quarta-feira, 29 de junho de 2005

Heloísa returns

Sempre achei que rinha de galo, o hobby do publicitário Duda Mendonça, fosse considerada contravenção. Na verdade ela é tipificada como crime ambiental e ao praticante é prevista pena de detenção de três meses a um ano, além de multa. Vendo a cena de ontem da combativa senadora Heloísa Helena "discutindo" com o deputado Maurício Rands (PT-PE) na abertura da CPI dos Correios para ouvir os autores da gravação na estatal, me veio imediatamente a associação. Teoricamente, o Congresso e, por tabela, as casas legistativas, deveria ser o local ideal para debates de interesse da sociedade. Entretanto, em função da qualidade rasteira e o nível baixíssimo não só ntelectual como moral de nossos políticos (digo do Brasil), eu tenho a impressão que estamos nos fundos de algum quintal, no meio da lama, vendo animais irracionais se degladiando. Lamentável. Agora, se os deputados se comportam como galináceos, quem deve ir para a cadeia: Duda Mendonça?
- SEU FILHO DE UMA ÉGUA PERDIDA. Vou acabar com sua raça. Me laaaaaarga, que aqui não tem homem macho pra me bater!

segunda-feira, 27 de junho de 2005

Anarriê

Um baiano, um coco
Dois baianos, dois coco
Três baianos, uma cocada
Quatro baianos, uma baianada*


Enfim... o feriadão de Sãojão terminou. Foram quatro dias de (muita) chuva e frio (temperatura entre 20 e 22 graus, um absurdo de bater os dentes!) na capital da Bahia, que ficou às moscas. Praticamente todo mundo se mudou para o interior do estado com a intenção de morrer de frio por lá mesmo, o que foi ótimo. A galera, além de enfrentar engarrafamentos na quinta-feira, com destaque para a BR 324, teve que se desviar não só de fogueiras, mas da buraqueira que se transformou as estradas federais e estaduais que cortam o estado. Os mais corajosos atravessaram de ferry (todos com problemas) a Baía de Todos os Santos em direção a Ilha de Itaparica. Mas tudo vale a pena por um rala coxa ou um mela cueca, não é verdade?

Bem... Quem ficou em EsseEsseÁ teve que fazer programa de crioulo doido deprimido: ir para o Pelourinho. For example: eu. Mas não fui só. Armei uma galera afinadíssima com a época: administrador, ator, jornalista, químico, economista, garçom e professora de geografia. Apesar de protestos, os convenci, simplesmente porque acho indigno um nordestino não comemorar São João, basicamente "pra mó di se casar". Meu principal argumento: povo, espécime que adoramos. Não por muito tempo, é claro. Realizado há seis anos, o projeto "São João é no Pelô" transforma o Centro Histórico de EsseEsseÁ em uma cidade de interior, com vários eventos gratuitos nas ruas e praças do local.

Resumindo a história: Quando chegamos, ainda com chuva fina e ao som de fogos de artifício, ouvimos um grupo tocando samba de roda e arrastando um bando de gente atrás. Não sei se tem alguma coisa a ver, mas tudo é possível em EsseEsseÁ, mais especificamente no Pelourinho. Muito esfrega-esfrega, risos, deboche, furto... ou seja: o básico, coisas da terra. E a chuva miúda caindo, o que gerou uma das cenas mais cômicas que eu já vi na vida: um grupo de garotas com bota à la América e saia "abajur de xereca" dançando com saco de supermercado na cabeça para não molhar o cabelo. Tudo.

Ao contrário dos freqüentadores de pagode, que parecem ser o mesmo homem e a mesma mulher multiplicados, no São João do Pelô a impressão que eu tive foi que as mulheres (derrubadas) de Barretos estavam fazendo escala por ali. Os homens, sem comentários: a maioria usando pólo ou camisa quadriculada por dentro de calção de surfista e tênis “ dimarca”. Tinha gente bonita? Sempre tem. Mas que dava trabalho encontrar, isso dava.

