segunda-feira, 31 de janeiro de 2005

Momento diabetes

É interessante o estado que as coisas tomam quando alguém especial toma lugar na sua vida. Ainda mais se isso acontecer por conta de uma série de boas e más coincidências, o que torna a história mais cheia de detalhes e signos. Até a poeira assentar, o carnaval de emoções se organizar, e a maré de pensamentos incertos atingir um nível aceitável, eu não sou mais eu. Estou mutante, ator e platéia deste novo ato. Preciso de insulina, urgente! E o carnaval, heim? O que fazer?

Lovin U, Alicia Keys

If I gave you forever
Would you take care of me...
Would you take me for granted
Runaway

Chorus:
Those wonderful things that you do
they got me feelin´ in love with you
In love with you
And lovin´ you is easy
Comes so naturally
And lovin´ you is easy
Comes so naturally


I would give you laughter
Oh! so much more than that
Oh! yes I would,
Anything you´re after
I would climb the highest mountain
To bring it back
you better believe it

Chorus

I will stay by your side
Whether I'm wrong whether I'm right
Oooh, it's incredible
With you I intend to spend the rest of my life
Yeah, yeah, yeah

Chorus

sexta-feira, 28 de janeiro de 2005

Os bicões

Já está em fase de conclusão a mega-estrutura do carnaval de EsseEsseÁ, maior festa de rua do mundo. Os circuitos onde a folia acontece já estão ficando com cara de “palco”, com camarotes por tudo quanto é lado. Por falar nisso, os camarotes se tornaram, sem dúvida, a menina dos olhos dos poderosos empresários da folia. O de Daniela Mercury, mais tradicional, é sem dúvida um dos mais disputados. Comida, bebida e mídia de graça. Mas só entra quem tem convitão. Outro é o Expresso 2222, que já foi comandado pelo ministro Gilberto Gil, entre outros.

Por causa da predominância dos camarotes e importância adquirida por eles nos últimos anos pela presença de artistas e VIPS, tem muita gente que está ficando furiosa com certas restrições. Entre elas, estão os jornalistas. Os avisos de credenciamento de profissionais para a cobertura do Carnaval em camarotes vêm acompanhados de observações, no mínimo, indelicadas, do tipo: “O credenciamento não dá direito à permanência por todo o tempo” e estabelecendo o período que o profissional deve ficar no local. Em síntese, dizem que o repórter e o fotógrafo devem chegar, fotografar e sair. Caso contrário, serão convidados a fazê-lo, pois algum segurança chegará avisando que “acabou o seu tempo”.

Recentemente, no ensaio do Araketu, um dos mais badalados da cidade, uma repórter do jornal A TARDE, o maior e o mais importante do Estado, foi “convidada” a se retirar do camarote, uma vez que Ivete Sangalo não queria ser “incomodada” por “ninguém”. No entanto, ficaram lá "incomodando" Ivete uma repórter da VEJA e uma equipe de televisão.

Com essas atitudes, os produtores e empresários de artistas estão encarando os profissionais como bicões, que querem a todo custo permanecer em algum camarote venerando (!?) fulano ou cicrano, ou comendo e bebendo de graça. Ou então, vêem os jornalistas como entregador de pizza, que chegam, entregam o produto, recebem uma gorjeta e saem.

A atitude é, no mínimo, contraditória e indelicada, uma vez que o sucesso de todos esses empreendimentos está baseado na divulgação pela mídia. Não é por acaso que as “estrelas” globais pipocam como gremlins em EsseEsseÁ no período do carnaval. Aliás, já está ficando mais que nonsense essa história de artista tratar jornalista como um "intruso". Pode?

Bonus Track:
Celebridade que se preze, estando na “terra da felicidade”, dirá invariavelmente (não nessa ordem): “eu adoro a Bahia” (muito louco), “eu amo de paixão os baianos” (bêbado), “essa terra é mágica” (chapado), “essa terra tem uma energia muito boa” (bêbado), “sempre que posso dou um pulinho aqui” (chapado), “com certeza, estou adorando o carnaval” (fazendo coreografia e bêbado), "hein?! não estou te ouvindooooo" (bêbado)etc.

