sábado, 18 de julho de 2009

Volta

Contagem regressiva para o retorno deste botequim. Por enquanto, deixo Gal Costa, com Dora.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Garçons me mordam!


Essa eu não poderia deixar de comentar. Muito me interessa. Um bar na cidade de Utsunomiya, no Japão, encontrou uma forma mais barata e diferente de atender seus clientes. Contrataram dois macacos para servirem as mesas. Os ágeis Yat-chan e Fuku-chan são encarregados de servir bebidas e toalhas quentes para os clientes limparem suas mãos.

O dono do bar revelou que que os bichos aprenderam vendo ele trabalhar e que cada um trabalha no máximo, duas horas por dia, norma estabelecida pelas leis de proteção dos animais.

Detalhe: os clientes elogiam o atendimento dos macaquinhos. Alguns chegam a dizer que eles são mais simpáticos do que os garçons humanos. Bem, com esse exemplo, acho que deveríamos adotar a idéia aqui em Salvador, onde os garçons se comportam feito macacos irracionais. Que dizer, macacos não. Agora não sei o que pensar. Fiquei confuso. Garçons me mordam! Que alguém aponte uma atendimento de qualidade aqui nesta cidade! Eles sempre fazem a linha do antológico Dr. Gori (personagem de Spectromen para quem não se lembra).

Yat-chan e Fuku-chan arrancam elogios pela presteza no atendimento


"-Não se ensina coisas novas a um macaco velho", diz Dr. Gori

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A Hora do Pesadelo

Ou: Lacraias assassinas
Ou: A caridade da beleza
Ou: Cinderela moderna


Estou fascinado, minha gente. É muita fofura reunida em uma só pessoa. Ela é tão gracinha, tão princesinha, tão doce, tão gostosinha, tão suave, tão cute-cute, tão tão tão... que, enfim, ganhou o papel (pra lá de merecido, vamos combinar, ela é linda!) , de grande estrela da nova novela das 6 da brasileiríssima, carioquíssima Rede Globo, que sempre nos surpreende. Já sabem de quem estou falando, não é? Isso mesmo, da ex-BBB, Grazi Massafera. Não é meigo, minha gente? Com isso, ela parte de ilustre desconhecida para o seu terceiro papel como atriz na Globo, sonho de onze entre dez ex-BBBs. Viram? Eu disse A-TRIZ. Não só isso, ela foi além: é PRO-TA-GO-NIS-TA, não é mais qualquer coadjuvante ou figurante que luta por uns 10 segundos de fama na telinha.

Querem um além do mais? Ela é da GLO-BO, não foi parar na Record ou na Rede TV! U-hu! Querem mais um além do mais, um super-além-do-mais? Ela é namorada de Cauã, o Raymond, aquele talento que faz papéis de garoto de programa ou similares. Por todos esses “aléns”, vamos torcer para que este seja o primeiro papel de uma série.

Afinal, nesse momento, ela precisa de todo nosso apoio. As pessoas mais conservadoras metidas a intelectuais (de botequim, vamos chamá-las assim) estão à espreita, prontas a destilar veneno contra nossa nova musa. Elas estão acostumadas a chamar de atriz apenas pessoas como Fernanda Montenegro, Marília Pêra, Marieta Severo, Glória Pires, Patrícia Pilar, Cláudia Abreu... Bete Davis. Enfim, não sabem de nada, esses radicais. Chega de Malu Mader como protagonista! Chega de Ana Paula Arósio!!!!!

"Fui chamada no susto para fazer a novela e agora quero ficar bem focada", disse a ex-BBB durante o lançamento da novela, em EssePê. Ela está tentando controlar o nervosismo, minha gente. O que nos aflige é que Grazi disse que está tendo pesadelos com a nova empreitada e acorda no meio da noite falando o texto de alguma cena. "Quando vejo qualquer coisa relacionada à novela me dá um friozinho na barriga. Sem coragem, ninguém cresce. Se eu tivesse medo, não saía de Jacarezinho. Estou dando minha cara a tapa mais uma vez", explicou em entrevista à revista IstoÉ Gente. Que delicada!

O autor de Negócio da China, Miguel Falabela, conhecido não sei bem o porquê como Loura Má, afirmou que Grazi está mesmo nervosa, como se vem comentando. "É o primeiro papel como protagonista, né? E ainda mais nesse mundo de lacraias assassinas em que a gente vive. Ela não deve nem estar dormindo direito, tadinha", disse. As revistas de fofoca, sempre elas, ventilaram por aí que a loura não queria a loura em sua novela, bateu o pé no chão e deu um tapa na coxa. Mas foi vencida. Agora, fica mandando regravar cenas porque está "insatisfeito" com a atuação.

Tadinha. Será que Natália do Valle, que está na mesma novela e está se esforçando para manter a forma aos 57 anos, tratará a Grazi com carinho? Em Páginas da Vida, rolou um boato forte que a atriz fazia a egípcia quando a nossa musa estava por perto, ou seja, passava reto sem falar com ela. Vamos torcer para que agora Natália seja mais humilde. Por isso, vamos dizer um além do mais a mais. Além do mais, ela terá como par romântico ninguém menos que Fábio Assunção, aquele que não quer de jeito nenhum aparecer no programa de Ana Maria Braga. Por que será, hein? Fábio diz que não consegue acordar cedo. Será? "Está sendo ótimo trabalhar com ela, que tem uma energia muito boa", explicou o ator boa praça. Tomara que o galã não desconcentre a nova namoradinha do Brasil, por que não? a nova Regina Duarte, com aqueles tiques que ele faz enquanto fala. Ele precisa se tratar, minha gente!

Ok, ok. Se os insatisfeitos com a presença de Grazi crescerem durante a sua participação solar na novela das 6, recomendo que nossa musa peça auxílio à Flora, de A Favorita. Com certeza, a vilã-boazinha ensinará como eliminar desafetos sem deixar rastros. (((Sobe som de tensão)))

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Meu segredo e minha revelação

Ou: Minha voz, minha vida


Na última sexta-feira, 26, fez aniversário minha musa e eterna namorada, Gal Costa. Tenho que admitir: não me canso da voz de Gal, de escutá-la. O canto dessa sereia me enfeitiçou quando eu ainda tinha apenas cinco anos. E não me canso. É uma das vozes da minha vida que eu não posso deixar de ter por perto, água que mata minha sede, bússula que direciona meu olhar para as estrelas e me faz sonhar. Viver. A presença de Gal em minha vida é algo misterioso, guardado em algum recanto de minha alma que ainda não decifrei e, por isso mesmo, me encanta.


Minha voz, minha vida
Meu segredo e minha revelação
Minha luz escondida
Minha bússola e minha desorientação
Se o amor escraviza
Mas é a única libertação
Minha voz é precisa
Vida que não é menos minha que da canção
Por ser feliz, por sofrer
Por esperar, eu canto
Pra ser feliz, pra sofrer
Para esperar eu canto
Meu amor, acredite
Que se pode crescer assim pra nós
Uma flor sem limite
É somente por que eu trago a vida aqui na voz

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Os loiros brazucas!

Ou: Aloha!
Ou: Tipo assim... é show, brother!
Ou: Toca Raul Jack Johnson!


Três Irmãs: A maquiagem mais usada é o filtro solar

É impressão minha, ou a nova novela das 7 da brasileiríssima, carioquíssima Rede Globo, Três Irmãs, tem a maior quantidade de loiros por cena da televisão brasileira na atualidade? Quem tiver disponibilidade de assistir a um capítulo da novela (sei, sei que é difícil... mas, se eu consegui, vc também consegue!) definitivamente terá a mesma impressão. A emissora se superou em sua seleção natural. É a novela mais branca dos últimos tempos, um impressionante painel daqueles que nasceram neste país com cabelo molinho cor de sol. Meus olhos chegaram a ficar ofuscados ao ver tanto blonde na minha frente ao mesmo tempo. Sinto-me assistindo a um seriado finlandês, uma coisa tipo assim... nórdica.


Obviamente, brother, pela ótica da Globo, os negros não praticam surf, não vivem em praias tropicais paradisíacas e não são do tipo "gente boa que só quer curtir a natureza, pegar onda e ouvir jack johnson". Por isso, a presença minima de atores "de cor". Eles também não pegam bronze (“a maquiagem mais usada é filtro solar”, diz um dos slogans da novela) e, por isso mesmo, não consomem muito sundown, não é mesmo, minha gente? Afinal, para Globo, ser surfista é um estado de espírito que passa pela cor da pele e pelo último grito da moda em clareamento artificial de cabelo.