Sem estímulos, o grupo começou a ficar meio disperso, olhando muito para os lados como se estivesse com medo de ser flagrado em falta. Depois de uma hora (um tempo épico!) no Pelourinho, resolvemos invadir a casa de alguém e tomar licor e beber, beber e beber para no outro dia, ainda em ressaca, bater com a cara na porta fechada de cinema, restaurante e qualquer outra coisa interessante que, a priori, faz com que uma cidade seja chamada de metrópole. Definitivamente, EsseEsseÁ não é digna desse nome. Quase ninguém na rua. Morremos numa pizzaria à rodízio em pleno feriado de São João. E aí, você curtiu o Sãojão?

* Nadavê com a interpretação paulista de baianada.

terça-feira, 21 de junho de 2005

Hummmm... sei lá, entende?

Sob um intenso ronco de motores, o Papa Chico Bento XVI, abençoou no último domingo, no Vaticano, cerca de 20 veículos da marca italiana Ferrari. Os veículos foram estacionados no meio da Praça São Pedro para receber a proteção do pontíficie durante a reza do Ângelus. "Os vemos e os sentimos", disse o Papa ao final da reza. Aí, você pensa: que estranho ver um papa abençoar um carro! Ainda mais uma Ferrari, um brinquedinho que eu nunca vi nem senti, e que não sai por menos de R$ 300 mil. Não seria mais simpático, já que de religioso não vejo nada, dar sua proteção, que por tabela é a de Deus, a um Fusca (carro da terra dele), ou um Chevet Hatch, ou um Uno Mille? Quem acha o rock´n roll coisa do capeta pode gostar de Ferrari? Ai, meu Deus, está cada dia mais difícil compreender Seu mundo. Será que Cristo também abençou alguma carroça?

Forte esquema de segurança para os carros dos mano, que pagaram de gatinho. Eles (os carros) também querem ir para o paraíso, tá ligado?


Imagem é tudo!
Se me perguntarem se existe alguma coisa que me deixe assutado atualmente, além das declarações e ações de Chico Bento XVI, respondo, sem nenhuma dúvida, que são as capas das revistas semanais brasileiras. A criatividade delas me mete medo. O vermelho já é lugar comum, assim como a estrela do PT caindo ou se quebrando. A Veja, por exemplo, colocou uma estátua de Lula se despedaçando. Um primor de imagem.

Imagine quando o Apocalipse chegar!

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sexta-feira, 17 de junho de 2005

Vá trabalhar, vagabundo!!!!

Ou: Qual a sua relação com seu chefe? Você tem chefe, né?

Definitivamente, as relações no trabalho são algo que provocam discussões bastante calorosas. Não tem jeito, se você não é empresário, ou, para usar um termo mais atual, empreendedor, tem que engolir sapos, sim, se quiser manter seu rico (há!) dinheirinho no final do mês. Vou abrir um parênteses. Aqui entre nós, eu, particularmente, acho que se aventurar em algum negócio no Brasil como empreendedor é mais uma conseqüência da falta de alternativas no mercado de trabalho do que, digamos, talento de nosso povo. Sabe, dizer aquela frase mágica “Odeio receber ordens, vou abrir minha própria empresa. Fodam-se todos. Fui!!!” é, para dizer o mínimo, um risco. Afinal, é bom saber que ao iniciar um negócio, você se torna uma franquia do governo. Mais da metade do que você ganhar vai parar nos cofres públicos. Estimulante, né? Fecha parênteses.

Então, vamos combinar que você é empregado, tá? Um assalariado, ô inferno! Afinal, você estudou pra caralho (sua bunda dói até hoje de tantas horas perdidas na madrugada), fez faculdade, não quer e nem tem talento para abrir firma nenhuma, e está naquele emprego que você se agarrou para pagar suas contas e comprar “uns pano”. Combinado? Então, temos uma coisa em comum: chefe.

Recentemente, a Justiça julgou casos que estão dando pano pra manga. Chefe pode mexer no seu e-mail e pode, olha que engraçado, falar alto contigo. Mas, bisbilhotar o e-mail não é invasão de privacidade? Mas, gritar é mesmo a melhor maneira de aumentar a produtividade do subordinado? A Justiça entende que não.

