De dois ff se compõe
esta cidade a meu ver:
um furtar, outro foder. (...)
Se de dois ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia,
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
esta cidade ao meu ver.(Gregório de Mattos)
O que é a Bahia, não é minha gente? Alguém saberia definir o estado onde o Brasil nasceu, por favor? Dizem alguns, em verso e prosa inclusive, que é a terra da felicidade, da alegria... o lugar ideal para viver, para não fazer nada. Tem povo acolhedor, sorridente, servil, além de belas mulatas. Eu, particularmente, gosto muito de uma definição feita ainda no século XVII pelo poeta baiano Gregório de Mattos, o Boca do Inferno. Segundo ele, o estado é composto não pelas cinco letras que são B-A-H-I-A, mas por dois “efes”: um de furtar e outro de foder. Alguém duvida? Não importa... A Bahia - terra de Glauber Rocha, Caetano Veloso, ACM e Padre Pinto - tem um conjunto de peculiaridades que a torna um lugar singular, único, e a faz oscilar, a todo o instante, entre o moderno e o arcaico. Não é por acaso que eu digo que "para qualquer absurdo há sempre um precedente por aqui”.
Bem... hoje a Bahia (ou a cidade da Bahia - que é EsseEsseÁ) festeja a Lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim. É o mais importante evento popular do estado depois do Carnaval. Não preciso falar que nada se compara às festas religiosas desta cidade, principalmente a do Bonfim. Muita gente pede folga no trabalho. Outros inventam doença, morte de tia distante, etc... É uma coisa. Político que se preze e tenha algum respeito pela Bahia tem que estar presente. As baianas são as protagonistas desta história. Pela manhã elas puxam o cortejo de oito quilômetros a partir da Igreja da Conceição da Praia, entoando cânticos de louvor ao Senhor do Bonfim. Atrás delas vão devotos, políticos, artistas, gente protestando contra o FMI, o governo Lula, turistas e os baianos dos ff. A lavagem das escadarias propriamente dita acontece pela manhã. Depois, só quem foi e Deus são os que sabem. Ou não, a depender da cachaça tomada. Quem não gosta, vai para festa privada ouvir axé. Agora, quem quer entender um pouquinho do que seja Bahia tem que ir ao Bonfim. É obrigatório.
Mais Bahia: Onde está o padre Pinto?
Semana passada, as atitudes no mínimo curiosas do padre José Pinto, da Igreja da Lapinha, em EsseEsseÁ, tornaram-se tema de calorosas discussões na Bahia e no Brasil. Como eu disse, tem que acontecer primeiro aqui. Até o Fantástico abordou o assunto. O que aconteceu? Basicamente, o padre celebrou missa maquiado e fantasiado de Oxum, participou de um balé vestido de índio guerreiro, requebrou, saracoteou na nave da igreja e levou hóstia a uma mãe de santo de joelhos. Alguns ficaram chocados. Outros, adoraram. Passada a surpresa, o que todo mundo está se peguntando hoje é: - onde está o padre Pinto?
Para aqueles que não acompanharam o episódio, na semana passada o padre em questão reuniu representantes do clero, da comunidade e convocou a imprensa para declarar a falta de apoio e de recursos da Prefeitura - agora comandada por um evangélico - para a tradicional festa dos Reis Magos da Lapinha. Disse inclusive que foi destratado. A reclamação surtiu efeito e na quarta-feira o dinheiro foi liberado. Na quinta, aconteceu o que aconteceu. Durante a missa, o padre chegou a chorar e a pedir que não o tirassem da paróquia, onde está há 30 anos. Mesmo assim, um grupo de católicos apresentou um abaixo-assinado pedindo sua saída da paróquia, com o argumento de que ele estava aproximando a celebração católica do rito do candomblé. Dom Geraldo Majella condenou o comportamento e afirmou, por meio de nota, que o padre merecia cuidados terapêuticos.
Em entrevista publicada hoje no jornal A Tarde, o arcebispo primaz do Brasil e presidente da CNBB afirma que ficou sabendo do episódio pela TV: "Fiquei muito surpreendido pelo modo como ele estava vestido e se comportou. (...) Ele cometeu vários erros. O modo como se apresentou não era um ritual tipicamente romano. O aparato muito misturado com outras formas de liturgia não-católicas não é lícito, pois não pode haver essa mistura", disse.
Questionado se o padre Pinto sofrerá algum tipo de punição, Dom Geraldo respondeu: "Nós não temos nenhum Exército nem cadeia para castigar ninguém. O que queremos é a obediência (...) Deve-se saber que há um princípio de rito católico e quem abraça essa fé deve ser fiel a ele e segui-lo de modo como ele está estruturado".
Artista plástico e bailarino de formação clássica, o padre Pinto é conhecido por ser um irreverente agitador cultural em sua paróquia. De todo esse episódio, achei o padre um entusiasta. Afinal, a festa tradicional estava esvaziada, sem estímulo. "Estou seguindo o Papa João Paulo II, o nosso João de Deus, que pediu a todos nós, padres, que tivéssemos novos métodos de evangelização”, justificou o padre. Bem... eu sou um dos que estão na torcida para que ele volte. hehe. Mas é o que eu sempre digo: Coca-cola é isso aí. (Ver texto: Barrada no baile, de 24/11).
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