O resultado é que esta foi uma novela perdida para os atores que não podem pintar a pele, assim como o cabelo, de amarelinho para interpretar personagens no enredo. Lamentável. O contraditório é que a emissora sempre alega que é contra o racismo, contra toda forma de discriminação, blá, blá, blá. Mas, em suas novelas, prevalece um elenco de pessoas brancas, exceto quando o tema é escravidão. Neste caso, com um agravante: o herói, libertador do negro na trama é um... homem branco . Sempre. O disfarce do preconceito da emissora ocorre quando escala dois ou três atores negros em um elenco composto por mais de 20 ou 30 atores.


A linguagem da telenovela Globo é antiquada (a mocinha branca, de preferência loira, de preferência de olhos azuis só será feliz ao lado do príncipe encantado branco no último capítulo). Além disso, a produção da Vênus Plantinada (há!) está a léguas de distância das propostas mais atuais que séries de televisão americana e inglesa vem apresentando, com negros protagonistas sem serem escravos ou empregados domésticos.


A telenovela no Brasil dita modas e manias. E essa influência não se restringe apenas ao novo modelo de celular ou à nova marca de perfume. Com esse comportamento, a emissora dá uma contribuição (!) enviesada à parcela negra de jovens que ainda está em busca de referências pessoais. E a pergunta fica: quando se dará, enfim, a aceitação efetiva do negro em novelas (um produto que o brasileiro adora) como um personagem comum aos demais que formam o tecido social?

Bonus Track

Ao contrário das novelas da Globo, os loiros são minoria neste país tropical, apesar de toda química aplicada principalmente pelas mulheres para alterar essa "falha" genética. E todo mundo sabe que as minorias são alvo preferencial das piadas, aquele tipo de comentário politicamente incorreto racista, sexista, etc. Logo, os loiros não são diferentes. E eu não vou perder essa oportunidade.

I
Um loirão, bonitão, olhos azuis, fisico invejável e acadêmico - frequentador de academias de ginástica -, 1,90 de altura... entrou num bar muito chique levando consigo um lindo violão.
Todos olharam para ele como se visse um daqueles deuses gregos ao vivo!
Mal ele sentou-se para pedir alguma coisa, uma turma de rapazes na mesa ao lado disse a ele:
- Toca uma para nós, por favor!
- Claaaro... Maaas quem segura o vilão para miiimmm!



II
Um irlandês, um mexicano e um loiro estavam trabalhando na construção de um edifício de 20 andares. Eles começaram a abrir suas marmitas para almoçar e o irlandês disse, irritado:
- Bife com repolho de novo! Se eu abrir essa maldita marmita amanhã e encontrar bife com repolho me jogo desse prédio!
O mexicano abriu sua marmita e gritou: - Burritos de novo! Se amanhã meu almoço também for burritos, me jogo daqui!
O loiro abriu a sua e disse: - Sardinha de novo! Não!!! Se meu sanduíche amanhã for de sardinha de novo, me jogo também.

No dia seguinte, o irlandês abriu sua marmita, viu o bife com repolho e pulou para a morte. O mexicano abriu sua marmita, viu os burritos e pulou também. O louro abriu o sanduíche, viu que era de sardinha e também se jogou do prédio.
No enterro, a mulher do irlandês chorava sem parar, dizendo: "Se eu soubesse o quanto ele estava cansado de comer bife com repolho, eu nunca mais teria posto na marmita dele!"
A mulher do mexicano também chorava: "Eu poderia ter feito tacos ou enchiladas! Não percebi o quanto ele estava odiando comer os burritos!"
Todos se voltaram e olharam para a esposa do loiro, que respondeu: "Ei, nem olhem para mim! Ele sempre fez seu próprio almoço!"

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Reflexão # 18

No caminho com Maiakóvski


“[...]
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
[...]“


Como diz o jornalista Paulo Henirque Amorim, no Conversa Afiada, estamos vivendo sob a égide do Partido da Imprensa Golpista, o PiG. Uma verdadeira farsa montada por componentes do Legislativo, do Judiciário e da Imprensa para acobertar e proteger as falcatruas do dono do Brasil, o banqueiro Daniel Dantas.

Ações que buscam tirar o foco do principal investigado (Daniel Dantas):

1) Pedido de Suspeição do Juiz Fausto De Sanctis,
2) Pedido de Exceção de Incompetência do Juiz Fausto De Sanctis,
3) Representação ao CNJ - Conselho Nacional de Justiça contra o Juiz Fausto De Sanctis
4) Fita de gravação da reunião que afastou o Delegado Protógenes Queiroz,
5) Reportagem da Revista Veja a respeito de suposto “ grampo clandestino”,
6) Reportagem da Revista Isto É, a respeito do suposto ” espião Ambrosio da ABIN”,
7) Reportagem da Revista Época, a respeito do suposto ” comando das Forças Armadas”,
7) Reportagem da Revista Veja, a respeito dos supostos ” Guerreiros das Sombras”,
9) Reportagem da Revista ISTO É, a respeito das supostas “MENTIRAS DA ABIN” e
10) outros Jornais diários que fizeram coro as falsas notícias.

ESTAMOS VIVENCIANDO UMA ERA DE ESCÂNDALOS, FABRICADOS COM INTUITO DE CONFUNDIR O POVO E CRIAR PROVAS PARA BANDIDO. ” QUEM PROTEGE BANDIDO É ” ( Protógenes)

Bonus Track: De Sanctis, o suspeito de querer investigar criminosos


Nessa história toda, não existe pessoa mais investigada, atormentada, pressionada, coagida e constrangida que o corajoso Juiz Fausto De Sanctis, aquele que prendeu Daniel Dantas duas vezes, e a PF e o Supremo Presidente tentam proteger.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Imprensa e quebradeira

Com toda essa história de quebradeira dos bancos americanos, a imprensa brasileira parece uma p.. tonta. Coloco então um raio-x dos principais jornais e suas versões particulares sobre o fim do mundo.


The New York Times
O MUNDO VAI ACABAR

O Globo
GOVERNO ANUNCIA O FIM DO MUNDO

Jornal do Brasil
FIM DO MUNDO ESPALHA TERROR NA ZONA SUL

O Dia
FIM DO MUNDO PREJUDICA SERVIDORES

Folha de S. Paulo
(ao lado de um imenso infográfico) SAIBA COMO SERÁ O FIM DO MUNDO

O Estado de S. Paulo
CUT E PT ENVOLVIDOS NO FIM DO MUNDO

Zero Hora
RIO GRANDE VAI ACABAR

A Notícia
PSICOPATA MATA A MÃE, DEGOLA O PAI, ESTUPRA A IRMÃ E FUZILA O IRMÃO AO SABER QUE O MUNDO VAI ACABAR!

Tribuna de Alagoas
DELEGADO AFIRMA QUE FIM DO MUNDO SERÁ CRIME PASSIONAL

Estado de Minas
SERÁ QUE O MUNDO ACABA MESMO?

Jornal do Commercio
JUROS FINALMENTE CAEM!

A Tarde
BAIANOS FESTEJAM ÚLTIMOS DIAS

Correio da Bahia
ACM DIZ QUE SALVARÁ OS BAIANOS DO ALÉM

Jornal dos Sports
NEM O FIM DO MUNDO SEGURA O MENGÃO!

Correio Braziliense
CONGRESSO VOTA CONSTITUCIONALIDADE DO FIM DO MUNDO

Notícias Populares
O MUNDO SIFU, ACABOU-SE TUDO!

Nas Revistas:
Veja
EXCLUSIVO: ENTREVISTA COM DEUS
- Por que o apocalipse demorou tanto
- Especialistas indicam como encarar o fim do mundo
- Paulo Coelho: "O profeta viu o fim do mundo e chorou"

Nova
O MELHOR DO SEXO NO FIM DO MUNDO

Querida
TESTE: SEU NAMORO VAI ACABAR ANTES DO FIM DO MUNDO?

Playboy
NOVA LOIRA DO TCHAN: UM APOCALIPSE DE SENSUALIDADE!

Info Exame
100 DICAS DE COMO APROVEITAR O WINDOWS THE END!

Época
ATÉ O FIM DO MUNDO A SUA REVISTA "ÉPOCA" ESTARÁ CUSTANDO R$2,80

Forma e Beleza
Tenha um END light. Leia aqui, como!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Diálogos Possíveis

Ou: Eu quero ver!