Caso 1
Juízes do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo, ao julgar o caso de um ex-funcionário da Livraria Siciliano no início deste mês, - que além de entrar com um processo por verbas devidas pela empresa, solicitou indenização por danos morais, baseado em tratamento considerado rigoroso e ofensivo por parte de seu superior –, entenderam que não se caractariza dano moral se o superior hierárquico é enérgico em suas cobranças, desde que não ofenda os seus subordinados.

Caso 2
Um funcionário do HSBC foi demitido por justa causa após a instituição descobrir que ele utilizava o correio eletrônico do trabalho para enviar aos colegas fotos de mulheres nuas. Um tarado, praticamente! O empregado entrou com uma ação na Justiça e os juízes do Tribunal Superior do Trabalho disseram no mês passado que ele estava errado, e que o chefe tem o direito, sim, de violar o sigilo de correspondência de caixa eletrônica que ela tiver colocado à disposição do funcionário. Foi o primeiro julgamento do tema no Brasil. Em tese, o ex-funcionário ainda pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal), alegando que a empresa violou o direito ao sigilo de correspondência.

Com relação ao grito, e eu que trabalhei em algumas empresas de comunicação entendo muito bem isso, é uma “ação” extremamente comum, chega a ser um mantra. Sabe a relação Clark Kent e Perry White, chefe do jornal Planeta Diário? Pois é. Mas tudo tem seus limites, principalmente nas relações no trabalho. Como é comum ver ou saber de histórias de gente que passa dos limites, confundindo autoridade com autoritarismo, agüente rompantes de gente desequilibrada até onde puder. Agora, ser exposto a situações humilhante e constrangedoras em público... aí, não! Isso já é assédio moral. Veja aqui alguns dos tipos mais comuns de chefes sem mãe. Quanto ao e-mail, isso é bem fácil: se a empresa lhe dá um e-mail para você trabalhar, porque você vai mandar mensagens pessoais por ele? Vacilo puro. Concordam? Não?

Por acaso, você não está lendo isso aqui do trabalho, não é? Huuummm... Abafe o caso!!!

Bonus track
O chocolate quente custa cinquenta centavos aqui perto. Então, eu coloquei uma moeda de um real na máquina e ela me devolveu cinco moedas de dez centavos. PLENC! PLENC! PLENC! Não parava de cair moeda. Me senti num cassino em Las Vegas. Quase gritei "Uau, ganhei!!!!!". Ganhei algo além dos quinhentos milhões de calorias.
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segunda-feira, 13 de junho de 2005

Inocente


Finalmente, depois de sete dias, os 12 jurados, quatro homens e oito mulheres, do caso em que o astro Michael Jackson foi acusado de abusar sexualmente de um menor de 13 anos acabaram de decidir que o cantor é inocente. Na porta do tribunal de Santa Maria (Califórnia), centenas de fãs e mais de mil jornalistas aguardaram o resultado durante dias. Eu, particularmente, juro para vocês que teve momentos em que eu achei que o cantor seria preso. Não sei se estaria preparado para isso: vi avião derrubando prédio ao vivo, policiais em greve pagando de bandido - além de militares fazendo segurança em EsseEsseÁ, duas vitórias do Brasil em Copa do Mundo, um papa morto, etc, cada mês uma novidade desagradável, agora ver um mega astro ser preso... ah, tenha dó. É história demais para eu contar pros meus netos.
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Censura no cinema baiano

É o que dizem os cineastas baianos. Eles estão fazendo, desde às 9h de hoje, um protesto em frente à Diretoria de Artes Visuais e Multimeios (Dimas), órgão ligado à Fundação Cultural do Estado da Bahia responsável pela política regional de audiovisual. A causa da mobilização: a Dimas retirou de última hora da I Mostra de Vídeo – Jovens Realizadores Baianos, realizada nos dias 3, 4 e 5 de junho, em EsseEsseÁ, o vídeo “O Fim do Homem Cordial”, de Daniel Lisboa. Aqui está a programação.

O vídeo, de dois minutos e 25 segundos, se apropria de imagens do telejornal Bahia Meio-Dia, da TV Bahia, (emissora ligada a Antônio Carlos Magalhães) e de seu apresentador, Casemiro Neto, um dos mais populares da casa, e insere cenas ficcionais de um grupo terrorista, o Sub V27, que seqüestra um político influente, chamado no filme de “Cabeça Branca” e “Painho”.