terça-feira, 25 de janeiro de 2005

Reflexão # 11

EsseEsseÁ é uma cidade completamente diferente em Janeiro, como abordei no post "EsseEsseÁ em Chamas", de 18/01. A psique da maioria dos soteropolitanos se desintegra no calor do verão e com a proximidade do Carnaval. Porém, não é só a libido que cresce com a sensualidade forte e avassaladora que as ruas exalam, mas também os maus pensamentos e os maus sentimentos. E esses levam, evidentemente, a maus comportamentos, o tipo no qual os baianos da capital estão cada vez mais especializados. Tudo é feito na moita, na surdina. Os relacionamentos se rompem e, pior, pessoas que não deviam andar juntas em hipótese alguma se reúnem. É revoltante. A única coisa que me faz me sentir bem é a certeza de que isso não acontece apenas por aqui.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2005

Festival

Se é de conhecimento geral que EsseEsseÁ é um oásis para empresas e artistas ganharem dinheiro e publicidade no verão, é notório que a “terra da felicidade” não dispõe de casas de espetáculo decentes para eventos de grande porte. Em poucas palavras, aqui infra-estrutura não dá as caras, com raras exceções. Com isso, uma receita que está fazendo sucesso há algum tempo é a transformação de lugares “armengados” (armazéns, depósitos, parques antigos e/ou fechados), de cimento ou terra batida, em espaços “armengados” da moda.

Eu não vou nem falar nos ensaios caça-níqueis que antecedem o carnaval. (É bom lembrar que eu não tenho nada contra quem vai). Mas, o maior evento desse tipo (caça-níquel), sem dúvida, é o Festival de Verão de Salvador, cuja divulgação principal ficou a cargo das empresas da Rede Bahia (TV Bahia – afiliada da Globo, com maior audiência do Estado, jornal Correio da Bahia, rádios Tropical SAT e Globo FM, site ibahia, etc). Foi quase impossível não ter se contaminado com a “importância” do evento e as atrações (nenhuma novidade) com o bombardeio. Em um mesmo caderno do jornal do grupo, só para se ter uma idéia, era possível ver por esses dias propaganda do festival em várias partes do mesmo, às vezes em folha dupla, em letras garrafais. Isso sem falar na Globo.

Com o público variando entre 30 e 60 mil pessoas, a depender do dia (e da fonte de informação), o divertido foram os nomes dados aos espaços do Festival em sua sétima edição, como as pérolas Arena Vivo Motomix ou Tenda Skol Tropical Beats. Fico imaginando o diálogo: (A) - Onde te encontro? (B) – Lá no Barracão Conta Universitária Bradesco. E, vc? (A)– No Camarote Baladas Pepsi. É tudo essa “nova” tendência do marketing, não é mesmo?

Outro detalhe muito legal animador de se ver: as pessoas correndo atrás de tudo que é distribuído de graça pelas empresas instaladas ao longo do Parque de Exposições. Filas para fazer transformação no cabelo, tatuagem, fitinhas do Bonfim, amostra de shampoo, etc. Ou seja, é a velha máxima “de graça até injeção na testa”. Medo.

Mais Axé!
O ritmo dominou, naturalmente, a grade do Festival. Os alternativos (!?) lamentaram (!?) o pouco caso que fizeram com outros gêneros (!?). Por falar nisso, as estrelas do Axé também estão bombando as propagandas neste verão. Estão em toda parte. Pelo menos na TV baiana se vê em um mesmo intervalo comercial Daniela Mercury (Credicard/Ministério da Saúde), Ivete Sangalo (Schin), Araketu(Brahma), Chiclete com Banana (TIM), Carlinhos Brown (Skol), entre outros. Além disso, o governo da Bahia juntou algumas personalidades e artistas (de Axé) para fazer um videoclipe para incrementar o turismo do Estado. Por sinal, bem fofa. “Nesse verão não quero ver você à toa. Vem pra Bahia, que a Bahia é uma boa”, é o slogan.

Ai, meu pai Oxalá, somos tão fofos, não?

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

Prepare-se: 20 anos de Axé!

Ou: Agoraaaaaa: bate na palma da mão! Sobe! Desce! Pro lado! Pro outro! Pula! Requebra! Sai do chão! Todo mundo comigo! Ae ae ae ae, ei ei ei ei, ô ô ô ô ô ô ô ô ô.

Começou ontem o 7º Festival de Verão de Salvador, considerado um dos mais importantes do país (pelo menos é o que dizem). No meio dos 74 shows, que vão de Maria Rita a Chiclete com Banana, de IRA! a Felipe Dylon, de Roupa Nova a Psirico, (atrações super importantes) uma me chamou a atenção: a apresentação da Orquestra Brasileira de Axé, que fez uma homenagem a axé music. Para quem não sabe, a axé music, ritmo que mudou a fase musical da Bahia e “encantou” o Brasil e o mundo está completando duas décadas. E o evento foi uma espécie de pontapé inicial para as comemorações. Participaram da celebração artistas que protagonizaram a cena ao longo desse tempo, como os eternos Luiz “Fricote” Caldas e Sarajane “Abre a rodinha”.

