segunda-feira, 28 de novembro de 2005

Relexão # 14

Vi este texto revirando o arquivo morto. É do texto da semana. Da semana, hein? hehe! Ou não...

Da solidão

De companhia, a palavra, e com ela me atraco no meio da noite. Ela passeia pé ante pé e me impõe possessões. As soluções são ácidas. Eu rio estúpida. Dez horas de uma solidão uníssona. Os classificados anunciam encontros, desencontros, massagistas. Adolescentes defronte dos vídeos contemplam solitários, solitários enredos de amor. Nos restaurante, filés de solidão com coca-cola que estômagos ansiosos digerem. A esposa finge seu orgasmo ordeiro e espera que o marido durma para saborear a solidão. As crianças sonham mundos ideais inventados por pais infelizes. Os homens que desejam mulheres estão sós. As mulheres que desejam homens estão sós. Os homens que desejam homens estão sós. As mulheres que desejam mulheres estão sós. No palácio, o presidente desgoverna solitariamente um país de solitários. Cada ministério, uma solidão mal desempenhada. A palavra pensa soledade, irmã feminina de um ador toda fêmia. As camas amarrotadas, as mesas imensas, as salas repletas olham apiedadas para esse animal sem par numa terra que explode demograficamente.

De Aninha Franco, em Oficina Condensada (1992)

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