- Então, o que você pensa da Parada Gay baiana?


No sábado, 13, a atriz Letícia Spiller esteve no Pelourinho, em EsseEsseÁ, gravando cenas para o filme De Corpo Inteiro - Clarice Lispector Entrevista. A película tem direção de Nicole Algranti, sobrinha-neta da escritora, que pretende transportar para a telona entrevistas realizadas por Clarice registradas em livro homônimo. Na Bahia, "participaram" o escritor Jorge Amado e o artista plástico Carybé, dois grandes representantes da cultura local. Letícia é uma das atrizes que irão interpretar Lispector. Em entrevista ao jornal A Tarde, a diretora explicou o porquê: "Achei que seria um grande barato convidar várias atrizes. Mas também penso que se fosse apenas uma, mesmo que fosse a maior das atrizes, não resultaria em algo crível”. Será?

Para saber mais sobre o filme, leia aqui e aqui.

Parada dos Simpatizantes Rosa Choque!


Ou: Beber, cair e levantar
Ou: Os gatos pardos não saem durante o dia



No último domingo, 14. EsseEsseÁ assistiu a sua VII Parada do Orgulho dos Simpatizantes aos Gays, atualmente um tipo de evento mais que obrigatório no calendário das cidades que desejam ser vistas como "civilizadas" no mundo ocidental. É tipo super-tendência, entende? Por aqui, um número considerável de 400 mil pessoas, segundo a PM (mais de meio milhão, de acordo com o Grupo Gay da Bahia), participaram do desfile no centro da capital. Digo considerável por Salvador ser a terceira maior metrópole deste país, com 2,9 milhões de habitantes. Mas, vá lá, nessa conta não poderíamos deixar de fora, obviamente, a multidão que veio em caravana de cidades da região metropolitana e de outros municípios próximos à capital, além dos turistas, claro.

Depois do Carnaval, a Parada dos simpatizantes é o evento que reúne o maior numero de pessoas nas ruas de EsseEsseÁ. Minto. Acredito que a tradicional Lavagem do Bonfim está no páreo em termos de popularidade. Mas não vou fazer conta agora. Digamos que, a depender a intenção de quem escreve, estão pau a pau, sem segundas intenções. Os trios - grande contribuição baiana para o divertimento da massa - desfilaram pelo circuito tradicional da folia momesca soteropolitana, no centro da cidade, e o que vi, me contaram ou minha inteligência imagina foi a participação de uma diversidade (?) de pessoas, com estilos e comportamentos completamente distintos, desde "bofinhos" e "periguetes" da periferia a mauricinhos entupidos de "bomba" e intelectuais da UNE, além dos cabos eleitorais de plantão. Um representativo arco-íris humano.

Vi tudo da janela e entrei no pacote de camarote, assim como milhares de espectadores. Não tenho disposição de participar de passeadas nem de nada que envolva trio elétrico e muita gente bêbada. A não ser no Carnaval, do qual sou fã. Ainda no início da manhã, um imensa fila de vendedores ambulantes se formou, prenunciando a festa que Baco iria fazer. Céu azul, domingo... sabe como é, né? Nada para fazer. O clima foi perfeito este ano não só para as bees mais performáticas "fecharem" na avenida como também para o desfile de corpos semi-nus (malhados ou nem tanto).

Milhares de simpatizantes desfilaram no centro da cidade

A Bahia é gaaaaaaaaaaaaaaay!

Com o tema "Homofobia mata: seu voto vale sua vida!", o desfile, misto de passeata e Carnaval, passou ao som de música eletrônica e hits do axé, pagode e arrocha. "A Bahia é gaaaaaaaaaaaaay", gritava o polêmico e combativo Luiz Mott, fundador do GGB, em cima do trio. Acredito que muita gente se tremeu toda, nesse momento, do cóccix até o pescoço. Ui! Na verdade, ainda não compreendi o porquê dele iniciar os seus discursos com essas palavras. Isso porque a intenção não corresponde a realidade. A Bahia não é gaaaaaaaaaaaaay. Que o diga um senhor "de idade" indignado falando a um "amigo" num supermercado, no dia seguinte, naquele tom para quem quiser ouvir, que se sentiu discriminado com a declaração. "Um absurdo!", praguejava.

Go go boys mostraram seus dotes...

Segundo dados do próprio GGB, no ano passado foram assassinados 18 homossexuais no estado e este ano já são 16 vítimas entre gays e travestis. A terra da felicidade é a líder no ranking Brasileiro da Homofobia. Não me pergunte como é feito esse ranking. Vá na página do GGB. “Vamos lembrar aos eleitores da parada: seu voto vale sua vida!, estimulando-os assim a votar em candidatos que defendam os direitos dos homossexuais.”, disse Mott no site do Grupo. É época de eleição, diga-se.

...assim como as "travas"

A Parada dos simpatizantes teve tudo o que está na cartilha do movimento de sexo: go go boys, muita fantasia, menina beijando menina, menino abraçado com menino, vovó assistindo a tudo entusiasmada, pais levando criancinhas de colo e pouca, mas muito pouca mobilização política. Não falo de panfletagem. Afinal, nem o governador Jaques Wagner nem o prefeito-candidato João Henrique participaram do evento. A presença dos candidatos a Prefeitura estava proibida pela legislação. Mas, a não ser o discurso do Mott, o release distribuído pelo GGB e uma bandeira da UNE, pouco vi de propostas. Era para ter? A Parada não é uma mobilização para alguma idéia ou causa? Ou é apenas um movimento daqueles que são simpáticos aos gays? Afinal, são poucos os homossexuais participantes que, fora o grande evento (com espaço e lugar determinados), têm coragem de se assumirem, por diversas razões que eu não tenho paciência de descrever.

Estudantes: saiam do armário!


A situação é diferente de alguns anos? É. Mas não acredito que seja fácil ou confortável. Não é, ainda mais em um país onde a sociedade se mostra mais horrorizada em imaginar ver dois homens se beijando na novela das 8 da Rede Globo do que ver alguma chacina ou escândalo no governo. Por isso, na noite calma e constelada, a lua cheia já se anunciava quando os gatos pardos, que obviamente odeiam a luz do dia, começaram a colocar a cara na rua.

Léo Kret, onça na gaiola, desfila para delírio da massa

PS: Como posso me esquecer disso. Vale registrar a presença inenarrável do(a) candidato(a) a vereador(a), o dançarino(a) de uma banda de pagode, Léo Kret. Pelo que vi, em termos de popularidade, só perde para a cantora Ivete Sangalo, o Ivetão, como carinhosamente é conhecida. Eis que surge no desfile, dentro de uma gaiola devidamente vestido de onça para delírio do povo. Tosco.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A burrice é invencível?

Ou: Pede pra sair!
Ou: No creo!


Faltando menos de três semanas para as eleições municipais, a impressão que tenho da propaganda eleitoral na televisão (nas ruas nem parece que estamos em época de eleição) é de que se trata de um inútil teatro do absurdo. A sensação é que os sorrisos, preocupações, gestos, acusações e todo o circo armado não significam nada, não têm importância nenhuma na prática. Vencer é o fim. Os meios... bem... danem-se os meios. Ser do PT, DEM, PSDB, PMDB não tem a mínima diferença. O governador deste estado, por exemplo, apoia três candidatos. Sintomático.

Pois bem. O mais incrível desses projetos rasteiros é a total falta de credibilidade. Difícil encontrar alguém (pelo menos, não conheço) que acredite nas propostas apresentadas. Câmeras na cidade para aumentar a segurança? Hospital do idoso? Metrô? Subúrbio será prioridade? Tsc, tsc. No creo. Por isso que, nos últimos dias, é comum ouvirmos expressões como "hilário eleitoral", "otário eleitoral", "zorra eleitoral"... É uma esculhambação só. Estamos brincando de democracia: eles (os candidatos) fazem de conta que estão "praticando" política e nós fingimos que somos cidadãos, preocupados com o "futuro de nossa congestionada e insegura cidade". Balela.

O fundamental, entre os incluídos, é pensar como garantir algum "trocado" ou "benefício" com a próxima administração. "É interessante ser aliado de quem nesse momento?" é a pergunta-chave. Já entre os excluídos... bem... além de servirem de "cenário" e/ou "personagens" dos programas dos candidatos a prefeito, o negócio da China para eles é ganhar alguma coisa (bloco, cimento, camisa...) logo agora, de imediato, porque depois só Deus sabe quando virá o prefeiturável novamente. A pergunta é: "Vai me dar o quê?"

