Ou: Vai chorar no pé do caboclo

Ou é mais ou menos. Tudo depende do complemento: pode ser Independência da Bahia do domínio português ou Independência do Brasil do domínio português na Bahia. Afinal, se o grito do outro foi dado às margens do Ipiranga, em EssePê, em 7 de setembro de 1822, os portugueses só levaram o pé na bunda definitivo na Bahia em julho de 1823. Diferentemente do que aconteceu lá, aqui o movimento custou vidas e foi conquistada à bala.

Tem até fogo simbólico, como nas Olimpíadas, tá! Depois de sair de Cachoeira e passar por cinco cidades a chama que simboliza a união dos povos que lutaram é levada pelas ruas até chegar ao monumento da independência, no bairro do Campo Grande. Acho digno.


As casas ruas do centro histórico se enfeitam e milhares de pessoas festejam as figuras mais carismáticas da festa, o Caboclo e a Cabocla, criadas para homenagear os batalhões e os heróis de 1823. As figuras - primeiro ele, 20 anos depois ela – surgiram porque o povo resolveu fazer naquela época sua própria comemoração e levou uma escultura de um índio para representar as tropas, já que não poderia ser um homem branco, porque lembrava os portugueses, nem os negros que não eram valorizados.


Enfim, além de admiradas, para os religiosos a dupla também é sinônimo de fé. Muita gente vai pedir benção aos caboclos, solicitar auxílio ou simplesmente agradecer as graças alcançadas. Daí surgiu a expressão popular onde, quando alguém reclama muito da vida, recebe como resposta: vai chorar no pé do caboclo! Detalhe: as homenagens aos índios se disseminam também por terreiros que cultuam os caboclos.


Entretanto, a diversidade do Dois de Julho, vai muito, muito além disso. Depois das vaias ou palmas que os políticos recebem, a festa ganha as ruas com o desfile das fanfarras. É uma criatividade fora do comum e diversão na certa. Em determinado ponto do desfile, alguns chegam a dizer que é a segunda Parada Gay baiana.


É uma pena o Brasil não valoriza este evento. Poucas pessoas fora da Bahia conhecem o Dois de julho. Uma falha enorme de informação histórica, pois se trata do processo de independência deste país. Mais que isso: é uma festa para participar. Só sabe do que se trata quem vai lá, quem vê o interesse do povo em festejar e manter a tradição. E é um momento para entender um pouquinho por que o povo festeja um carro com um caboclo, que aponta uma lança para um dragão, e tem a presença de, entre outras figuras, anjos barrocos. Só se vê na Bahia.