O político apanha e é xingado, com cenas inspiradas nos grupos extremistas árabes, que praticam a chantagem através de seqüestros e imagens veiculadas em TVs do mundo inteiro. Mesmo com alusão explícita ao senador baiano Antônio Carlos Magalhães, o filme não cita seu nome. Frases como “A Bahia está órfã” e “Acabou essa onda de coronelismo na Bahia”, também são citadas na fita. O vídeo termina com o apresentador Casemiro Neto estarrecido, impotente e indignado. O ator principal é Ângelo Flávio, meu amigo. Ângelo já tem em seu currículo o prêmio Braskem de teatro de melhor ator, atualmente o mais importante da categoria no estado. O senador é interpretado por Fernando Neves. Quem quiser assistir ao “vídeo proibido da Bahia” clique aqui.

- Mas que coisa mais feia. Estou chocado!

Os cineastas mobilizados estão alegando a censura porque o vídeo foi premiado na edição 2004 do Festival Imagem em 5 Minutos, realizado pelo próprio Governo da Bahia e de caráter nacional. O jornal A Tarde publicou matéria hoje na capa de seu segundo caderno a respeito da polêmica. A Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV) quer que a Dimas se retrate e exiba o filme no mesmo local onde foi proibido. De acordo com a matéria, o diretor da Fundação Cultural, Armindo Bião, disse que não atenderia à solicitação de exibir o filme na sala, alegando que a decisão já havia sido tomada e o assunto deveria ser esquecido.

Existem boatos de que o filme, entre outras coisas, foi o responsável pela a saída do antigo diretor da Dimas, Sérgio Borges. Sérgio manteve a decisão do júri em premiar o vídeo de Daniel no ano passado. Além disso, o ex-diretor da Dimas disse que se afastou não por causa do filme, mas por vontade própria.

O diretor do vídeo Daniel Lisboa disse ao jornal A Tarde não tem medo dessas coisas: “Acho que Salvador vive um marasmo grande, com uma arte comprada, que se mantém passiva por conta do dinheiro que recebe para se produzir. Queria bagunça no meio dessa calmaria”. Sobre Sérgio, ele disse: “Ele evitou uma grande mancha na história do audiovisual baiano ao manter a decisão do júri. Sérgio Borges foi um cara que ficou do lado da arte e não da politicagem, e isso deve ficar marcado para sempre”.

A Dimas, obviamente, nega a censura. Seu atual diretor, Jamison Pedra, classifica a ação como um simples processo de triagem. Disse ainda que além de considerar o vídeo agressivo, ele não contribui artisticamente para o cinema baiano: “O filme atinge uma pessoa, o senador Antonio Carlos Magalhães, de forma agressiva e violenta. Não acrescenta nada aos jovens, pelo contrário, incita a violência, a agressão e atinge a moral, o que não deve acontecer em relação a qualquer personagem”, falou ao jornal.

Casemiro – A grande questão, pelo menos para mim que vi o vídeo, é saber como as imagens de Casemiro foram gravadas ou obtidas. O diretor de jornalismo da TV Bahia, Carlos Libório, disse que o apresentador não esboçou nenhum tipo de reação (!?), apesar de não ter surgido nenhum pedido de uso das imagens. “Não cogitamos nenhuma atitude judicial contra o filme”, revelou.

Bem... O Fim do Homem Cordial está sendo apresentado nacionalmente por meio do circuito brasileiro de festivais. Agora, ele está sendo conhecido no meio cinematográfico do país como “o vídeo proibido da Bahia”, como aconteceu durante o 15º Cine Ceará, que terminou quinta-feira.