O grotesco predomina, principalmente entre os candidatos a vereador. A tendência do momento é ser o mais sincero possível com o eleitor, do tipo "me ajude, que eu te ajudo". Não cola mais a imagem do bom Samaritano. É hilário, não vou mentir. Mas, por que tudo nesse país tem que ser nivelado por baixo? Esses candidatos não eram para ser exceção? Na minha cabeça, eram para ser. Mas não são. Perdi. Peço pra sair? Bem... ao final, o difícil mesmo é encontrar alguém que realmente valha a pena dar o seu voto. Eu ainda não encontrei. Alguma sugestão?

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Amy em transe


A cantora inglesa Amy Winehouse é um símbolo de nossa época. A artista é a queridinha da mídia, desde a mais tradicional, figurando em veículos considerados sérios como grande artista, até aquela que conhecemos como sensacionalista, pé sujo mesmo. Infelizmente, há muito a arte feita por Amy deixou de ser o assunto mais importante. O que interessa é falar sobre seu comportamento porra-louco. Amy é hard. Não é a garotinha confusa que quer chamar a atenção, como o tipo que Britney Spears fez (se bem que ela está meio quieta nesses últimos meses). O poço de Winehouse é mais embaixo. E a seqüência de factóides criados em torno dela, infinita.

Quando digo símbolo, refiro-me à questão da intimidade devassada. É cada vez mais cansativo acompanhar o noticiário. Casos são explorados à exaustão até que outro mais chocante venha à tona. O assassinato da menina Isabela Nardoni é um exemplo já clássico.

Com a exposição quase que diária na mídia internacional, Amy está mais próxima de mim, de você, do que nossos próprios amigos. Nos jornais, sites, blogs, Tv´s é impossível ficar imune. E quem gosta da cantora, é impossível não ter seu interesse desperto. Convivemos com o drama da cantora e sabemos quando Amy brinca com rato, cheira, bate em fã, cai em apresentação, bebe, é hospitalizada, de vizinhos que querem expulsá-la, de pai que não sabe mais o que fazer, etc. A explicação dada pelas pessoas próximas é a de que está triste porque o marido Blake está preso.

A mãe do cara confessou em entrevista a um desses tablóides ingleses que quer impedir que o casal se reencontre até que ela se desintoxique. Isso porque , uma vez livre, Blake deve se encontrar com Amy, o que, em sua opinião, "poderia ser uma sentença de morte para ambos”. "Blake acredita que vai ser o salvador de Amy. Mas ela é completamente instável. Blake é um viciado que está se recuperando e não é suficientemente forte para resistir à tentação. Se eles se reunirem, eu sei que voltarão às drogas em questão de dias. Os traficantes vão pipocar em torno de Blake e Amy. Eles são garantia de compra para os traficantes", disse.

Winehouse e Fielder-Civil se casaram em Miami, em maio do ano passado. Ele ainda ficará mais quatro meses e meio na cadeia, pois se declarou culpado da agressão ao dono de um pub em 2006 e, então, tentou acobertar o crime. Blake, ex-assistente de videoclipes, passou boa parte de seu primeiro ano de casado atrás das grades, sendo preso nove meses antes de seu julgamento.


Sóbria


Apesar de ocupar com freqüência as capas de revistas e tablóides devido aos escândalos com drogas e com o marido que está preso, Amy ganhou em julho uma estátua de cera no badalado museu Madame Tussauds, em Londres. Teve visita de seu pai, que deixou-se ser fotografado ao lado da filha sóbria. Afinal, era de cera. Último detalhe: uma casa de Londres recebe apostas para quem acertar o dia em que a cantora vai morrer. Isso é mórbido. Amy é necessária.

Com tudo isso, vem à minha lembrança a fotografia de uma menina sudanesa agonizante por causa da fome, enquanto que um abutre espera pacientemente o momento em que a criança dê o último suspiro. Ele estava ali e imortalizou o momento com a sua máquina fotográfica, mas meses depois de ter tirado esta fotografia e de ter ganho o prêmio Pulitzer, suicidou-se. Os remorsos de consciência por não ter feito absolutamente nada por aquela menina foram mais fortes que o seu profissionalismo.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Independência “da” Bahia

Ou: Dia de protestos, homenagens e fé
Ou: Vai chorar no pé do caboclo


No início deste mês, a Bahia (leia-se EsseEsseÁ e Recôncavo) festejou a sua data mais querida: o dia da Independência. Para nós baianos (soteropolitanos) é o dia mais festivo, mais alegre, mais cívico do ano... mais até que o 7 de setembro. Eu e a maioria dos baianos (soteropolitanos) - por desconhecimento, por bairrismo ou por sacanagem mesmo - passamos a maior parte da vida chamando dia 2 de julho como o da Independência da Bahia. Não é.

Ou é mais ou menos. Tudo depende do complemento: pode ser Independência da Bahia do domínio português ou Independência do Brasil do domínio português na Bahia. Afinal, se o grito do outro foi dado às margens do Ipiranga, em EssePê, em 7 de setembro de 1822, os portugueses só levaram o pé na bunda definitivo na Bahia em julho de 1823. Diferentemente do que aconteceu lá, aqui o movimento custou vidas e foi conquistada à bala.

Enfim, 185 anos depois, o 2 de julho é considerada uma festa do povo de marré marré marré. A classe média baiana (soteropolitana) de marré derci vai cultuar seus caboclos o shopping. Por isso, tem de tudo: desfile de autoridades (quando vivo, ACM não perdia um desfile; Lula quando estava em campanha também vinha; Heloísa Helena não perde mais) protestos, irreverência, bandeirinhas da Bahia tremulando em cada canto, missa na Catedral Basílica, alvorada de fogos, ou seja, um espetáculo fofo de civismo.

Tem até fogo simbólico, como nas Olimpíadas, tá! Depois de sair de Cachoeira e passar por cinco cidades a chama que simboliza a união dos povos que lutaram é levada pelas ruas até chegar ao monumento da independência, no bairro do Campo Grande. Acho digno.

Gente nas ruas e nas sacadas dos prédios

As casas ruas do centro histórico se enfeitam e milhares de pessoas festejam as figuras mais carismáticas da festa, o Caboclo e a Cabocla, criadas para homenagear os batalhões e os heróis de 1823. As figuras - primeiro ele, 20 anos depois ela – surgiram porque o povo resolveu fazer naquela época sua própria comemoração e levou uma escultura de um índio para representar as tropas, já que não poderia ser um homem branco, porque lembrava os portugueses, nem os negros que não eram valorizados.


Baianinha cívica e "dragão" baiano

Enfim, além de admiradas, para os religiosos a dupla também é sinônimo de fé. Muita gente vai pedir benção aos caboclos, solicitar auxílio ou simplesmente agradecer as graças alcançadas. Daí surgiu a expressão popular onde, quando alguém reclama muito da vida, recebe como resposta: vai chorar no pé do caboclo! Detalhe: as homenagens aos índios se disseminam também por terreiros que cultuam os caboclos.

Modelito das fanfarras: um show de criatividade

Entretanto, a diversidade do Dois de Julho, vai muito, muito além disso. Depois das vaias ou palmas que os políticos recebem, a festa ganha as ruas com o desfile das fanfarras. É uma criatividade fora do comum e diversão na certa. Em determinado ponto do desfile, alguns chegam a dizer que é a segunda Parada Gay baiana.

Última tendência. Acho digno!

É uma pena o Brasil não valoriza este evento. Poucas pessoas fora da Bahia conhecem o Dois de julho. Uma falha enorme de informação histórica, pois se trata do processo de independência deste país. Mais que isso: é uma festa para participar. Só sabe do que se trata quem vai lá, quem vê o interesse do povo em festejar e manter a tradição. E é um momento para entender um pouquinho por que o povo festeja um carro com um caboclo, que aponta uma lança para um dragão, e tem a presença de, entre outras figuras, anjos barrocos. Só se vê na Bahia.

domingo, 29 de junho de 2008

Coração de mãe

Ou: Sempre cabe mais um

A disputa pela prefeitura de EsseEsseÁ está ganhando cada vez mais ares de uma novela de realismo fantástico. Daquelas que tem como cenário Macondo, de Gabriel Garcia Marques; ou então, o enredo de Os Mutantes, da Record. Mas, como diz o slogan “Só se vê na Bahia”, estamos em casa. Tenho que admitir. O governador deste Estado, o galeguinho dos óio azul, Jaques Wagner (PT), está simplesmente apoiando três candidatos. Ao mesmo tempo: o ex-prefeito Antonio Imbassahy (PSDB), o atual (afff!!) prefeito João Henrique (PMDB – leia-se Geddel Vieira Lima) e Walter Pinheiro (PT). Eu preciso urgentemente de um remédio tarja preta, porque estou ficando esquizofrênico. Adoro política. Faz um bem danado pra gente.