Tieta, considerado o pai da axé, e Olodum, xodó dos gringos nos anos 80

Também é bom que se diga que a axé music não se trata exatamente de um gênero ou movimento musical, mas uma rotulação mercadológica dada inicialmente a uma série de artistas de EsseEsseÁ que faziam uma fusão de ritmos nordestinos, caribenhos e africanos com embalagem pop-rock e tomaram as paradas de sucessos do Brasil inteiro a partir de 1992. O axé, saudação religiosa usada no candomblé que significa energia positiva, foi descaradamente anexada à palavra music por um jornalista baiano para formar um termo que designaria pejorativamente aquela música dançante com aspirações internacionais. Depois que Daniela Mercury chegou ao Sudeste parando a Avenida Paulista e estourando nacionalmente com o disco Canto da Cidade, tornando-se a queridinha da Rede Globo, tudo o mais que veio de Salvador começou a ser chamado de axé music.

Porém, não se esqueçam, antes disso outros artistas baianos já estavam na parada nacional, como Olodum (“descoberto” pelo cantor e compositor americano Paul Simon), Banda Reflexus (que era uma das minhas bandas preferidas!), Luiz “Fricote” Caldas e Sarajane “Abre a rodinha” (um dos grandes nomes da época) já eram figuras cativas de programas de televisão, principalmente do Chacrinha. Depois, vieram Lazzo, Cid “Ilariê” Guerreiro (xodó de Xuxa), Chiclete com Banana e Margareth Menezes, a primeira a engatilhar carreira internacional, com a benção do líder da banda americana de rock Talking Heads, David Byrne.

Daniela e Ivete: as duas maiores estrelas da axé music. Axé?

Entre 92 e 98, o Brasil era Carnaval e dançava com as coreografias criadas na folia baiana, como o fricote, a dança da galinha, do crocodilo, do requebra, entre outras. Nessa época, vários artistas, como Netinho, Chiclete com Banana, Banda Eva (Ivete Sangalo), Cheiro de Amor (Carla Visi), Timbalada, Ara Ketu, Terra Samba, Ricardo Chaves e Banda Mel decidiram apostar todas as suas fichas em trabalhos Ao Vivo. Com o sucesso, a axé music acabou vivendo o seu grande boom comercial e de penetração na mídia, deixando de ser uma simples música regional de Carnaval para tornar-se um dos principais ritmos do país, apesar de todo o preconceito da mídia sul maravilha.

Nesse sentido, o preconceito e o sucesso aumentaram ainda mais com a fase bunda music, inaugurada pelo É o tchan (ex-Gera Samba), com ênfase nas coreografias libidinosas em detrimento da música (que ainda assim trazia uma sólida base de samba de roda) e letras. No entanto, a superexposição nos meios de comunicação e as pressões da indústria levaram o axé ao esgotamento artístico e comercial, alem de outros pequenos detalhes como pirataria. Desde 1999 que o gênero vem experimentando um significativo declínio nas vendagens de discos, como toda a indústria fonográfica, ressalte-se.

Mas, dá para dizer que o axé acabou quando a cantora que mais vende neste país atualmente tem esse sangue na veia? A rainha da axé, Daniela Mercury, que está produzindo um video-documentário para comemorar os 20 anos do ritmo Music, disse em entrevista a uma rádio de EsseEsseÁ que “o axé continua forte no Brasil e o carnaval da Bahia está mais badalado do que nunca e cada dia mais charmoso”. Enfim...

“A rainha do axé sou eu. Quero meu título de volta”

Por falar nisso, tem gente reclamando o posto de rainha do Axé e está querendo reconquistar o sucesso que teve no passado. Sarajane “Abre a Rodinha”, em entrevista publicada no jornal A TARDE de hoje, jogou lama no ventilador: “Nunca liguei para títulos, fui rainha do axé, da lambada, de tudo. Mas hoje vejo que esse título é muito importante. Daniela é muito competente, fantástica como artista, mas a rainha do axé sou eu e eu quero meu título de volta”, disse. Ao ser questionada como se sente por ter saído da mídia, ela diz emocionada: “Ser uma estrela internacional como eu era, ter disco de platina, diamante, ouro. Fui a maior vendagem da Emi Odeon, vendi 2,5 milhões cópias e ter saído da mídia foi difícil. É muito difícil ficar no ponto de ônibus quando tive carro de luxo, motorista particular, segurança tudo à disposição. Mas o mais difícil foi o Carlinhos Brown chegar para mim é dizer o que disse"