De acordo com Daniel Lisboa, O Fim do Homem Cordial refere-se à tese do historiador Sérgio Buarque de Holanda de que o brasileiro é um homem cordial. “Queria, justamente, discutir a passividade da gente, de aceitar tacitamente mensagens, subtextos, intenções”, disse. “O que fiz foi - graças à tecnologia - me apropriar das imagens do telejornal, modificá-las e jogá-las de volta com outro significado. Por tudo isso, meu vídeo é, também, um ato de terrorismo. Mas, se se pegar cada pedacinho dele, vê-se que está cheio de sentido. O mal é que as pessoas só pegam a coisa de ACM, não se detêm nos detalhes”, disse Daniel ao jornal A Tarde.
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sexta-feira, 10 de junho de 2005

Reflexão # 12

De que é feito o amor quando tudo é descartável? Nos distanciamos de tudo o que é simples, em nome de tudo o que é ilusório e irrelevante. Somos rápidos. Somos bonitos. Somos eficientes. Somos high-tech. Somos hype. Somos cult. Somos modernos. E somos mais sozinhos e ansiosos do que nunca.” De Kika Salvi.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Ohhhhhhh! Ahhhhhhh! Arrasô!

Ou: Coisa nossa, muito nossa...
Ou: Farofa no paraíso.

Servidos com champagne Veuve Clicquot (a garrafa mais barata, de 375 ml, custa R$ 190, em média), canapés de salmão, lichias recheadas, morangos com chantili, minissanduíches e torradas com fois grais, a elite brasileira esteve reunida no último sábado para prestigiar a megainauguração da Villa Daslu, uma espécie de shopping center de artigos de luxo localizada em EssePê. A grande imprensa, claro, deu mais destaque ao evento do que, por exemplo, à aceleração do desmatamento na Amazônia, o maior das últimas décadas. Mas não vamos nos ater a pequenos detalhes, não é mesmo?

Villa Daslu em prédio de estilo neoclássico e Eliana: - Não tenho culpa de ser rica. Corte os pulsos, meu bem!

Nossa elite foi conferir de perto a mudança não só de endereço, mas de tamanho, da boutique comandada pela empresária Eliana Tranchesi, que deixou a Vila Nova Conceição, onde esteve instalada nos últimos 47 anos, para a Vila Olímpia, às margens do nada agradável e poluído rio Pinheiros. Agora a Daslu é um prédio de quatro andares em estilo neoclássico.

Uma orquestra afinadíssima recebeu os convidados na entrada do imponente edifício de 17 mil metros quadrados. Foi um deslumbre total. Os incluídos ficaram em êxtase com a criação de um local tão exclusivo e cheio de roupas e objetos sofisticados e internacionais. Muito luxo e glamour e, o top dos tops, sem a presença de gente pobre (classe média sem noção incluída) do lado pra atrapalhar a visão do paraíso. Foi uma infinidade de "Ahs", “Ohs” e "Uhs" seguidos de beijos e abraços apertados. Dá pra imaginar, não? Afinal, todos os ricos são íntimos e se conhecem.

Manequins da Daslu. "Como eu sou fodona", diz a primeira. "Meu nego, isso é pra ontem", grita a outra

Aliás, tamanho evento não poderia passar em nuvens eurodescendentes. O empreendimento reúne as marcas mais chiques do planeta! É possível experimentar Chanel (seu maior endereço na América Latina), Louis Vuitton (sua única global store latino-americana), Prada, Burberry, Tod’s, Gap, Banana Republic, sapatos de Manolo Blahnik e jóias Chopard, Dolce & Gabbana, Gucci, Valentino, Salvatore Ferragamo, Jimmy Choo, Fendi, Christian Dior, Chloé, Giorgio Armani, Ermenegildo Zegna, Hugo Boss, Blumarine e Sergio Rossi. Ao todo são 120 marcas e variados serviços. Coisa de gente très chic.

De acordo com o Alcino Leite Neto, um site calculou que a soma da renda mensal de todas as famílias da favela Coliseu (!?), localizada não muito longe da nova Daslu, que é de R$ 10.725, segundo o IBGE, daria para comprar apenas duas calças Dolce & Gabbana na loja. Só para não esquecer desse pequeno transtorno, segundo dados do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Brasil fica atrás apenas de países africanos, como Namíbia, Lesoto e Serra Leoa, em relação à concentração de renda. Enquanto os 10% mais ricos no país ficam com 46,7% da renda, os 10% mais pobres se sustentam com apenas 0,5%. Não era nem para eu colocar isso, mas, vá lá!, pelo menos 57 milhões de brasileiros vivem com menos de meio salário mínimo. Enfim...