O único que ficou fora do coração de mãe de Wagner foi ACM Neto (DEM), apoiado pelo popular radialista local, Raimundo Varela. Este, após criar grande expectativa e disse-me-disse pela sua candidatura, viu que não teria grandes chances.

O galeguinho conseguiu um feito literalmente inacreditável em 2006. Contra todos os prognósticos realizados na época, venceu o candidato de ACM, Paulo Souto, e tornou-se o primeiro governador após 16 anos de carlismo. Amigo de Lula-lá (já foi ministro), aposta na tese da afinidade política União-Estado-Município. Porém, pergunto-me: Qual o resultado prático dessa ação na cabecinha dos eleitores? Que qualquer candidato que receber meu (seu) voto, mesmo com... digamos.... maneiras completamente diferentes de governar, estará apto à prefeitura de EsseEsseÁ e será apoiado pelo Estado? E se ACM Neto ganhar, vai rolar boicote?

Jaques Wagner aposta na vitória de um dos seus três candidatos


O que está por traz dessa indecisão (esperteza?) política? Medo de perder apoio dos partidos aliados na Assembléia Legislativa e, assim, inviabilizar o governo? Enfim... as armações, no bom sentido (se há bom sentido em armação política), estão aí. Pena que a vereadora Olívia Santana, do PC do B, desistiu da candidatura. Gritou, esperneou, disse que não ia abandonar o sonho de ser governante dessa cidade, etc. No final, depois de uma conversinha com o governador e em prol do bem coletivo, cedeu: apoiará a chapa encabeçada pelos petistas.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Reflexão # 17

Ou: Imigração x Escravião

Algum dia os negros africanos terão a dignidade das homenagens que os japoneses estão tendo nesse país?

"Brazil lindo, né?", diz príncepe Naruhito ao quebrar o protocolo pela 235ª vez

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Armação ilimitada

Ou: O morro não tem vez
Ou: Crônica de uma morte anunciada
Ou: Café de pobre
Ou: “Estou cagando para o capitão”



Definitivamente, a capacidade de maldade do ser humano é infinita. E o circo armado especificamente por políticos após as tragédias anunciadas, ilimitado. O assassinato de três jovens no Rio de Janeiro é o mais novo fato chocante da semana. Após serem abordados na madrugada de sábado quando chegavam de um baile funk por militares em uma praça do morro da Providência, no Rrrrrrrio, e levados para um quartel do Exercito, os rapazes apareceram mortos, no domingo. Seus corpos foram encontrados em um lixão, crivados de balas. O que aconteceu?

Simplesmente (simples assim!) os jovens foram seqüestrados pelos militares - 11 ao todo - e entregues a traficantes do morro da Mineira, rival da facção criminosa que comanda a Providência. De acordo com matéria publicada na Folha de S. Paulo, moradores relataram que de 10 a 30 criminosos (o número varia conforme o grupo de testemunhas) receberam o presente de sorriso largo e comandaram, então, uma sessão de torturas, com paulada, socos e chutes.

Tudo isso porque, após prenderem os jovens por suposto desacato, o tenente de 25 anos que comandava a operação não aceitou a ordem superior de um capitão de liberá-los. Segundo um delegado que investiga o caso, um dos soldados do Exército que fazia parte da equipe que entregou os jovens disse que o tenente, após deixar o quartel, disse que "estava cagando para o capitão" e por isso levaria os jovens para o Morro da Mineira para dar a eles um corretivo. O mais chocante é que os todos personagens dessa crônica têm, vítimas e algozes, no máximo, 25 anos.

Café sem açúcar

Tão chocante para mim quanto o fato dos jovens serem entregues como presente por militares a traficantes, foi o fato do ministro da Defesa ter ido tomar cafezinho no morro. Solidariedade é importante nesse momento, claro. Mas não consigo engolir a imagem de Jobim subindo o morro, ao lado de 40 soldados e 10 seguranças, para prestar conforto às famílias. Lembro quando ele também foi conferir pessoalmente a pista de Congonhas no episódio do apagão aéreo.

- Pode ficar despreocupada... vamos proteger todos vocês

Pois bem, em uma casa do morro da tia de um dos jovens mortos, o ministro tomou um copo de café, sem olhar para a dona da casa ou para o líquido que está ingerindo. Tudo devidamente registrado pelas câmeras de TV e lentes dos fotógrafos. O importante, nesses casos, é o cenário. Ela, ao lado, encarando o homem engravatado, rígido, afirma: - Foi meu sobrinho que morreu. Ele responde: - Eu sei, tomando um gole de café como se fosse “pinga”, assim, de vez. Ela reitera: - Foi meu sobrinho. Talvez ela achou que ele não escutou ou pensou que tinha que repetir a fala. Ele responde, dando o último gole: - Eu sei, vamos resolver.

Talvez seja aquele o único momento em que ela pode ser ouvida e vista pelas autoridades. Em depoimento, Sueli Ribeiro, 58, como é o nome da hospitaleira dona-de-casa, falou para os jornalistas sobre a visita do ministro: "Disse para ele dos abusos do Exército aqui dentro e ele disse que para a gente ficar tranqüilo, que já estavam tomando providências", disse ela. "Ele tomou café sem açúcar, café de pobre".

Essa é mais uma crônica brasileira. Triste país. Pobres cidadãos.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Eita, nóis!

- Alô, alô???
- Testando...
- 1...2...3...
- Tem alguém aí?

terça-feira, 26 de junho de 2007

Aviso!

Eita, que esse país está pegando fogo!
Forte abraço.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Blogagem coletiva

Hoje, sexta-feira, 13 (que medo!), Dia Internacional da Imprensa, está rolando uma espécie de blogagem coletiva com o tema: Limpeza Pública. Quem quiser saber mais, vai lá no texto de 05 de abril ou aqui para saber quais outros blogs estão participando. Pois bem... aqui vai minha contribuição.


WALDIR, O MANSO

Senta que lá vem história. Se existe uma coisa muito fácil, facílimo até, de se identificar neste país, é político que leva o adjetivo de corrupto. Não é por acaso. Até porque os escândalos recorrentes e os personagens protagonistas fizeram com que o fato de se chamar político de corrupto se tornasse uma expressão redundante. Vamos combinar: eles são desacreditados perante a sociedade e a impressão geral é que legislam em causa própria. Sempre. Reajustam o próprio salário a taxas impensadas pelo trabalhador ou empregador brasileiro, aumentam privilégios a título de compensação pelo “duro esforço” que dedicam aos mandatos, dão-se garantias perpétuas. Mas não é só isso. A cada dia que passa, o brasileiro, esse cordial, sente-se impotente quando à luz dos fatos, políticos são absolvidos, quando não pelos próprios pares - eles protegem-se uns aos outros - pela Justiça. Escondem-se feito ratos por detrás da imunidade que o cargo disponibiliza. E a vida continua.

Cada cidade, cada estado tem o seu político consagrado. São pessoas que dominam a arte de enganar e manter-se eternamente no poder. São profissionais. Nesse sentido, o Brasil conhece bastante o mais famoso político baiano, chamado carinhosamente de cabeça branca ou painho. Tanto faz. Porém, apesar da obviedade, ele não é o meu escolhido. Mas, sim, seu maior adversário: Waldir Pires, O manso. Não, minha gente, ele não é um político corrupto. Mas, infelizmente, será o meu escolhido para este dia.

- Não se preocupem. Estamos nas mãos de Deus

Na verdade, Waldir Pires é um injustiçado. Por isso, o que trago à tona não é sua figura política, mas sua atuação na crise do “apagão aéreo”. Ele está sendo uma figura importantíssima para Lula, que tem a característica reconhecida de deixar aliados no famoso banho-maria, queimando, queimando em público. Depois, livra-se das peças fulminadas e sai ileso das crises. Bárbaro o nosso presidente, não? Recentemente, disse Lula: “O problema dos controladores não pode ser debitado exclusivamente na conta do Waldir. Ele é um homem de 80 anos, com importantes serviços prestados ao País". É verdade!

