quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Parada dos Simpatizantes Rosa Choque!


Ou: Beber, cair e levantar
Ou: Os gatos pardos não saem durante o dia



No último domingo, 14. EsseEsseÁ assistiu a sua VII Parada do Orgulho dos Simpatizantes aos Gays, atualmente um tipo de evento mais que obrigatório no calendário das cidades que desejam ser vistas como "civilizadas" no mundo ocidental. É tipo super-tendência, entende? Por aqui, um número considerável de 400 mil pessoas, segundo a PM (mais de meio milhão, de acordo com o Grupo Gay da Bahia), participaram do desfile no centro da capital. Digo considerável por Salvador ser a terceira maior metrópole deste país, com 2,9 milhões de habitantes. Mas, vá lá, nessa conta não poderíamos deixar de fora, obviamente, a multidão que veio em caravana de cidades da região metropolitana e de outros municípios próximos à capital, além dos turistas, claro.

Depois do Carnaval, a Parada dos simpatizantes é o evento que reúne o maior numero de pessoas nas ruas de EsseEsseÁ. Minto. Acredito que a tradicional Lavagem do Bonfim está no páreo em termos de popularidade. Mas não vou fazer conta agora. Digamos que, a depender a intenção de quem escreve, estão pau a pau, sem segundas intenções. Os trios - grande contribuição baiana para o divertimento da massa - desfilaram pelo circuito tradicional da folia momesca soteropolitana, no centro da cidade, e o que vi, me contaram ou minha inteligência imagina foi a participação de uma diversidade (?) de pessoas, com estilos e comportamentos completamente distintos, desde "bofinhos" e "periguetes" da periferia a mauricinhos entupidos de "bomba" e intelectuais da UNE, além dos cabos eleitorais de plantão. Um representativo arco-íris humano.

Vi tudo da janela e entrei no pacote de camarote, assim como milhares de espectadores. Não tenho disposição de participar de passeadas nem de nada que envolva trio elétrico e muita gente bêbada. A não ser no Carnaval, do qual sou fã. Ainda no início da manhã, um imensa fila de vendedores ambulantes se formou, prenunciando a festa que Baco iria fazer. Céu azul, domingo... sabe como é, né? Nada para fazer. O clima foi perfeito este ano não só para as bees mais performáticas "fecharem" na avenida como também para o desfile de corpos semi-nus (malhados ou nem tanto).

Milhares de simpatizantes desfilaram no centro da cidade

A Bahia é gaaaaaaaaaaaaaaay!

Com o tema "Homofobia mata: seu voto vale sua vida!", o desfile, misto de passeata e Carnaval, passou ao som de música eletrônica e hits do axé, pagode e arrocha. "A Bahia é gaaaaaaaaaaaaay", gritava o polêmico e combativo Luiz Mott, fundador do GGB, em cima do trio. Acredito que muita gente se tremeu toda, nesse momento, do cóccix até o pescoço. Ui! Na verdade, ainda não compreendi o porquê dele iniciar os seus discursos com essas palavras. Isso porque a intenção não corresponde a realidade. A Bahia não é gaaaaaaaaaaaaay. Que o diga um senhor "de idade" indignado falando a um "amigo" num supermercado, no dia seguinte, naquele tom para quem quiser ouvir, que se sentiu discriminado com a declaração. "Um absurdo!", praguejava.

Go go boys mostraram seus dotes...

Segundo dados do próprio GGB, no ano passado foram assassinados 18 homossexuais no estado e este ano já são 16 vítimas entre gays e travestis. A terra da felicidade é a líder no ranking Brasileiro da Homofobia. Não me pergunte como é feito esse ranking. Vá na página do GGB. “Vamos lembrar aos eleitores da parada: seu voto vale sua vida!, estimulando-os assim a votar em candidatos que defendam os direitos dos homossexuais.”, disse Mott no site do Grupo. É época de eleição, diga-se.

...assim como as "travas"

A Parada dos simpatizantes teve tudo o que está na cartilha do movimento de sexo: go go boys, muita fantasia, menina beijando menina, menino abraçado com menino, vovó assistindo a tudo entusiasmada, pais levando criancinhas de colo e pouca, mas muito pouca mobilização política. Não falo de panfletagem. Afinal, nem o governador Jaques Wagner nem o prefeito-candidato João Henrique participaram do evento. A presença dos candidatos a Prefeitura estava proibida pela legislação. Mas, a não ser o discurso do Mott, o release distribuído pelo GGB e uma bandeira da UNE, pouco vi de propostas. Era para ter? A Parada não é uma mobilização para alguma idéia ou causa? Ou é apenas um movimento daqueles que são simpáticos aos gays? Afinal, são poucos os homossexuais participantes que, fora o grande evento (com espaço e lugar determinados), têm coragem de se assumirem, por diversas razões que eu não tenho paciência de descrever.

Estudantes: saiam do armário!


A situação é diferente de alguns anos? É. Mas não acredito que seja fácil ou confortável. Não é, ainda mais em um país onde a sociedade se mostra mais horrorizada em imaginar ver dois homens se beijando na novela das 8 da Rede Globo do que ver alguma chacina ou escândalo no governo. Por isso, na noite calma e constelada, a lua cheia já se anunciava quando os gatos pardos, que obviamente odeiam a luz do dia, começaram a colocar a cara na rua.

Léo Kret, onça na gaiola, desfila para delírio da massa

PS: Como posso me esquecer disso. Vale registrar a presença inenarrável do(a) candidato(a) a vereador(a), o dançarino(a) de uma banda de pagode, Léo Kret. Pelo que vi, em termos de popularidade, só perde para a cantora Ivete Sangalo, o Ivetão, como carinhosamente é conhecida. Eis que surge no desfile, dentro de uma gaiola devidamente vestido de onça para delírio do povo. Tosco.

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