Muito flash e glamour: "Oh", "Ah", "Poderosa", "Arrasô", "Tudo", dizem os seletos convidados

E, como este país não é sério e não deixa nem os ricos se divertirem em paz, dois dias antes da inauguração da Villa, um caminhão com peças da marca inglesa Burberry foi interceptado por uma quadrilha quando ia do aeroporto para a loja. A carga estava avaliada em mais de R$ 1 milhão. Todo mundo já estava achando que dali para a inauguração o capeta iria comer farofa, assoviar e sambar ao mesmo tempo. Mas, para alívio de todos, a mercadoria foi recuperada: a quadrilha foi presa e os integrantes disseram que não venderam porque não conseguiram compradores para as caríssimas peças, exclusivas e de venda apenas na loja Daslu no Brasil. De acordo com a polícia, a quadrilha tinha em vista, na verdade, um carregamento de tênis, mas se enganou e roubou o caminhão errado. Como Deus é bom...

Foram 11 meses de trabalho duro. Eliana confessou à revista Veja que engordou 16 quilos desde o início da construção da nova loja, em maio do ano passado. Que crueldade. Calcula-se que o edifício tenha custado R$ 70 milhões e a decoração do prédio mais R$ 50 milhões. Espero que o Fisco esteja de olho nisso, heim? Os empresários estão esperando um aumento de 30% de visitas diárias. O tempo médio de permanência na loja deve subir para cerca de seis horas. Afinal, lá também a nossa elite encontra decoração, cultura, imóveis, automóveis e itens que transmitem os valores de quem faz parte do clube privado da marca Daslu e pode bancar tantas regalias. Hoje, o segmento de luxo movimenta cerca de US$ 2,2 bilhões anuais no Brasil, 75% desse valor em EssePê.

Peça da Gucci: Troca em até 30 dias depois da compra, tá?.

As regalias incluem esteiras que levam as sacolas de compras até o carro, serviço de alfaiataria com acabamento italiano, 72 caixas, 22 elevadores, doze escadas rolantes e quatro carrinhos de golfe. Se entre uma comprinha e outra bater aquela vontade de adquirir uma luxuosa mansão na Califórnia, está lá: corner da imobiliária Coelho da Fonseca comercializa imóveis de luxo no Brasil e no exterior. E se resolver esquiar, uma agência de turismo Ski Brasil, especializada em destinos com neve. No terraço, tem um espaço para festas (80 000 reais o evento) e desfiles e um heliponto com sala de espera para clientes apressadinhos.

Agora, para os absurdinhos de São Paulo uma informação: só entra quem tem o cartãozinho vip, heim? Nada de ir lá pagar uma de cliente à passeio. Mas não minto que estou ansioso para ver fotinhas em flogs e blogs, como já estou cansado de acompanhar no Shopping Iguatemi e na Oscar.

Enfim... Ao visitar a loja mais luxuosa do Brasil como convidada, uma jornalista do site AOL disse: “Ao terminar o passeio (comandado por uma dasluzete), eu não sabia se havia feito um tour ou um rali, tamanho o cansaço. Conclusão? As imagens que ficaram na minha cabeça após caminhar pelos quatro andares do prédio foram as de plantas de plástico, pilastras de mármore, sorrisos ansiosos e gritos”. Pobre é fogo, não?

Convidados especiais, ACM e "cachorro": "- Au, procês. Sai daqui cambada!", late

Mas, como tudo tem que acontecer no Brasil, no dia seguinte ao da inauguração, saiu a notícia mórbida de que os garçons que trabalharam no evento de inauguração da nova loja procuraram um ambulatório de um hospital com sintomas de intoxicação alimentar. No total, 15 pessoas apresentaram mal-estar. Três delas precisaram tomar soro. Há suspeitas de que o almoço servido a eles - arroz, feijão, carne e farofa - tenha sido a fonte da intoxicação. Como diria Ary Barroso: “Coisa nossa... muito nossa”.
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segunda-feira, 6 de junho de 2005

Uma estrela decaída

Ou: Complô que nada. É incompetência mesmo!