Quem, além de Waldir, o manso, seria capaz de sustentar uma crise por seis meses? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de representar um ministério que não tem nenhuma função real? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de não incomodar as aves-de-rapina que comandam as Forças Armadas? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de ser submetido a duas horas de entrevista e não dar nenhuma explicação plausível sobre a crise aérea? Quem, além de Waldir, o manso, é capaz de fechar os olhinhos enquanto fala, balançar a cabeça mostrando irritação com uma pergunta mal-criada e responder que estamos nas mãos de Deus?

Reconheçamos que nenhum político neste país seria capaz de segurar esta crise de maneira tão magistral. Imaginem a situação culinária: existe uma grande batata quente na sua mão. Você sabe que ela é quente e não vai esfriar a curto prazo. Todo mundo vê que sua mão queima. Não só vê, como sente a batata queimando também na sua pele. Mas você, como autoridade, sabe que, se disser que a batata está quente, vai criar pânico nos outros e, mesmo assim, ela continuará quente. Não há nada a fazer de imediato. Porém, o que você diz? Fala que não está acontecendo nada, que a batata está normal e que foi só uma mudança climática passageira.

- Eu sempre digo: Waldir Moleza!

Apesar de sua história política irretocável, Waldir até hoje sofre por um erro estratégico cometido aqui na Bahia. Eleito governador do estado em 87, derrotando o grupo do arqui-inimigo ACM, dois anos depois ele renuncia e decide particiar da chapa de Ulisses Guimarães para a presidência da República. Seu gesto foi compreendido como um péssimo cálculo político e falta de competência. Com isso, abriu espaço para que os carlistas retornassem ao governo do estado e permanecessem por 16 anos (!), até serem derrotados na eleição de 2006 por Jacques Wagner, o galeginho dos zóio-azul. Vejam o post de 04 de outubro.

Lula não irá dispensar os serviços de Waldir tão cedo. A indignação das pessoas está focalizada nele, o que é natural. O presidente vai esperar a batata esfriar para depois retirá-lo do cargo com dignidade. Mas, a mancha na carreira política não será esquecida tão cedo. É triste ter que admitir que políticos considerados honestos são colocados no mesmo balaio que a maioria despreparada e interesseira. Porém, tudo isso acontece porque cargos do governo são loteados entre os partidos e amigos políticos e costuma-se colocar como gestores pessoas que até então não tinham nenhuma intimidade com o assunto. Além de Waldir e tantos outros, cito o exemplo de Marta Suplicy, a ministra do Turismo. O que ela tem a ver com o turismo? Só o Lula e o PT sabem. Talvez, eles acreditem que ela é capaz de combater o turismo sexual, outra praga nacional. Afinal, ela é sexóloga, não é verdade?

PS: Ah, e não esqueçam. Segunda-feira, tem mais um capítulo da tragicomédia "Olívia no país das maravilhas", uma carioca fã de Caymmi que decide morar em Maracangalha, na Bahia, para encontrar seu eu. Ela não é Dante da Divina Comédia mas, para conseguir o que quer, precisa passar pelas agruras de um inferno tropical.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Romariomania II

Ou: O outono de Romário

Definitivamente, o baixinho precisa de um banho de folhas. Urgente, minha gente! Ele não consegue marcar o tal do seu "milésimo" gol. Aliás, nenhum gol, coitado. Como dizem os evangélicos: - ele está amarrado! Já comentei aqui, no dia 27 de março, a respeito da grande expectativa da imprensa nacional, particularmente da Rede Globo, em torno desse gol. Será que jogaram mal olhado no baixinho?

- Ai, tenho que tomar um passe!

Ou seja: mais contrangedor do que assistir a outro jogo (um "jogaço", segundo Galvão Bueno e afins)em que Romário, 41 anos, não fez nada (quarta tentativa do milésimo no Maracanã) e ficou, como sempre, somente à espera de um passe milagroso, foi ver um bando de jornalistas carniceiros para lá e para cá dentro do campo, todos querendo filmar, fotografar ou entrevistar o baixinho. Foram cerca de 20 minutos antes do juiz iniciar a cobrança dos pênaltis. Ficou feio porque, minha gente, não existiu, naquele momento, nenhum fato relevante. O atacante, agora, terá de aguardar pelo menos um mês, ou um amistoso marcado pelo Vasco, para alcançar a sua marca histórica. Já que ele só quer fazê-lo no Maracanã. Enfim...

E nessa brincadeira toda, que já dura dois meses, o Vasco é que vai descendo a ladeira. A demora para o milésimo sair abriu uma crise no time. Jogadores e o próprio técnico Renato Gaucho não escondem de ninguém que o fato está atrapalhando o time. Para não criar caso, a diretoria impôs uma tal "lei do silêncio". Ninguém fala nada. Pois bem... ontem, depois de uma partida onde foram marcados oito gols, quatro de cada lado, o time de São Januário perdeu para o Botafogo por 4 a 1 na decisão por pênaltis. Foi eliminado da final do campeonato carioca. No início do mês, o time foi também caiu fora da Copa do Brasil. Tristeza não tem fim...

- E, esse gol, quando é que sai?

A VolksWagen agradeçe. A empresa nunca deve ter visto tanta mídia espontânea (brincadeirinhas de duplo sentido, claro) com seu produto-chefe de vendas: o Gol. Danielicius torce para essa agonia de Romário acabe logo. Para que a nossa também termine. E pensar que Pelé fez o milésimo antes dos 30...

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Olívia no País das maravilhas - Parte II

Ou: Olívia quer chorar, mas não consegue.

“Como assim não tem lugar?”, gritou Olívia indignada.
A atendente repetiu a frase pausadamente: “Senhora, não temos mais lugar no vôo deste horário para Salvador. O avião está lotado.”
“Mais eu comprei a passagem, ô garota”. Olívia pega o comprovante do número do vôo que imprimiu em casa e mostra para a atendente. “Filhinha, tá aqui. Você não sabe ler, não? Você acha que eu acordei neste horário miserável para não embarcar, hein? Eu comprei a passagem, logo, devo embarcar. Devo, não: eu vou embarcar! Tenho compromissos inadiáveis na Bahia, entendeu, i-na-di-á-veis!”
“Senhora, o vôo foi muito procurado pelas pessoas. Por isso, efetuamos o check-in para aquelas que se apresentaram primeiramente ao balcão”, disse mecanicamente a atendente.
“Mas que porra é essa! Você está me achando com cara de palhaça, garota?”, perdeu a paciência Olívia. Outros passageiros que estavam também com vôo para Salvador começaram a se indignar e a confusão começou.
“Senhores, infelizmente não posso fazer nada.”

- Onde está Olívia?

“Isso é uma vergonha”, disse uma senhora, aparentando uns 40 anos, toda maquiada (parecia que queria esconder a idade. Parecei, não: queria!) e com porte de grã-fina do Leblon (mas, como todos ali, comprou passagem de 50 reais). Ela carregava no sotaque carioca e abusava dos trejeitos de quem toma muita pinga. Estava meio alta. Ao estilo “rodar a baiana” ela, enquanto falava, sacudia o braço direito, apontando o dedo indicador para cima. O braço esquerdo estava na cintura, formando um bule. “Mas que bagunça é essa. Estou aqui nessa porqueira de fila há quarenta minutos e só agora vem dizer que o avião está cheio. Vocês acham que eu tenho cara de idiota, é? Eu vou chamar meu filho advogado!”. Pega o celular na bolsa.
Um homem começou a bater com a palma da mão no balcão. “Falta de respeito! Isso é uma falta de respeito”, gritou.
Os atendentes viraram estátua.
“Eu tenho uma reunião amanhã em Salvador”, continuou o homem. Estava exaltado, com absoluta certeza. Acreditem. “Quem vai pagar a diária que eu vou perder no hotel onde fiz a reserva, hein?”
“Vergonha, vergonha. Bando de vagabundos”, gritou alguém que eu não identifiquei, tamanha bagunça. Minutos antes, chegou um grupo com cerca de 30 adolescentes da CVC. Iriam para Porto Seguro. A cada palavra exaltada, eles interferiam com gritos, palmas, “uhus”, “aeeeeessss”, etc.
Estátua.