E o que o Brown disse?, pergunta a repórter: “Ele foi o produtor do meu discdo República Latina. A gravadora Abril me deu 800 cópias, ainda tenho 600. Chegei para Brown e disse por telefone: tenho 600 cópias do disco que você produziu no quarto escuro, me ajude! Ele disse para eu fazer como Agnaldo Timóteo: vá vender na sinaleira. Foi difícil ouvir como ele me disse: você está feia, velha e gorda. É muito difícil você pedir o telefone de um amigo que comia na sua casa e não poder ter

É... digamos, singelamente, que muita água ainda vai brotar dessa fonte.

terça-feira, 18 de janeiro de 2005

EsseEsseÁ em chamas

É... Não tem jeito. Chega o Verão e com ele vem, inevitavelmente, a necessidade de se largar para novas (ou outras) relações. Fortuitas, diga-se. O que cá pra nós não é por acaso: nesta época as pessoas estão mais dispostas e, por que não? mais disponíveis ao encontro. Ficam em permanente estado de alerta, rendidas ao desejo. No Verão, tudo se erotiza (ou é erotizado) e, a cada esquina, o mais simples olhar torna-se lascivo, e cada gesto parece ser elaborado num único propósito: o de atrair o outro.

As ruas de EsseEsseÁ, por exemplo, só para ficar em casa, ganham uma sensualidade forte e avassaladora. Sei, sei... o ano todo é assim, mas a questão é que no verão isso é maximizado. Janeiro é o mês dessa cidade e, pelo menos até o Carnaval, a capital da Bahia é um palco ideal para se amar em série: muitos turistas, belas praias, festas (muitas festas), além, é claro, de se freqüentar diversos pontos de encontro que favorecem a proximidade das pessoas, o que é crucial para casos e mais casos.
- Benzinho, vou ali pegar uma latinha de cerveja, tá?

Agora, o que é de se esperar é que o resultado dessa exposição seja a urgência do encontro efêmero. “Quero você agora”, é o que se ouve numa festa, na praia, num barzinho... No entanto, é preciso estar consciente que o dia seguinte provavelmente não existirá. E o próximo encontro será uma incógnita. Não é besteira! Ninguém cujo cérebro ainda não tenha sido carbonizado pelo sol tem a certeza de que o “eu adoro você” ou “estou apaixonado por você” (e variáveis) ditos no calor do verão são tão palpáveis quanto o “me liga amanhã!”. A lembrança do rosto ou nome da amada (o) é, ha!, uma tarefa digna de Hércules. Tudo, é claro, se o desejo tiver sido saciado.

Pois bem, se algum desavisado quiser sobreviver no verão soteropolitano, uma dica: depois de ter... digamos... se “relacionado” num desses eventos lúdicos típicos da terrinha, nunca faça a linha egípcia, aquela em que você olha pra frente e não vê quem está do lado, seguindo sempre em frente, numa típica pintura bidimensional. Sem querer, acabou de arranjar um inimigo.

Saiba: aqui deve-se saber dar o fora, com classe, se não quiser ter o filme queimado durante todo resto do ano ou toda a vida. E não caia nunca, mas nunca mesmo, na armadilha de dizer “você é o amor da minha vida”. Por quê? Porque EsseEsseÁ é uma praça. A probabilidade de você se bater novamente com a pessoa em qualquer lugar da cidade (barzinho, ensaio de bloco, praia, festival, etc...) é muito, muito grande, até mesmo no Carnaval, onde circulam pelas ruas mais de um milhão de pessoas. Acredite em mim. É impressionante!

Agora vem o pior: caso você não se bata com a pessoa, “alguém” sempre vai te ver em algum lugar. Esse é o mais comum. Alguns chegam, inclusive, a imaginar a sua presença e seu envolvimento com outras pessoas mesmo você não estando lá. Não importa. É verão e tudo é possível.

E, por falar nas intrigas, as pessoas casadas ou que estão namorando levam consigo agora em janeiro um grande problema para resolver, ou, por que não dizer, o primeiro grande obstáculo da relação: como deixar a cara-metade ir comprar qualquer coisa ali na esquina sozinha. Todo mundo sabe que, ao contrário de Brasília, EsseEsseÁ é cheia de esquinas e cheia de gente truqueira que gosta de ir fazer compras no meio da multidão. Por isso não se espante se todo mundo disser que está solteiro e apaixonado. É quase verdade.