Não dá mais pra se fingir de peixe morto. Vou te contar, viu?, mas o festival de trapalhadas, que parece interminável no governo do PT, impressiona. Os integrantes do governo agem como um bando de desorientados, um querendo tapar o buraco do outro e, por tabela, acaba cavando um mais fundo. Recordo-me que já vivi isso lá no meu tempo de secundário e também na faculdade e sei como é. Sem liderança, cada um toma para si a inglória tarefa de colocar a casa em ordem, e aí já viu, né? vira uma bagunça, cada um querendo gritar mais alto. Acho que todos nós já passamos por isso, em maior ou menor grau, basta o nível de comprometimento.

Pois é, profissionalmente, já que são pagos pelos nossos impostos (que são incontáveis), os integrantes do governo estão agindo da mesma maneira. Resultado: está sendo um desastre. Pelo menos, estou vendo desta maneira. Se o PT queria uma crise, ela está aí. E não venham me dizer que é um complô contra o PT. Qualquer crítica que se faça a esse governo é vista com má vontade ou perseguição, inclusive por alguns amigos meus. Imagina criticar Lula... Até agora, eu pergunto, tudo de ruim ou qualquer desastre ou crise de pequena monta que aconteceu neste governo foi culpa de quem? Do próprio PT, ora, que age como se estivesse no secundário. Imagine se a atual oposição (PFL, PSDB, PMDB ?!, etc.) agisse como o PT fazia enquanto oposição.

A minha opinião é que a administração de Lula é confusa, desorganizada, sem idéias claras e tem uma execução deficiente. Cadê o Fome Zero? Recentemente, o IBGE divulgou que os ricos estão ficando mais ricos no Brasil e os pobres mais pobres. Cerca de 57 milhões de brasileiros “vivem” com meio salário mínimo. Aliás, em matéria de conversa mole pra boi dormir, é surpreendente as ações de marketing do partido. Elas deixam as propagandas do PFL de ACM aqui na Bahia, que nós baianos convivemos há muito tempo, como algo para ser visto em colégio de moças recatadas: recentemente vi uma propaganda sobre a reforma agrária, com as pessoas (atores) felizes e satisfeitas com a terra ganha do governo. Dá para acreditar nisso?

Já estou envergonhado pelo esforço surpreendente do governo em barrar a CPI dos Correios. Me pareceu muito esquisito. Alguém acredita que Roberto Jéferson não participava daquilo? E aí vem Lula e diz que dá cheque em branco para seus aliados. Pois bem, o Roberto preencheu o cheque e o que se vê agora é um esgoto a céu aberto. Está sendo noticiado que os congressistas aliados ao governo recebiam uma mesada de R$30 mil por mês para aprovar projetos.

- Eu sou honesto!

A prática durou até o início deste ano, quando Lula soube e “chorou”. Mas já tinham conhecimento do mensalão os ministros, entre outros, José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci (Fazenda) e Ciro Gomes (Desenvolvimento Regional). O esquema beneficiaria principalmente o PP e o PL. Pois, em função da torneira fechada, o governo federal passou, então, a enfrentar dificuldades com a base aliada no Congresso. Veja entrevista do Jéferson na Folha sobre a “mesada” aqui.

Bem... não sei se Lula como presidente de um país de 170 milhões de pessoas senta a bunda na cadeira para despachar, para ler alguma coisa. Afinal, ele já afirmou que não gosta de ler, mas que vê na leitura a sua importância. Na época em que eu votei nele, via nisso um pormenor, afinal achava que ele saberia liderar, em decorrência de sua experiência, pessoas capacitadas para pastas específicas. Sabemos que muitas vezes pessoas letradas não têm o verbo necessário para a liderança. Mas agora vejo que foi um erro.

Mais um bem. Bem... cabeças serão cortadas, naturalmente. Espero que o PT não se mate nem intimide ninguém a deixar o partido, como fez com Suplicy por ter votado a favor da CPI dos Correios. Triste isso... muito triste, porque ainda são muito claras as cenas que vi logo após as eleições em 2004: pessoas comemorando, felizes, com a chegada do operário semi-alfabetizado ao poder central. Acredito que nunca vou me esquecer daqueles dias, até porque me sinto traído. E eu tenho muita raiva de ser enganado. A forma como o governo vai agir nesse episódio determinará o meu voto em 2006. Se eu ainda estiver nesse paisinho miserável. Provavelmente estarei.
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