Ao ver sua mulher na confusão, Zeca correu para o balcão da companhia para ver o que estava acontecendo. “Isto aqui é o fim do mundo. Eu vou chamar o PROCON!”, praguejava Olívia, quando Zeca chegou e a puxou pelo braço. Tirou do bolo de gente.
“O que foi, Olívia?”, perguntou Zeca. “Por que tanta gritaria?”
“Esses filhos de uma puta sem dono não querem me deixar entrar no avião, Zeca!”, disse, abraçando-o. “Venderam mais passagens do que o número de assentos do avião. Quem chegou primeiro, embarcou. Um absurdo!” Olívia queria chorar, mas não consegue.

“E agora, o que eu vou fazer, Zeca?”, perguntou, ainda abraçando-o, desamparada.
“Vamos voltar pra casa”, disse, alisando o cabelo da mulher, torcendo para que ela desistisse de ir para a Bahia. Torcendo para que a confusão aumentasse e a impedisse de deixá-lo.
Olívia tirou a cabeça do ombro de Zeca, afastou um pouco o marido, olhou nos seus olhos e disse: “Jamais!”

De repente, um homem da companhia apareceu, ladeado por seguranças. “Senhores, senhores. Por favor, acalmem-se!”
“Acalmar é o caralho! Eu quero viajar”, gritou alguém. Os adolescentes vibraram.
“Por favor. Vamos providenciar outro vôo para acomodar os senhores. Pedimos a compreensão de todos para fazer uma fila e efetuar um novo check-in”, explicou o homem.
“E para quando é o vôo?”, perguntou a senhora maquiada do Leblon.
“O mais rápido possível”, disse o homem.
“Quando, filhinho?”, perguntou novamente com as mãos na cintura.
“O mais rápido possível, senhora. Agora, por favor: vamos fazer uma fila”, pronunciou o homem.
Pronto, foi o suficiente para uma nova confusão. Enquanto uns queriam resolver seu problema e suplicavam já impacientes “gente, vamos organizar uma fila!”, outros queriam reclamar os seus direitos. Gritavam: “Isso é um absurdo!”. Outro detalhe: quem chegou primeiro? quem ficaria na frente de quem? A confusão levou mais de uma hora. Por isso, Olívia pediu para Zeca ir para casa descansar. Ele não queria. Ela o convenceu, argumentando que tinha que trabalhar às 8 horas e já eram quase cinco da madrugada. Ele foi. “Qualquer coisa, me ligue, viu, querida?”, disse, despedindo-se.

Olívia efetuou o check-in, assim como os outros passageiros. Estava esgotada. Comprou um lanche e foi sentar-se. Os adolescentes da CVC, derrotados de tanta energia gasta, deitaram-se no chão mesmo, uns sobre os outros. Ao lado de Olívia, sentou-se a senhora maquiada do Leblon.
“Ai, minha filha, não tenho mais idade para isso, não”, comentou.
Olívia balançou a cabeça positivamente e continuou comendo.
“Dá saudade o tempo em que eu viajava pela Varig. Não existiam esses horários malucos, não é verdade? Mas, como tudo que é bom acaba neste país por nossa própria incompetência, não é mesmo?, fazer o quê, né? Nunca seremos primeiro mundo”, desabafava. “Ah, e por falar nisso, me chamo Marina”, disse, estendendo a mão para Olívia.

Marina pintada. “Caymmi novamente em sua vida”, pensou Olívia enquanto retribuía o aperto de mão da outra. “Muito prazer, meu nome é Olívia”.
“Você vai passear em Salvador?”, perguntou Marina. “Dizem que os dias estão bonitos. Um calor...”
“Não, vou para Maracangalha”, disse. Mas, pelo olhar espantado da outra, Olívia achou melhor continuar falando. Sempre achou que os desconhecidos são ótimos para compreender nossos problemas. “Não sei o porquê, mas acho que tenho que fazer algo por lá, uma espécie de missão. Como sou fã de Caymmi - sempre fui -, em um sonho recebi esse recado. Sabe, aquele tipo de coisa que você tem que resolver senão não tem sossego?”
“Sei bem, minha filha. Eu bem sei...”, disse Marina. “Eu mesma, por exemplo. Estou voltando para Salvador para encontrar meu grande amor e resolver uma pendência que já dura vinte anos. Triste de quem ama e não perdoa, minha filha. O tempo me ensinou isso do pior jeito. Essa é a verdade. Vou lá, pedir para que ele volte aos meus braços”
“Nossa, vinte anos...”, espantou-se Olívia. “Eu estou casada há três”.

- Zzzzzzzzzzzzzzzz!!!!

“Sei que vão zombar de mim, sei que vão falar de mim: ‘uma mulher correndo atrás de um homem?’. Mas não me importo... Vem cá: não estou incomodando com minha ladainha, estou?”
“Não, acho que teremos muito tempo aqui”, brincou Olívia.
“Tive um filho com um baiano, minha filha. Aliás, cá pra nós, parece que todo mundo dá pra baiano e tem um filho. Até a Cássia Eller, que Deus a tenha. Ai, ai...”, suspirou. Olívia deu risada. “Me pegou de jeito, o nego. Depois, me disse que queria aproveitar a vida, que não queria se prender... aquelas coisas de homem cafajeste. Veio com a conversinha de que eu era a federal, que não me largava por nenhuma. Mas o vagabundo não podia ver um rabo de saia. Não agüentei e falei: ‘Saia, desapareça da minha vida!’. Ele até que tentou voltar, chorou, jurou. Mas, quando a gente é jovem, o orgulho se impõe e as palavras, muitas vezes, não provêm do coração, não é verdade?”, perguntou Marina.
“Hum rum”, concordou Olívia.
“Quando foi esse ano me ligou, dizendo que não me esqueceu. Nunca. Bem... já se passaram vinte anos sem eu ver seu rosto, sem olhar seus olhos, sem beijar os seus lábios. Você não sabe como foi grande a pena que sentiu a minha alma ao recordar que ele foi meu grande amor, Olívia”, disse Marina “Recordo que nos encontramos junto a uma fonte lá na Lagoa do Abaeté, conhece?. E alegre foi aquela tarde para nós dois. Recordo quando a noite abriu seu manto e o canto daquela fonte nos envolveu. O sono fechou meus olhos, me adormecendo. Senti sua boca linda a murmurar: ‘Abraça-me, por favor, minha vida’. E o resto do romance deu no que deu*.”

“Que lindo, Marina. Somente o tempo pode revelar o lado oculto das paixões”, disse Olívia, não acreditando muito nas palavras que acabou de proferir.

SENHORES PASSAGEIROS DO VÔO 2684 COM DESTINO A SALVADOR, DIRIJAM-SE AO PORTÃO 06.

“Ai, Jesus, é o nosso vôo. Qual é o seu assento?”, perguntou Marina.
“05 F. E o seu?”, perguntou Olívia
“Ohhhhhh, vamos nos separar, minha filha. O meu é 21 C. Mas, vamos”, disse Marina. Enquanto se encaminhavam para o embarque, Marina falou. “Não podemos perder o contato. Quero saber como será você toda bonita lá em Maracangalha”, riu.
“Eu também, Marina. E eu quero saber como será esse reencontro, hein?”, sorriu Marina.

No avião, já acomodada (ela correu para não ser barrada novamente), Olívia percebeu que algo estava errado. Teve a impressão que tinha gente demais na aeronave. Mas não era impressão: realmente tinha. Não é que a companhia enfiou 30 pessoas a mais no vôo 2684? No entanto, só perceberam o vacilo na hora da decolagem. Os coitados dos comissários tiveram que rebolar em função do apuro. Um corre-corre para lá, conversa com o comandante para cá. Não podiam decolar com passageiros a mais. O que fazer? Com a confusão já instalada – afinal, algumas poltronas tinham dois, três donos e a merda já estava feita – ele receberam a instrução de convencer pelo menos duas dúzias de voluntários a abandonar o avião... nem que fosse à força (de expressão, lógico).

Iniciou-se, então, uma espécie de leilão às avessas. Para que alguém resolvesse deixar a aeronave, por livre e espontânea pressão, os comissários anunciaram que ofereceriam R$ 200,00 para quem voltasse ao aeroporto.
“Em dinheiro?”, perguntou um passageiro.
“Não, senhor. Em crédito junto à companhia”
“Nem fudendo”, disse um passageiro.
“Não quero nem saber. Eu não vou sair daqui”, disse uma mulher.

