkut: Leu na Veja? Azar o seu!

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