Confusão. Uma criança de colo começou a chorar. E outras duas foram contaminadas. Abriram o berreiro.Todos falavam ao mesmo tempo. Apesar disso, a voz de Marina podia ser ouvida por toda a aeronave. “Isso é um desrespeito. Bando de irresponsáveis”. Ficaram neste sai não sai por pelo menos duas horas. Alguém chamou a comissária de puta. Ela saiu chorando, coitada. Alguém passou mal. Teve que ser atendido. Por fim, a companhia, por meio do comandante, anunciou que distribuiria viagens de ida e volta para qualquer lugar do país!
“Qualquer lugar”, perguntou um.
“Qualquer lugar, senhor”, disse o comandante.
Desespero total, geral e irrestrito. Muitas piadinhas. Muitas palavras de protesto. Quem achou vantajosa a oferta disse que só sairia de lá com um documento assinado. O documento chegou. O povo saiu. Às dez horas da manhã o avião, enfim, decolava para Salvador.

Parte III: Oliva passa uma tarde em Itapuã

* Fala inspirada na música Dez Anos, de Rafael Hernandez e Lourival Faissal, interpretada por Gal Costa em Gal Tropical.

Copyright: Danielicius. Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Olívia no país das maravilhas - Parte I

Ou: Olívia segue seu coração
Ou: Apresentando Olívia

Olívia, carioca da Zona Sul, estava meio que “bolada” com a existência pequeno-burguesa que estava levando. E a merda disso tudo é que começou a ter crises de ansiedade. Assim, do nada. Não tinha grana, é verdade. Mas levava uma vida, digamos assim, na medida do possível confortável. Fez o impossível para morar naquele quarto e sala no Leme. Apesar de formada em teatro e de sua determinação em tornar-se atriz - quem sabe, da Rede Globo -, o que ela conseguiu mesmo foi um emprego como secretária em um escritório de advocacia. Teve de trocar as roupas alternativas pelas de executiva e também “amansar” o cabelo castanho de leoa, que encantou rapazes em sua adolescência. “Tá foda”, lamentava-se.

Era casada com José Carlos, o Zeca, funcionário do Banco do Brasil há três anos. E um de seus maiores prazeres era ouvir Dorival Caymmi. Depois, o chopp. A praia. A balada. A maconha. Os botecos pé-sujo. Era, como costumam dizer, carioca da gema: exuberante, extrovertida, não gostava de dias nublados, falava mal de paulista. Era dourada, direta e sexy. Mas tinha os apertos no peito. E escutava Dorival Caymmi. Quando estava só, olhava o nada. Sem pensamentos. Vazia.

Numa madrugada de agosto, Olívia acordou de repente, como se tivesse conseguido escapar de alguma tragédia. Estava salva “ai, meu Deus!”. Suava e respirava como se fosse asmática. Não era. Virou para o lado e sacudiu Zeca, tentando acordá-lo. Falou: “Zeca, Zeca!”
“Hein ???”, disse o marido ainda meio sonolento. “Que é, princesa?”
“Zeca, vou pra Maracangalha”.
Nesse momento, Zeca, o bancário, não sabia definir se estava ainda sonhando ou se Olívia queria fazer algum tipo de pegadinha. “Querida, Maracangalha não existe”, disse, tentando voltar a dormir.
“Zeca, existe sim...” Silêncio. “...e fica na Bahia.”, continuou Olívia. "Zeca... não posso mais com isso"

Na manhã seguinte, Olívia estava preparando o café quando Zeca apareceu. Introspectivo, sentou na cadeira e esperou que sua esposa colocasse a mesa. Ficou em silêncio. Olívia, também. Ela tinha feito cuzcuz, cortou mamão e colocou o pão na torradeira. Até que...

“Dourada?”, chamou-a carinhosamente Zeca. “Diga que você estava delirando ontem”. Não houve resposta. Olívia continuou coando o café de costas para o marido.
“Sei que você está passando por um período difícil, mas a gente vai superar, né? É uma loucura deixar tudo para ir atrás...” Vacilou um pouco nas palavras. Comeu um pedaço de mamão para recuperar o fôlego “...e ir em busca... assim... do nada. E no interior da Bahia, Olívia? Não dá, né?”

Olívia parou e respirou fundo. Aquilo de dar satisfações há muito já tinha enchido seu saco. Era casada, sabia disso. E também sabia que tinha que dar satisfações. Só que, apesar dos 28 anos, já estava esgotada de si, da violência do Rio, do Brasil. “Caralho! Isso tudo aqui é uma merda. Não agüento mais. Preciso de um refúgio”, desabafava para Carmem Lúcia, colega do escritório também secretária. A amiga, de Belém do Pará, procurava palavras de incentivo, tentava confortar a parceira. Mas, o que dizer para uma pessoa sem motivação? “Querida, faça o que seu coração manda!”, dizia. E Olívia fez o que seu coração mandou.

Ali, parada na cozinha, enquanto escutava seu marido falar em loucura, da busca do nada - "um saco! Conversa de bancário pragmático”-, recordou-se de como começou o namoro com ele e, por fim, se casou. “Estávamos na casa de um amigo em comum, em Copacabana, quando ele pegou um violão e começou a dedilhar músicas de Caymmi. Até então nem sabia que ele existia. Era muito pálido e tinha cara de playboizinho”, contou para Carmem Lúcia. “Logo me interessei, né? Afinal, uma pessoa que canta Caymmi, tem um quê a mais. Então perguntei para uma amiga quem era aquele tipo e ela me deu a ficha completa. Adorei o nome, né?: Zeca. Me lembrei imediatamente daquela canção de Caymmi ‘Maurinho, Dada e Zeca ô, embarcaram de manhã. Era quarta-feira santa, dia de pesca e de pescador....’” Ai, a porra do nome....

Olívia largou o café, se virou e disse: “José Carlos, já decidi: eu vou”
Entre espantado e impaciente, o marido preterido falou: “Mas, Olívia. E seu emprego, sua família, sua vida aqui no Rio?” E, por fim: “E eu?”
“Ai, José Carlos, deixa de drama. É só um tempo. Para colocar as coisas no lugar, sabe? Cansei do Rio, preciso refrescar meu espírito”
“Tá, mas bem que você poderia sugerir Angra... sei lá... Campos do Jordão. Lembra de nossa viagem ano passado? Mas Maracangalha, Olívia. Quanto tempo a senhora pretende ficar naquele fim de mundo, que eu nem sabia que existia?”
“Ainda não sei. Vem comigo?”
“Olívia...”, Zeca ficou sem palavras. “Eu não... eu não...”
“José Carlos, se você não quiser ir, eu vou só!”, decretou Olívia.
"E se fosse eu que tivesse que abandonar tudo, hein, o que você diria? Ponha-se no meu lugar, Olívia! Você sabe como eu estou me sentindo?"
Olívia começou a chorar. Zeca a abraçou. No ar, o cheiro de pão queimado.

E Olívia se foi para Maracangalha. Só. Mas foi. Não sabia exatamente onde ficava o tal lugarejo, mas foi para lá no finzinho de agosto. Conseguiu uma passagem para Salvador a 50 reais, por meio da promoção "Viaje e conheça o Brasil gastando muito pouco" da Gol. Era madrugada quando ela e Zeca chegaram ao Galeão. Estava superlotado. Às 3 da madrugada!

“Não se preocupa, Zeca, eu me viro. Sou carioca. Me viro em qualquer lugar do mundo. Até no Rio de Janeiro!”, brincou. Zeca só fez sorrir. Estava esgotado. Nunca seria capaz de convencer sua mulher a não ir embora. Era melhor deixá-la ir e ver com seus próprios olhos a besteira que estava fazendo. Sempre foi assim. Sempre deu corda para Olívia e ela se enforcava. "Maracangalha, meu Deus... o que eu vou dizer para meus amigos?”, pensava, enquanto via Olívia dirigindo-se ao balcão da empresa para fazer o check-in. “Nada. Não vou dizer nada... Aliás, vou dizer que uma tia que ela gosta muito ficou doente e ela foi ajudar. Onde mora? No interior da Bahia”, era o que ia dizer para quem perguntasse. “E o emprego? Deixou, né. Se bem que ela nunca se adaptou muito bem àquele escritório. O único engomadinho que suporta sou eu”. Pronto, a história já estava criada. E o Zeca, mais calmo.

Enquanto pensava no que iria fazer do futuro, viu uma confusão armada no balcão da companhia aérea. "Ai, meu Deus, é a Olívia!", disse José Carlos, com as mãos na cabeça, antes de correr para ver o que estava acontecendo com sua mulher.

A parte II: Olívia quer chorar, mas não consegue